Perguntas?

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O que fazer? Isabelle Connor ia vir na minha casa e eu não sabia como me comportar, que assuntos tratar? Como me vestir? Eu tinha que fazer tudo isso e ainda ter concentração o bastante para fazê-la tirar notas boas na prova que iríamos estudar durante toda a tarde. Eu tinha uma missão em mente, teria de investigar os motivos que a levou a se afastar de mim. Suava frio, o nervosismo estava me tomando por completo. Coloquei uma roupa que não estava tão nova, e nem tão surrada, caso ela me fitasse todo elegante com roupas finas apenas para receber ela em minha casa, ficaria bem na cara que eu estava afim dela. Era mais fácil colocar um banner na testa escrito: " Eu estou super apaixonado por você, garota! ". provável que ia ser legal, a ponto dela voltar a me ignorar de novo. Mas se eu vestisse uma roupa surrada, ela ia me achar desleixado, como as duas faces da metade não pareciam ser casuais e agradar meu alvo de paixão, então fiquei entremeio as duas opções, mas confesso que dei uma borrifada leve de perfume e fiz questão de ficar bem apresentável, não tanto, porém eu provavelmente conseguiria tirar algo dela. Seria só eu e ela, meus pais estavam trabalhando. Isso também era meio constrangedor, ela não era mais uma garotinha de sete anos que ficava brincando comigo em tudo que é lugar, até já tínhamos brincado de guerras de travesseiro em cima da minha cama. Bons tempos, entretanto algo assim era meio difícil de ocorrer em uma circunstância como a que teria na minha casa em meia hora. Já era 12:30, marcamos dela vir as 13:00!

Exatamente as 13:00 ela tinha adentrado o jardim de casa e batido a campainha, fui atender, lá em casa nós tínhamos serviço de limpeza domestica três vezes por semana, contudo, especificamente naquele dia isso não ocorreria, senão Dona Meyer já estaria lá abrindo a porta. Fui eu quem abri e me deparei com ela colocando uma mecha da parte frontal do cabelo para trás da orelha. Acho que eu devo ter babado, mas fingir naturalidade.

- Oi Isa, entre ai, fica a vontade!

Ela sorriu. Desabamento interno, ameaça de parada cardíaca, porém resisti firme e tirei o corpo da frente para ela passar.

- Obrigado pela hospitalidade!

Ela passou, eu fechei a porta, e entramos. Fomos em direção a mesa da sala, ela colocou o caderno, a caneta e o livro que trouxe na mesa, e ao se sentar pediu licença.

Eu fiquei meio assim assustado com a gentileza dela, era muita.

- Não é preciso tanta formalidade Isa, você é bem vinda aqui e pode vir aqui sempre que quiser.

Ela ficou mais séria que o de costume, e me olhou dentro dos olhos.

- Você parece mesmo gentil, mas talvez não seja tão bem vinda aqui.

Eu gelei por dentro.

- O quê você quis dizer com isso?

- Nada Randall, só saiba que você foi o melhor amigo que poderia ter sido.

Eu não estava entendendo, ela parecia magoada com alguma coisa. Mas por ora resolvi ignorar e dar inicio ao nosso estudo. fiz questão de primeiro responder o que ela dissera.

- Isa, você foi a melhor pessoa que esteve na minha vida, por favor, volte a ser aquela Isabella, e se não der pra ser ela, seja uma versão nova, porque tem um vazio que ficou quando você ficou que ninguém preenche.

Caraca, o nerd quase se declarou. Ela abriu os olhos olhando para mim com aquela cara de que algo inesperado aconteceu. Mas logo em seguida sorriu.

- Ah Randall, prometo que vamos falar sobre isso. Pode ser depois que estudarmos pra prova? preciso entender a loucura da mente e das teorias dos filósofos, ai falamos com calma sobre tudo isso, eu não queria ter me afastado!

Minha garganta deu um nó, eu estava certo. Algo aconteceu que fez ela se afastar. Eu via os olhos dela cheios de dor ao dizer essas palavras, ficou ecoando na minha cabeça. " Eu não queria ter afastado! ", e assim concentrei na matéria, mais uma vez Thomas Hobbes, Sócrates, Platão... um pé no saco! Mas ela estava se saindo bem com minhas explicações e sorria, meu coração ameaçava parar como sempre, parecia faltar sangue nas veias, enfim, eu engolia em seco, respirava fundo e continuava senão ela perceberia, será que ela não via como eu olhava para ela, como eu ficava pasmo sem reação quando ela sorria? talvez ela sabia, e só não quis demonstrar que sabia, era uma possibilidade.

Depois de aproximadamente uns quarenta minutos falando de filósofos, eu como um bom anfitrião servi uma remessa de rosquinha de leite e suco natural para nós dois, eu coloquei minha cadeira do lado da dela e ela e quando o braço dela roçava ao meu eu sentia ondas de eletricidades que me fazia tremer, por dentro. Era tudo tão novo para mim, adolescência, paixão, amor. Por um instante com a gente ali conversando ela sorrindo com um pouquinho de farelo das rosquinhas no canto dos lábios dela enquanto ela fazia biquinhos, encenações enquanto falávamos de diversos assuntos.

- Parece os velhos momentos não é Isa?

Ela pareceu parar tudo e pensar no que já fomos, melhores amigos. Os olhos dela ficaram nostálgicos, e ela deu o sorriso mais verdadeiro que eu vi ela dar em semanas.

- Verdade! __ Ela entoou com os olhos fechados repousando a cabeça suavemente no meu ombro como uma pena que cai ao chão.

Eu quase pulei de susto e de felicidade, surpresa. Só quem se apaixona entende cada detalhe bobo desse compreende como se fosse um gesto único no mundo, e realmente é.

Minha respiração ficou entrecortada com os suspiros profundos. Será que ela conseguia ouvir a batida descompassada do meu coração? Meu coração parecia bater forte, parecia um alto falante quando vibra. Será que ela notava que eu respirava afobadamente como se precisasse urgentemente de ar nos pulmões?

- Randall, nunca quis me afastar de você. Mas foi preciso, e quando contei a sua mãe sobre aquilo eu... Não importa, só que eu me apaixonei por você e eu não podia estragar toda aquela amizade, no fim foi o que aconteceu, olha como estamos? Me perdoe.

Pronto, eu não soube o que falar, mas puxei meu ombro e ela levantou a cabeça, eu me virei pra ela. Isa olhou para baixo. Contudo eu insisti, e fiz o que não achei que seria corajoso o suficiente para fazer e rapidamente antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ainda sentado do lado dela, me inclinei e a beijei. Foi impulsivo e as palavras fugiram, então no calor do momento foi as minhas ações de uma suposta declaração de amor atrasada, eu nunca tinha beijado alguém, e tive um choque, os lábios dela nos meus foram ainda mais eletrizantes do quê o braço dela me tocando despropositalmente. O gosto do suco natural estava lá, não tinha nada estranho e eu me assustava com a quantidade de vezes que meu coração podia estar batendo por segundo, não deu tempo de prosseguir e colocar os braços ao redor dela, pois ela subitamente interrompeu meu beijo roubado.

Ela parecia assustada, mas chorava. Eu travei, ela balançou a cabeça e pegou os cadernos e foi em direção a porta principal, eu não conseguia me mover.

Será que ela não gostava mais de mim? quando ouvi o barulho da porta fechando eu desabei, e chorei como uma criancinha! Eu me martirizava, mas ainda não sabia pelo quê! Não sabia se ela me odiou por ter beijado ela daquele jeito, do nada. Entretanto parei de tentar desvendar o que ela pensava, e peguei o celular e lá estava eu mandando para ela uma mensagem pedindo uma chance de se explicar. Era só o que eu precisava para ter uma chance de confessar meu amor por ela, já estava tudo tão confuso. Mesmo que ela não aceitasse, eu tentaria tê-la, era a garota que amei em segredo, escondi de mim mesmo, estava cansado de esconder, eu não importava de ter um coração partido naquele momento, só queria dizer tudo a ela. Olhando dentro dos olhos dela, aqueles olhos sobre quanto eu amava os sorrisos dela, o jeito dela, o charme, o perfume. Eu poderia falhar, mas precisava de respostas pro meu coração ansioso e pesado. Eu não sabia que perguntas fazer, mas eu precisava perguntar, eu precisava saber.

Ó, eu a amava. Aquela dor lancinante me cercava. Dor que acompanha o desespero e o medo que ameaçava perder a garota dos meus sonhos!




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