ALLIE MAIA/SCARLETT

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Minha mão pintada com unhas vermelhas segurou o cano de metal. Encaixei a parte de trás do meu joelho contra o cano frio, sentindo um leve arrepio, e rodopiei por ele uma vez.

Mudei de posição, ainda com os dedos no cano, e joguei meu cabelo castanho para trás, arrebitando levemente a bunda.

O cheiro de fumaça, bebida e cigarro invadia meu nariz. Era um cheiro intoxicante, do qual particularmente não gostava muito. Mas, era propicio para o local. As luzes avermelhadas da boate deixavam todos com quase o mesmo tom de pele, assim como as suas vestimentas. Porém, daqui de cima, do pequeno palco que me separava dos espectadores, eu conseguia visualizá-los bem, alguns até mesmo com detalhes.

Esse era meu trabalho. Subir todos os dias nesse pequeno palco preto, com luzes em sua borda, e me apresentar, segurando esse imenso cano de metal frio e dançar para quem quisesse ver.

Eu era uma dançarina sensual, uma dançarina apenas tentando ganhar a vida. Uma stripper, não uma prostituta, muitas pessoas confundiam isso. Prostitutas com Stripper. Ali, naquele palco, eu apenas dançava e as pessoas vinham aqui para isso, me assistir. Um dinheiro fácil para seduzir homens canastrões de Rudápave e, para ser sincera, nem de homens eu gostava, mas a grande maioria deles era quem frequentava o clube.

Dançava, ganhava meu dinheiro e sumia dali, dando lugar a outras dançarinas. E antes mesmo que elas acabassem as apresentações, já estava esperando meu ônibus chegar.

Eu não fazia shows particulares, nunca. Mas vi tudo isso mudar quando ela entrou por aquela porta. Quando eu a vi, perdi completamente as estruturas.

Uma mulher daquelas espreitando nos bares do Centro de Rudápave.

Já fazia três semanas que ela vinha. Todas as quintas-feiras. E quando eu entrava para fazer minha apresentação e a via, dançava toda a minha música olhando para ela. Eu me empenhava, realmente querendo mostrar tudo o que podia mostrar.

Na primeira vez que a vi, me surpreendi por uma mulher estar ali. Não que mulheres não pudessem ir em um stripper-club, mas ela não parecia uma mulher que frequentasse aquele lugar. Quando a fitei e ela me fitou de volta, eu senti sua atenção.

Na segunda vez, ela apareceu novamente, usando um sobretudo preto e uma blusa de botões verde que fechava todo o seu colo. Ela me assistiu, pediu uma bebida e me olhou. Um olhar que estava pintado de desejo, mas que também mostrava uma dureza nunca vista antes. Foi a primeira vez que meu próprio corpo reagiu e por conta disso estendi minha apresentação, querendo que essa mesma sensação perdurasse.

A terceira vez, ela chegou no final da minha apresentação e talvez não tenha ficado mais de 10 minutos. Porque aquela mulher vinha apenas para me assistir.

E hoje, quinta-feira, lá estava ela.

No canto do bar, com o terno preto totalmente alinhado, com dois botões abertos de sua camisa social e a gravata preta levemente frouxa.

Mesmo observando de longe, eu podia ver seus cabelos negros com fios prateados — definitivamente, era uma mulher já em sua meia idade — em um rabo de cavalo.

Ela era linda, ao menos em meus olhos.

Apoiei minhas costas no cano de metal e escorreguei com um sorriso malicioso na boca, enquanto a fitava através da boate.

Ela ergueu sua sobrancelha perfeitamente desenhada e levantou um copo de whisky que estava em sua mão direita. Ofereceu-me um sorriso minimalista e levou o copo achatado até os lábios. Bebeu o líquido marrom, mas seus olhos negros como a noite continuaram a me encarar. Eu poderia me perder neles.

Entre elas #3 : Perfeita para mim (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now