ALLIE MAIA/SCARLETT

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Eu não deveria estar surpresa. Por que eu deveria? Por que ainda pensava nisso? Joanna era apenas mais um rosto como qualquer outro nessa boate. Uma pessoa sem rosto.

Eu estava ali sentada em frente ao espelho do apertado camarim. Ajeitava a alça do sutiã vinho, deixando-o mais apertado. Conseguia ouvir o barulho lá fora. A casa estava cheia. As dançarinas se apresentavam de três em três. Já que no palco havia três barras de ferros. Além das três salas de dança privadas estarem certamente cheias.

Por mais que o dinheiro fosse dividido por apresentação, ganhava-se muito mais. Era uma boa noite. Eu queria me empenhar, porque homem adora pensar com a cabeça de baixo. Adora ostentar para seus outros amiguinhos que ele tem dinheiro para "comprar" uma mulher. Eram verdadeiros babacas, mas o dinheiro, nesse momento, falava mais alto.

Eu não gostava de dançar para homens, aliás detestava ser vista como um pedaço de carne. Contraditório, não é? Ser vista por esses mesmos olhos, enquanto rebolava meu quadril. Era o dinheiro, eu os imaginava sem face. Centrava um ponto fixo no meio das bebidas do bar e dançava.

Claro que isso mudava nas quintas-feiras, quando ela estava lá. Porém, depois do que eu descobrira, talvez novamente fosse necessário fixar o ponto nas bebidas do bar nesse dia também.

Hoje eu dançaria com Tina e com Lucy e faltava apenas uma apresentação para chagar a nossa.

— Você precisa colocar um sorriso nesse rosto — Tina disse, empurrando-me levemente pelo ombro.

Eu virei a cabeça para o lado e sorri. Um sorriso pequeno.

— Porra, tu precisa melhorar — Tina comentou novamente e riu baixinho. Ela olhou para os lados e arrastou um pouco a cadeira para o meu lado. Inclinou-se e tocou no meu cabelo, colocando-o para fora do meu rosto — Você não estava assim, aconteceu alguma coisa?

Eu abri a boca, mas Lucy passou entre nós duas para pegar o seu sutiã preto que estava pendurado na moldura de madeira do espelho.

— Vou fumar um cigarro ali fora e respirar um pouco de ar fresco. Já volto — Lucy comentou, fixando o fecho do sutiã rapidamente nas costas. Ela desviou dos objetos no pequeno camarim e saiu pela porta de metal dos fundos.

A música continuava em uma batida sensual e uma série de aplausos foi ouvida.

Eu respirei fundo e senti um fio de suor escorregar entre os meus seios. Estava abafado ali dentro. Desejei ir para casa, mas eu precisava do dinheiro, hoje era um bom dia.

— Eu a encontrei por acaso — admiti, dando de ombros e colocando as mãos entre as coxas.

— Quem?

— Joanna, a mulher das quintas.

— Uh... Mas, é normal encontrarmos pessoas conhecidas daqui. Faz parte do trabalho, nós apenas viramos o rosto — Tina retrucou, apoiando sua mão em cima da pequena estante e seu antebraço esbarrou em maquiagens.

— Sim, eu sei. Mas, Tina, eu transei com ela. Foi uma loucura, eu transei com ela e Joanna me prometeu um encontro.

— Você transou? O quê?

Tina me olhou assustada e sua cabeça foi levemente para trás. Ela sabia que nunca havia dormido com ninguém por conta do meu trabalho. Talvez por isso o espanto, eu quebrara minha própria regra.

— Ela me prometeu um encontro. Eu acreditei, mas esqueci que ela havia pago uma dança e no final a gente transou. Joanna me viu como uma prostituta e isso só se confirmou quando a encontrei e ela estava com seu marido — eu ri incrédula e engoli seco tentando não deixar minha voz tremer. Não queria transparecer qualquer tipo de remorso. Eu fui a errada, quebrei minhas próprias regras — O pior é que o marido dela é gentil.

Entre elas #3 : Perfeita para mim (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now