TREZE. Como Você Entrou?

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- Eu conheço a senhora? – Joel insistiu confuso como um menino indefeso.

- Porra, para de me chamar de SENHORA! Você... – Medeia iniciou gritando, mas então respirou fundo.

Em questão de segundos Medeia entrou em um acordo consigo mesma, foi inteligente. Se o preço que Joel teve que pagar para sobreviver após aquela queda de grande altura no rio bravo foi ter perda total de memória, ela iria se adaptar a isso. Afinal, e se fosse o que ela precisava? Um recomeço. A chance que quase ninguém recebe de recomeçar do zero podendo fazer tudo diferente e direito por uma segunda vez.

- Desculpe – então Medeia recomeçou. - Eu estou nervosa e não é com você, é comigo mesma. Eu não tenho para onde ir, não tenho rumo, por isso...

- Que enorme coincidência. Eu também vivo sozinho por aqui.

- Você tem vivido sozinho no meio dessa floresta por todo esse tempo?

- Qual é o seu nome, afinal?

- Delphine – Medeia mentiu o seu nome usando um que ouviu uma vez num filme antigo que ela gostou muito. Por que não? Joel não se lembrava mesmo.

- Olha Delphine, você parece ser uma mulher do bem, então eu vou confessar algo. Eu não sei de onde eu vim, eu não sei quem eu sou.

- Você não sabe ou não se lembra? – Medeia provocou.

- A minha primeira lembrança foi acordar à beira do rio, um corte profundo aberto na minha cintura. Eu tratei o ferimento com ervas da mata, eu encontrei uma cabana abandonada e a transformei no meu lar. Eu cacei minha comida... Eu sobrevivi. E eu não lembro de nada antes disso.

- Bem, já que somos duas almas sem rumo, sem destino, eu poderia... Você se importaria se eu ficasse na sua companhia por um tempo? Quero dizer...

- Eu adoraria, Delphine. É muito solitário às vezes, sabia? Quando o céu pesa em estrelas e não existe ninguém ao meu lado.

Medeia corou, ela combateu as lágrimas e simplesmente o seguiu. Os dois andaram floresta à dentro, até que chegaram à beira do rio de correnteza selvagem onde Joel e Isadora caíram de grande altura um ano atrás.

- É aqui, não é? É de onde nasce as suas primeiras lembranças. Esse rio?

E Joel apenas concordou balançando a cabeça.

- Entre nele. Tome um banho.

- Não, não – E Joel se afastou andando de costas como um felino que teme a água – Eu posso não lembrar do que me fez parar dentro desse rio com um corte fundo na minha cintura, mas eu tenho o meu sentimento de que foi a pior coisa que já me aconteceu. Eu... Eu não toquei essa água desde então e nem pretendo.

- Desafie a si mesmo – Medeia incentivou.

- Vamos, Delphine. Vamos para casa.

Medeia ficou muito impressionada com a cabana. Tinha uma lareira que funcionava, bom colchão feito de amarração de galhos, peles de coiote, de urso que serviam de tapetes e pesados cobertores.

- Você fez tudo isso?

- Sim. E eu cultivei alguns arbustos frutíferos lá atrás. Eu acho que eu levo jeito com plantas.

- Eu aposto que você leva sim – Medeia disse rindo ironicamente por dentro.

À noite Joel dormia totalmente nu apenas com a pele de urso o cobrindo. Medeia deitava do outro lado do cômodo. Ela não conseguia ter um cochilo sequer. Ela levantou, foi até ele e retirou a pele pesada de animal que escondia o seu corpo. Medeia tremia, agora salivava. Ela se ajoelhou. Tocou a coxa grossa dele e Joel nem se mexeu em seu sono profundo. Medeia correu seu dedo indicador pela boca dele, alisou seu peitoral, segurou de leve o seu pênis, seus testículos. Então o cobriu novamente.

O Jardineiro AmadoTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon