Capítulo 6

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Pedro, Ana e Gregório fitavam um calhamaço de folhas de papel sulfite sobre a mesinha de centro da ampla sala de estar do apartamento de Ana.

Pedro explicava o modo como havia feito aquela tradução com inegável habilidade. Ana, absorta, ouvia e discutia com o colega sobre os métodos utilizados. Apesar de entender grande parte do que falavam, Gregório preferiu apenas escutar, afinal era apenas bacharel em história, sequer trabalhava com o assunto. Ana e Pedro eram doutores no negócio. Falavam em outro nível.

Ana havia aberto mais uma de suas garrafas de vinho, e agora a taça de Pedro fazia companhia às outras duas.

- Aqui este símbolo aparece representando a letra Ankh, porém nessa outra linha tive que pesquisar melhor para compreender. Tive que usar a obra do Ceram para conseguir explicação, acredita? – disse Pedro.

- Mas o Ceram é um egiptólogo dos melhores! – exclamou Ana.

- Realmente, mas em sua obra achei uma imagem onde aparece o mesmo símbolo com outro significado. E este significado encaixa perfeitamente no contexto – explicou Pedro.

Gregório notou que Pedro estava fascinado pela oportunidade de transcrever o texto. Lembrou-se do que Ana dissera, sobre ele não ter jeito com mulheres. Mas não conseguiu notar nada de diferente no rapaz.

Continuaram a conversar sobre tradução, métodos e técnicas durante algum tempo. Gregório tomou a primeira taça de vinho e mais uma. Estava começando a se enfadar quando os dois decidiram que o texto estava completo e correto.

- Pronto, Gregório. Leia. Irá se surpreender com o resultado – disse Ana, finalmente.

Gregório notou que todo o texto cabia em poucas folhas de papel sulfite. Colocou-as sobre a mesa, ordenando-as à sua frente. A impressão estava com boa qualidade. Pegando a primeira folha, pôs-se a ler em voz alta:

- "Eu, Tuthimós, Grão-Mestre dos Sacerdotes de Amon, durante o reino de Pepi I – grande entre os grandes - e consciente da brevidade de minha vida, e com a consciência de que a vida eterna não me permitirá o acesso à matéria, deixo registrado aqui todos os feitiços, preparos, evocações e rituais necessários para combater a Maldição Atlante.

O relato que faço é fruto de intensa e exaustiva reflexão, estudo e observação, e deve ser admitido sempre em sua totalidade. Nenhuma parte deste pode ser deixada de lado quando necessário for seu uso.

Minha observação ocorreu durante o período em que a Maldição atingiu o reino do Egito - e minha mente analítica e objetiva pede que iniciemos o relato de forma a permitir a identificação imediata deste mal.

O primeiro grande sintoma é o aumento da temperatura repentinamente. Durante o auge da Praga milhares de pessoas morrem de calor. As criações perecem, as plantações secam. Nada sobrevive ao intenso calor provocado pela criatura. O intenso calor provoca a evaporação das águas dos rios, anunciando o segundo grande sintoma.

A seca é o segundo grande sintoma. Sem água, a vida começa a correr grandes riscos, as plantações desaparecem, os animais emagrecem, adoecem e morrem, juntamente com as pessoas, que perecem de fome, doença e sede. A grande quantidade de mortos impede a correta destinação e o preparo dos corpos para que possam adentrar o reino de Osíris. Apodrecem a céu aberto, totalmente expostos às larvas e moscas.

E então há o terceiro e mais terrível dos sinais. Uma quantidade incontável de moscas invadiu o reino do Egito, e o dia se tornou noite. No começo acreditávamos ser apenas insetos atraídos pela putrefação cadavérica, mas notei o aumento gradativo do número desta praga, o que me fez lembrar do manuscrito atlante.

O Templo da Magia (Reinos em Guerra - Livro 1)Where stories live. Discover now