Capítulo um

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MUDANÇAS DE PLANOS

Mônica

É uma sexta-feira de abril, dia chuvoso e bem tranquilo para quem está em casa sentado em um bom sofá, degustando um café quentinho, era tudo que eu queria agora, mas estou aqui em uma fila da casa do trabalho à procura de um emprego, no momento qualquer serviço é bem-vindo. Tem certos momentos e situações da vida, que você não pode exigir muito, e essa é a minha atual situação.

As coisas na minha vida ultimamente andam um pouco bagunçadas, estar desempregada faz parte, mas tem o outro fato curioso, eu sou uma ex-noiva, não sei se esse é o termo correto. Iria me casar no ano passado, mas a vida me deu um murro no estômago, ou melhor no coração, meu ex-noivo me trocou pela própria prima, foi difícil de aceitar. Desde então eu me fechei para esse tipo de relacionamento e estou muito bem assim, afinal você nunca sabe quando será trocada por uma prima outra vez. No momento vivo com meu gato em um apartamento minúsculo que só cabe nos dois, literalmente, por isso não tenho namorado, não tem espaço.

Chega minha vez na fila de espera e sou atendida por uma moça que aparenta estar bem cansada, entrego logo minha identidade sem esperar ela pedir.

— Bom dia — digo.

— Bom dia moça, — ela responde calmamente analisando meu documento.

Ela meche no computador, da vários cliques e diz...

— Tem experiência com criança?

No momento só tenho com gatos, já cuidei do filho da minha irmã durante dois dias, foi a única vez que cuidei de uma, e não foi tão difícil assim, então não custa nada tentar.

— Tenho sim. — Minto.

Como vou ter experiência sem ter uma primeira oportunidade? Sei que lidar com vidas é muita responsabilidade - ainda mais se tratando de criança-. Mas sei que dou conta.

—  Haverá uma seleção amanhã as oito horas da manhã, a vaga é para cuidar de uma criança de sete meses, vão pagar bem. — Ela me entrega o cartão com o endereço e me deseja boa sorte.

— Obrigada.

Pego o cartão e me retiro do estabelecimento. Ser uma babá nunca foi meu objetivo de vida, tudo bem que ser bibliotecária também não era lá o meu sonho. Esse era meu antigo emprego e eu amava muito, passei a ter cheiro de livros, mas infelizmente a biblioteca fechou, o que definitivamente deveria ser considerado um crime.


Antes de ir para a casa vou em uma barraca de cachorro-quente, meu dinheiro só dá para isso no momento. Faço meu pedido e peço a moça caprichar. Fica pronto em menos de dois minutos e está com um cheiro incrível. Como e sigo andando ao mesmo tempo, equilibrando as mãos com um guarda-chuva e um lanche, tem gente que odeia andar enquanto come, para mim é uma ganha de tempo fazer duas coisas ao mesmo tempo. Na minha terceira mordida eu tropeço no pé de alguém que estava sentado no banco da praça, o que faz eu mudar automaticamente minha opinião sobre fazer duas coisas ao mesmo tempo. Por que alguém está sentado no banco da praça enquanto chove? E meu mundo para quando percebo meu cachorro-quente boiando na poça, perfeito!

Faço um pequeno esforço para me levantar até que vejo uma mão se estendendo em minha frente.

— Perdão por te fazer cair, segure em minha mão eu te ajudo. — diz um homem muito bem-vestido, alto, de cabelos negro, com um olhar castanho penetrantes.

Seguro em sua mão e me levanto já sacudindo a minha roupa.

— Não foi culpa sua, eu que estava muito distraída.

—  Então foi nossa culpa. — Ele diz esboçando um sorriso, que por sinal é muito lindo.

— Deixe-me pagar outro cachorro-quente, porque aquele virou um cachorro-molhado.

Não teve nenhuma graça, mas, confesso que eu ri.

— Aceito, mas eu quero dois. - Respondo.

Não é que eu seja oportunista, mas, eu estou com muita fome, frustrada e molhada, o que invalida o oportunismo. E pelo paletó que ele está usando, sei que pagar dois lanches não é nada pra ele.

Ele franze a testa enquanto me encara por uma fração de segundos, logo depois solta uma risada.

— Então vai ser dois, um pra mim e um pra você.

Ele é mais esperto do que eu pensava.

— Dois pra mim e um pra você, e sem outra alternativa.

Acho que ganhei. Ele se levanta e anda em direção a lanchonete em que eu estava á minutos atrás.

— Você não vem? - ele pergunta me olhando sob os ombros. Assinto com a cabeça e o sigo.

Depois de fazer o pedido, nos sentamos um lado da barraca que está protegido da chuva -não que faça alguma diferença pra quem já está molhado-. A cena que eu vejo me faz rir.

— O que foi? - ele pergunta.

— É que você está de paletó e gravata, sentado em uma barraquinha comendo cachorro-quente, e pra completar está molhado.

Ele dá de ombros enquanto morde o lanche.

— Por que estava sentado em meio a chuva? - pergunto curiosa.

— Ela não era ácida e minhas roupas não são de papel.

Mas bem que poderiam ser, penso subitamente.

— Sim, mas isso não é muito comum.

— Pedir dois lanches a quem acabou de conhecer também não é.- ele sorri convencido enquanto morde mais um pedaço.

Dou de ombros e concordo com ele.

— Eu estava distraído. Pra ser sincero nem percebi quando começou a chover, só vim me dar conta quando você tropeçou no meu pé. É o que acontece quando você é tomado por muitos pensamentos, o mundo se desliga.

Quero perguntar no que ele estava pensando, mas seria inconveniente demais, e já atingi a cota por hoje.

— Como se chama?

— Mônica.

— Prazer, me chamo Hector.

Ele esboça um sorriso, enquanto limpa a maionese do canto da boca.

Devo tropeçar por aí mais vezes, é só nisso que consigo pensar agora. 



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Autora

Obrigada pela leitura, espero que esteja gostando. Deixe sua estrelinha, isso me ajuda muito.

Livro atualizado no dia 04/08/2022

Procura-se uma babá (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now