26. Ela se mantém ao meu lado

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Por Camila

Miami, 09 de Março de 2016

"Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa." - O Pequeno Príncipe.


Era a quinta ou sexta vez que eu apertava aquele botão amarelo posicionado estrategicamente ao lado da cama tão confortável e macia, eu podia jurar que estava no céu, luzes fluorescentes invadiam minha visão e ofuscavam tudo que se passava a mais de trinta centímetros de distância, não permitindo que eu enxergassem com nitidez. Muitas vozes, pessoas falavam ao mesmo tempo, minha cabeça estava fervendo e sempre que eu tentava me mover, um grande incomodo era sentido no meu peito, eu estava entubada.

— Bom dia, Srta Cabello. Que bom que acordou! – Uma voz feminina ecoou no ambiente, era doce e calma. — Eu sou a enfermeira Melissa Sparks. Você consegue me entender?

Com dificuldade assenti e tentei passar o olhar pelo restante daquele cômodo, realmente as imagens que eram vistas não passavam ainda de borrões nas tonalidades azul e branco, nada a minha frente estava em ordem e quanto mais eu me esforçava a enxergar, mais minha cabeça doía. Pela denominação da que acabara de entrar e pelo forte cheiro de éter misturado com iodo, que só contribuíam para aumentar ainda mais minha enxaqueca, eu descobrira, estava em um hospital.

— Camila... – Ao longe eu podia escutar aquela voz, era um pouco rouca, arrastada, me soava familiar. — Camila... Acorde!

Meus ombros foram apertados firmemente e meu corpo chacoalhado, em um súbito movimento me senti sendo lançada em um precipício, eu podia sentir o vento bater em meu corpo enquanto eu rasgava o ar em direção ao solo, tudo que estava a minha frente seria as últimas imagens que eu levaria comigo, nada mais existiria depois dali, a matéria que eu julgava me pertencer, não se resumiria muito mais do que apenas o bagaço de um alguém que tivera seu fim. Não restando nenhuma outra opção, entreguei o que ainda restava comigo, o impacto viria a seguir.

— Camila! – A mesma voz agora atingia meu rosto de frente, sua origem já não era mais desconhecida, ela estava ali, me encarando com o par de olhos esverdeados mais lindos que eu já vira na vida, estavam aflitos e tinha uma portadora tão bela quanto sua intensidade. — Você está encharcada, e tremendo! Está tudo bem?!

Lauren me olhava sentada na borda da cama, um de seus braços estava ao lado de meu quadril sustentando seu corpo enquanto sua outra mão era passada sobre minha testa, eu podia sentir a respiração sair com dificuldade de meu peito, não consegui a encarar, apenas sentei sobre o colchão, abracei minhas pernas com força e encaixei o rosto sobre os joelhos, não fui capaz de proferir outra coisa a não ser os soluços e lágrimas que banhavam meu rosto.

— Ei, foi apenas um pesadelo. Fique calma, você não está sozinha desta vez. Eu estou aqui... – Uma de suas mãos repousou sobre minha cabeça e um carinho suave foi feito entre os fios bagunçados de meu cabelo. — Vem cá...

Senti seu corpo encostar ao lado direito do meu, ela havia se arrastado até a cabeceira da cama onde eu estava, envolveu seus braços sobre mim e me puxou para ela, um beijo foi depositado no topo de minha cabeça e em silencio agora eu era balançada levemente, como uma mãe costumava fazer na intenção de acalentar o filho. Ficamos assim até que a última lágrima pudesse sair de seu canal, nenhuma palavra foi dita porém eu consegui receber o que, talvez inconscientemente, ela estava tentando me passar. Agora o peso, que antes eu portava no corpo, já não estava mais tão presente, a áurea que me prendia, ia aos poucos se esvaecendo, eu já não sufocava mais.

SurrenderWhere stories live. Discover now