ALLIE MAIA/SCARLETT

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Eu tinha uma vida fora da boate. Difícil de acreditar, mas eu tinha. Talvez não fosse a mais divertida ou estável do mundo, mas era confortável. O dinheiro que ganhava dava a chance de pagar minhas contas e minha antiga, porém charmosa casa.

Entre a hora que eu acordava até a noite, as minhas idas a boate se resumiam em passear pela cidade, escrever, ler, malhar (às vezes) e receber visitas de Tina. Eu era bastante caseira para uma pessoa que passa basicamente a vida na noite.

Estava um pouco entediada em casa, à frente da minha escrivaninha com o laptop aberto, onde apenas três linhas haviam sido escritas.

Um conto.

Um romance.

Mas, ele não estava conseguindo se desenvolver.

Era uma sensação horrível quando isso acontecia. Esse bloqueio desnecessário que às vezes me acompanhava.

Eu tinha uns contos espalhados por aí, dentro de revistas literárias ou livros. Mas, nada que me fizesse parar com dança para viver só de escrita.

Entenda, eu sou escritora e se existe uma profissão difícil é essa. Ao menos em minha visão, não querendo nunca menosprezar qualquer outra.

Fechei o laptop um pouco forte demais, um tanto frustrada. Olhei para frente e fitei a janela pequena do escritório, vulgo meu quarto. A janela redonda me dava uma vista de casinhas arrumadas de diferentes tamanhos e pequenos prédios na frente da praia da Zona Sul. Eu morava algumas quadras longe da praia e minha casa ficava na encosta de um pequeno morro. O que me dava uma vista privilegiada e certamente de tirar o folego.

Essa casa fora deixada para mim. Meus pais inventaram de dar uma volta inteira pelo mundo. Ambos juntaram dinheiro, comparam um charmoso veleiro e resolveram gastar suas aposentadorias por aí. Isso já fazia três meses e eles não voltariam tão cedo para Rudápave. Minha mãe já não tinha interesse em morar aqui. Então, eles deixaram a casa para mim. Talvez grande demais. Ela tinha dois andares e seus cômodos eram antigos e espaçosos. Eu gostava, na realidade. O cheiro dos móveis de madeira e de formas rústicas me agradava. Sem contar a vista e o cheiro da maresia que chegava principalmente de noite.

Obviamente que meus pais não sabiam da minha dupla identidade. Se soubessem, seria meu fim. Minha mãe ficaria com muita raiva e meu pai decepcionado. Eu não queria nada disso. Para eles, eu conseguia tirar um dinheiro descente com os meus contos e para complemento de renda, trabalhava como garçonete.

Eu os amava muito e eles me amavam de volta. Aceitavam minha orientação sexual e era isso o que importava.

Minha mãe era linda e parecida comigo. Principalmente em sua personalidade. Meu pai já era mais centrado, entretanto, um homem gentil e bom.

Eu cheguei a me perguntar o que eles achariam se descobrissem que estava me envolvendo com uma mulher praticamente da mesma idade que eles.

Joanna parecia ser uma mulher com um pouco mais de 50 anos e eu tinha 26. Nunca tinha me envolvido com uma mulher tão mais velha do que eu. Sempre tive preferências por mulheres mais velha, mais maduras. Gostava desse tipo de relacionamento. Mas Joanna...

— Por que não um mergulho? — perguntei a mim mesma de voz alta — Preciso de distração.

Levantei da cadeira arrastando as pernas da mesma contra o chão de assoalho, reproduzindo um som bastante irritante.

— Droga, sempre esqueço — reclamei baixinho.

Abri o armário, peguei meu biquíni, que ficava na primeira gaveta junto das calcinhas e sutiãs, e o vesti.

Entre elas #3 : Perfeita para mim (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now