Pontapé

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Regina

Depois que falei com Emma na faculdade, senti a esperança crescendo dentro de mim, mesmo que lentamente. Um pontapé era tudo o que eu precisava para ter um primeiro contato com aquela família e iniciar o processo de resolução do meu problema. Eu estava feliz e era tão evidente que até o Robin notou.

- Viu um passarinho verde?

Ele perguntou assim que entrei em casa. Pensei em estender meus pensamentos sobre os motivos dele ainda falar comigo, mas preferi evitar a fadiga.

- Passarinho não. Talvez flores. – respondi simplesmente

- Hum! Não devo me preocupar com a minha esposinha, né?! Ou devo?

- Preocupada estou eu de te ver em casa. Que é, caiu da carrocinha hoje?

- Muito engraçado, Regina. Essa aqui também é a minha casa, esqueceu? – ele cutucou

- Te vejo tão pouco por aqui que acabo me esquecendo deste pequeno grande detalhe. Agora me dê licença, porque você já estragou meus planos de dormir sem dor de cabeça. Vou tomar uma ducha para ver se essa sensação ruim de te ver melhora. – disse firme e seca

- Você é tão venenosa que se uma cobra te picar, ela que morre, Regina.

Segui para o banheiro ignorando a tentativa falha do Robin de me balançar e acabei demorando por lá. Quando voltei ele já estava dormindo no que era para ser a nossa cama. Olhei com um pouco de aversão para aquele homem enorme que provavelmente não conhecia prestobarba ou cera quente e decidi me acomodar no quarto de visitas. Por mais que ele se esforçasse, meu sorriso alcançava o meu interior e não seria missão fácil tirá-lo dali.

Acordei com um barulho que parecia estrondoso entrando pelos meus ouvidos, e com o susto acabei atendendo o celular sem ver quem me ligava ou que horas eram.

- Alô? – disse sonolenta

- Oh, amiga, me desculpa por te acordar. Preciso da sua ajuda.

Era Zelena me fazendo, num impulso, levantar.

- Não precisa nunca me pedir desculpas. Pode falar. Quantas horas?

- São 5:00 am. Você normalmente é tão preocupada que achei que acordava bem cedo também – soltou uma risada tímida – Mas não foi sobre o seu sono que liguei. Eu tive um problema com meus rins logo hoje que ia ter um debate valendo nota com minha turma de primeiro período. Sei que é um pedido descabido, mas também sei que você não dá aula nas sextas. Será que poderia só assistir pra mim? Eles não vão me perdoar se verem que tiveram que estudar e eu não for. Por favor, por favor, por favor!

- Caramba, Zel! Eu achei que era algo de vida ou morte pelo nervosismo da sua voz – ri de alívio – Claro que eu posso te substituir hoje. Você só precisa me passar as coordenadas do debate e deixar comigo. Nós damos a mesma matéria mesmo... E ah, não vou ter que falar de novo sobre esses seus rins, né?

Zelena tinha pedra nos rins desde que era um feijãozinho, mas acabava que só lembrava deles quando a dor atacava e isso me deixava irritada sempre. Ela deu alguma desculpa, como sempre, me agradeceu, explicou tudo e desligou. Por mais que eu quisesse passar o dia ensaiando um mini discurso sobre a importância do Vestibular Social para convencer os Guimarães Azevedo a me ajudar, não podia negar um favor tão simples para a minha melhor amiga.

Desisti do resto do meu sono, já que a aula não demoraria tantas horas assim para começar e fui estudar um pouco sobre o tema do debate. Falar sobre livros, revistas, propagandas e jornais impressos versus on-line não seria tão complicado. Depois, vesti-me como sempre e segui para a faculdade. Não tenho a mínima ideia sobre o paradeiro do Robin, mas provavelmente tinha o deixado dormindo, já que evitar um café da manhã em conjunto era melhor para o meu humor matinal.

SoulMate #FINALIZADAWhere stories live. Discover now