Capítulo 18

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- Precisamos conversar - diz a Rainha confiante, sentada em minha cama.

O tom de sua voz me causa calafrios, mas eu me mantenho ereta. A última coisa que vou fazer na vida é mostrar alguma fraqueza diante dela.

- Estou aqui - afirmo o mais indiferente que consigo.

Ela abre um sorriso ainda maior, e se impulsiona com as mãos para levantar da cama. Com os braços atrás do corpo, começa a caminhar pelo quarto, com o som alto de seus saltos perfurando até minha alma.

- Soube que você e meu filho estão muito próximos ultimamente - ela começa, tocando a pequena fotografia na mesa ao canto, minha mãe, meu pai e eu. Não respondo, estou muito concentrada em não mandá-la tirar as mãos da minha moldura. - Tenho que admitir que não gosto de ver meu filho andando com uma garotinha como você.

O modo como diz "garotinha" está carregado de significados ofensivos, mas eu não me afeto. Não ligo para o que pensa sobre mim.

- Acho que quem tem que gostar ou não da minha companhia é seu filho, não acha?

Ela se volta para mim, a ira em seus olhos que eu já estou tão acostumada a receber.

- Não tem a menor noção do perigo - ela me ameaça. - Não vou perder meu tempo com alguém como você, então serei direta. Fique longe do meu filho.

A proposta me parece completamente inaceitável. Não vou me afastar de Peter.

- A princesa Sophie e seu filho são noivos. Não pode me obrigar a ficar longe dele.

- Não posso te obrigar a ficar longe dele na frente do público - ela me corrige. - Fora dos holofotes, minha querida, saiba o seu lugar.

Ela para de andar e se posiciona a minha frente. É alta e esguia, e tem sempre esse ar ameaçador que paralisa todo o ambiente. Não é conhecida por sua bondade, também não é a preferida dos súditos, mas é respeitada e temida por outros países. E isso já é o bastante para ela. O poder e o controle serão sempre o bastante para ela.

- Não vou ficar longe do seu filho, a menos que ele queira.

Ela sorri, quase de forma penosa. Mas é tudo fingimento, nada dela é verdadeiro.

- Sabe que meu filho não gosta realmente da sua companhia, não sabe? - Ela se aproxima. Agora é a hora que vai jogar tudo em cima de mim. Fecho os punhos e me preparo. Ela não vai me abalar. - Peter sempre foi assim, sempre trazendo bichinhos machucados e sem salvação para casa. Ele gosta de bancar o salvador. Tem inveja do irmão, tem inveja de seus atos grandiosos. Ele gosta de coisas quebradas, Bennet. Você é apenas isso para ele. Um caso sem salvação que ele gosta de manter por perto. Gosta de se sentir o herói.

Dou um passo para trás. Ela não sabe do que está falando. Peter é muito mais do que isso. E o fato de sua própria mãe não enxergar que ele não é apenas mais um "garoto bancando o herói" me magoa imensamente.

- Está querendo dizer que sou um caso de caridade para seu filho? - pergunto, e ela concorda com a cabeça. - Está errada. Sabe que tenho problemas com o fato de ter sido banida quando criança e está se aproveitando da minha insegurança. - Agora é minha vez de atacar. Não vou cair em sua conversa. Se fosse qualquer outra pessoa me dizendo aquilo, talvez tivesse conseguido me abater, mas não acredito em uma palavra sequer que saia de sua boca.

- Ah, é mesmo?

- É, e está errada sobre Peter também. Ele é seu filho e devia conhecê-lo melhor. Ele não tem inveja do David. Ele ama o irmão, e se não vê isso, é porque nunca prestou realmente atenção. Os dois se amavam e se protegiam. Peter não tenta ser o salvador. Ele é bom. É uma pessoa boa, cheia de altruísmo e empatia.

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