ONZE. Quer Me Dar Algo?

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O homem se virou assim que Medeia o tocou. Ele tinha nariz torto e lábios finos demais, secos demais, da cor marrom.

- Eu sinto muito. Nossa. Que vergonha. Eu pensei que você era alguém que eu conheço. Eu... – Medeia se explicava.

- Calma, moça. Está tudo bem. Eu trabalho aqui. Sou coveiro. Você precisa de ajuda? – o homem suado e forte a perguntou e só agora Medeia podia perceber que ele segurava uma pá, cavava uma nova cova naquele momento.

- Não. Obrigada. Realmente obrigada – ela disse e foi embora o mais rápido possível.

- Eu estou enlouquecendo, Noemi – confessava Medeia para a sua melhor amiga mais tarde ao telefone.

- O que importa não é estar ciente de que você está com um pé num hospício, mas sim saber o que vai fazer a respeito – Noemi a disse.

- Sim, sim, e eu já decidi.

- O quê? Não me mate lentamente de ansiedade. Diga.

- Eu vou retornar ao campo, a zona rural. Eu vou retornar para a cidadezinha onde eu conheci Joel, onde eu perdi toda a minha pequena família. Depois de um ano...

- Você está mesmo louca. O que vai fazer de volta aquele buraco onde o diabo perdeu as calças? O que tem lá pra você encontrar? Angústia? Dor?

- Respostas. Eu vou perguntar para os moradores sobre o Joel, eu vou entender a história dele, o seu passado.

- Pra quê, caramba?!

- Pra me libertar dele. Eu vou finalmente entender que é esse homem de verdade e só então eu terei paz e estarei livre para esquecê-lo para sempre.

- Eu não concordo com nada disso.

- Ah, cala essa sua boca, Noemi. Quando é que você concorda com alguma coisa que eu decido? Hein? Lembra quando eu disse que me mudaria para o campo? Por acaso você foi a favor?

- Por acaso a ideia se mostrou boa? Teu marido enfiou um par de chifres em você com uma galinhazinha roceira, a tua filha te meteu uma faca e você se envolveu em uma relação sexual com um jardineiro que te bagunçou para sempre. Eu estava errada de não concordar com a sua ida? Jura? Olha, deixa que eu resume essa conversa dizendo só uma última coisa: deixe as suas bolsas de marca como herança para mim quando você for internada em um hospício. Elas são muito caras e têm cores bonitas – Noemi concluiu.

Na noite seguinte, Simão transava com Medeia. Ele tentava. Deitado sobre ela, Simão esfregava o seu pênis desesperadamente, tentando deixá-lo ereto, mas como sempre penetrava Medeia ainda muito flácido e ela só se sentia incomodada e entediada. Desejava que ele se afastasse logo.

- Foi muito bom. Como é mesmo que os moleques falam? Foi "foda". Não foi? – Simão a perguntava depois, fumando.

- Eu estou indo embora – foi o que Medeia disse, no entanto.

- O quê?!

- Para o campo. Eu não sei quando eu volto. Eu tenho assuntos a resolver por lá. Tempo indeterminado. Você é um homem centrado, com expectativas sólidas e eu não estou aqui para brincadeira, para fazer ninguém de trouxa. Essa nunca fui eu, então é melhor a gente terminar tudo por aqui – Medeia foi direta.

- Não. Não. Eu amo você.

- Ah, Simão, toma vergonha nessa tua cara. "Eu amo você"? Você diz isso? Jura? Vive criticando o comportamento dos moleques abobalhados e agora se porta como um? O que é amor? O que é isso? Outro dia mesmo você disse com todas as letras "Eu amo a minha coleção de carros importados" e hoje o alvo do seu amor mudou, sou eu.

O Jardineiro AmadoWhere stories live. Discover now