DEZESSEIS. Estava Se Divertindo?

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- ELE É O TEU PAI! – Medeia então gritou e até acordou o bebê. – Isadora, você é doente.

- Ah, mamãe. Toma vergonha nessa sua fuça, nessa tua cara de bicho, de animal. Percebe como você é injusta? Vive me acusando de ser a mentirosa... Quando é você. A mentirosa sempre foi você. O que você acha que eu sou? Ainda uma garotinha ingênua? Errou mamãe. Errou feio. Eu sou mãe, eu sou mulher e agora conhecedora de toda a verdade. Quer saber como tudo aconteceu? Acomode-se aí na sua "cama cativeiro" que eu conto.

Isadora passou o bebê para os braços do pai e sentou-se à beira da cama, perto da mãe que continuava amarrada nas extremidades da cama de ferro daquele jeito.

- Depois que eu caí do alto daquele precipício abraçada com Joel e fui parar naquele rio, a correnteza levou o seu jardineiro pirocudo para um lado e me arrastou na outra direção. Eu fui jogada naquela parte lamacenta da margem e quem me encontrou? O seu ex-marido. Ele nunca foi para muito longe como você acreditava, como eu acreditava. O tempo todo ele continuou por aqui.

- PARA, para de dizer "ex-marido". Diz PAI. Ele é o seu pai, sua doente. Você nunca deveria ter se aproximado dele desse jeito, tido intimidade, tido... Um filho! Isso é...

- Por acaso além de burra, você é surda também? Eu não acabei de dizer que sei de toda a verdade agora? Poucos dias depois que ele me encontrou e cuidava para que eu me recuperasse, ele me contou tudo. Ele não é o meu pai. Um jovenzinho ainda com espinhas na cara pra quem você abriu as suas pernas no colegial... Esse sim é o meu pai. Não é mesmo, Dona Medeia, a safada?

Sim. Aquela era a verdade escondida de Isadora por todos aqueles anos, então por alguns segundos Medeia apenas se manteve em silêncio, já que não podia negar.

- Independente disso, Isadora. Foi esse homem que viu você crescer. Foi esse homem a quem você chamou de pai desde que se entende por gente, que te ensinou o que você sabe. O sangue dele não corre nas tuas veias, tudo bem, mas ele é o seu pai para todos os efeitos. Você precisa entender que...

- Já chega de falar, puta! – Neto por fim se pronunciou.

Isadora voltou para perto dele e tomou o bebê em seus braços novamente.

- Você estava se divertindo, não estava? Por todo esse tempo – Neto disse. – Dando para aquele jardineiro. E quanto a mim? No papel ainda somos casados, sua imunda. Como você acha que eu me senti enquanto você se arreganhava toda para um cara mais novo, musculoso, com as mãos cheias de lama preta de jardim enquanto todos os papéis ainda dizem que somos esposa e marido?

- Como você se sentiu? COMO VOCÊ SE SENTIU? – E Medeia teve uma nervosa crise de riso. Poderosas gargalhadas. – Você é tão doente da cabeça quanto a Isadora? É por isso que ficaram atraídos um pelo outro? Quer mesmo falar sobre sentimentos? E como você acha que EU me senti quando você me traiu primeiro com a tal Lily com cara de rameira loira de beira de estrada? Então é assim que funciona aí dentro dessa sua cabecinha podre e doentia? Você me trai e eu tenho que chorar e engolir. Mas se eu traio você com um homem gostoso de verdade como você nunca foi, daí você atira contra mim, capota o meu carro, tenta me afogar num lago. É assim?

- Só espera, minha esposinha. Fica mais um tempo aí e espera porque eu estou com idéias de muitas coisas legais pra fazer com você – Neto disse e saiu levando Isadora e o seu bebê com ele.

- Neto, volta aqui seu desgraçado. NETO! NETO! ISADORA! – Medeia gritava se sacudindo sobre a cama, amarrada, nem perto de conseguir se libertar.

Depois que Joel retornou para dentro da cabana após recolher as suas roupas no varal e não encontrou mais Medeia, ele passou as próximas horas gritando por seu nome e procurando nos arredores por ela em desespero e sem sucesso. Quando a noite caiu, Joel decidiu ir para o centro da cidadezinha à procura de Medeia. E que surpresa foi quando os moradores finalmente deram uma boa olhada em Joel depois de mais de um ano.

O Jardineiro AmadoKde žijí příběhy. Začni objevovat