Capítulo 4

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Zeus caminhou até seu escritório. O Templo da Ordem estava vazio naquele horário. Mais tarde, durante a execução da ritualística aquele lugar estaria cheio de gente. Dentro dos degraus da Ordem ele havia atingido o mais alto de todos. Era o Grão-Mestre daquela fraternidade, que existia há centenas de anos para os objetivos a que se propunha.

Havia sido alçado a este posto pelos seus companheiros. Tinha noção de que não podia deixar o orgulho e a arrogância subir à cabeça. Sabia que para manter sua posição na Ordem dos Mistérios Antigos deveria, sobretudo, manter as Quatro Grandes Leis da magia – Saber, Querer, Ousar e Calar. Deveria zelar para que os membros da Ordem respeitassem cada uma destas quatro palavras.

Curiosamente, era exatamente a Ousadia, neste momento, que ele deveria tentar evitar.

O Grande Segredo estava para ser revelado.

Por vários séculos, apenas o Grão-Mestre e o Mago de Primeira Ordem tomaram conhecimento do Grande Segredo. A tradição pedia que quanto menos pessoas soubessem melhor seria para a humanidade. Para o povo e para arqueólogos e historiadores xeretas, havia a Lenda. Mas esta não contava toda a verdade. Apenas o Grão-Mestre e o Mago de Primeira Ordem a conheciam, e juravam segredo absoluto sob as regras da magia. Somente em grande risco poderia revelar a outras pessoas, também sob as antigas regras. Ele havia recebido este segredo do antigo Grão-Mestre, e o havia passado para o Mago de Primeira Ordem que o substituiu. Esta era a tradição, desde o início da Ordem na região onde hoje está o Peru. A Ordem havia sido fundada em 1403, por exigência do Sumo Sacerdote Tethuápoc. Treze feiticeiros foram os primeiros a fazer o Grande Juramento.

Ele agora era o único representante magístico dos treze primeiros.

Este era o segredo sob a fachada da Ordem dos Mistérios Antigos. Não que a Ordem fosse uma mentira. Não, longe disso. Houve uma época em que yuppies inescrupulosos enxergaram os exercícios da Ordem apenas como um meio para ludibriar pessoas crédulas e fazer dinheiro. Zeus tremeu ao pensar nas consequências caso o Grande Segredo houvesse parado em mãos de pessoas apenas interessadas no poder. Os membros do décimo grau tiveram que se reunir por dias para alterar a forma de seleção para o ingresso. Os novos membros deveriam passar por duras provas para mostrar seu valor. As provas, baseadas na segunda grande lei – Querer – incluíam horas e mais horas de meditação, controle do pensamento e das vontades e também sobre o corpo. A Hatha-Yoga era exigência básica, e o domínio e o controle da respiração através dos exercícios de Pranayama eram exigidos desde os primeiros passos. Depois o probacionista era obrigado a passar por exigências intelectuais, lendo todos os clássicos como Eliphas Levi, Papus, Madame Blavatsky, Dion Fortune e Aleister Crowley. Se aprovado, ganhava a tutoria de um membro mais antigo, que avaliaria sua evolução no caminho da magia e, principalmente, avaliaria se ele estava pronto para disseminar a Sagrada Ciência da forma correta. Muitos charlatões haviam proliferado, e uma das responsabilidades da Ordem era desmascarar os falsos profetas, trazendo a legitimação da Arte.

Zeus aguardava a presença de seu Mago de Primeira Ordem, Horus. Sorriu internamente. Zeus e Horus. Grécia e Egito. Motes mágicos assumidos quando admitidos como neófitos na Ordem, mostravam o ecletismo da mesma, mostrava a diversidade cultural.

Mostrava, sobretudo, a presença suprema do Divino Criador em todo o mundo.

Entrou em sua sala. De lá era possível enxergar o Templo, totalmente construído de acordo com os preceitos antigos, mas em nada semelhante ao Grande Templo da Magia, construído por seus antecessores no limiar do Império Inca seguindo ordens expressas dos egípcios. Somente um povo de intenções puras poderia descobrir aquele segredo e construir o Grande Templo. Assim havia sido transmitido há mais de cinco mil anos pelo grande Luaror, da Antiga Atlântida. Somente o Grão-Mestre e o Mago sabiam da existência da Antiga Atlântida. Não era apenas uma lenda, havia realmente existido um povo extremamente evoluído em suas condições técnicas e psíquicas. Porém, há um fim evolutivo em tudo, e aquele povo que vivia onde hoje se conhece como Oceano Atlântico fora engolido pelas águas. Seu legado sobreviveu pelas mãos do Antigo Egito. Parte dele fora passado para os Incas, porém somente no limiar do império fora possível encontrar um povo de intenções puras. Os treze. Eles, sob a ordem de Tethuápoc, haviam criado a primeira sede da Ordem e, depois, motivado pela efervescência libertadora de Simón Bolívar e do General San Martín, e com medo de ter suas atividades banidas para sempre com os membros mortos como conspiradores, mudaram sua sede para o Império brasileiro, que, graças a manobras de seu Imperador Pedro I se manteve intacto. A Ordem teve que se manter à sombra de outros grupos poderosos, como os maçons e os rosacruzes. Teve de se adaptar, e foi assim que chegou aos tempos modernos.

O Templo da Magia (Reinos em Guerra - Livro 1)Where stories live. Discover now