Capítulo 38 - Fim

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De todas as surpresas que já tive na vida, nunca imaginei que o tempo me trairia dessa forma.

Fazem três meses, três longos meses que me mudei para a França. É um lugar lindo, cheio de história e de cultura, mas pude dizer desde o primeiro dia em que pisei aqui, que o lugar não é para mim. O frio me incomoda, me desanima, é como se o Sol quente me desse novas energias para viver. Sinto faltas das cores de Costa Luna estampadas nas flores, nas roupas e nas casas. Paris é um lugar lindo e iluminado, mas é muito clássico para mim, muito neutro. Nasci aqui, mas claramente minha casa está em outro lugar.

A vida aqui é diferente, parece que estou vivendo a vida de outra pessoa, o que é um tanto quanto irônico. Talvez seja tudo questão de costume, mas não posso deixar de me sentir um pouco solitária. Tenho me aproximado muito de Sophie e da rainha durante esses meses, mas é tudo tão diferente, ainda nada disso parece real.

– Majestade, tens uma entrevista daqui a uma hora no salão de visitantes – diz a imitação de Antônia.

Apenas aceno com a cabeça, enquanto ando pelo jardim, observando os animais e o movimento das folhas que dançam com o vento. Os pelos do meu braço se arrepiam, e abraço o próprio corpo em um instinto. Algum empregado surge correndo até mim com um casaco em mãos. A hierarquia aqui de algum modo é diferente, todos agem como se já estivessem acostumados... Bom, claramente devem estar, mas para mim é uma devoção muito estranha.

– Já vou para o quarto me arrumar – aviso a ela, sem parar de andar, e ela acena de forma relutante. Ela claramente quer me apressar, mas não tem coragem para dizer nada. Não é assim que as coisas funcionam por aqui. Antônia já teria me puxado pelos cabelos a uma hora dessas.

– Sim, senhora. – Ela faz uma reverência. – O estilista real já a está esperando no ateliê.

– Romeu – corrijo-a, que me lança um olhar confuso. – O nome dele é Romeu.

– Sabe que não nos referimos pelo primeiro nome aqui na França, vossa alteza – ela parece constrangida.

– Sei... – É tudo que digo, odiando as formalidades.

Caminho mais um pouco pelos jardins do castelo. Esses são bem maiores do que os de Costa Luna. Na realidade, todo o castelo é maior. O estilo aqui é gótico e elegante, todos os corredores decorados de forma clássica e impecável. Parece o tipo de castelo que de noite se torna mal assombrado.

Entro em meu quarto, que pelo menos não tem mais uma imensidade de tons cor-de-rosa. Ele está vazio, como sempre parece estar. Estava acostumada a entrar em meu quarto e encontrar sempre alguém deitado em meu sofá ou espalhado em minha cama. Mas aqui na França não é educado entrar no quarto sem a sua presença, o que resulta quase sempre em um quarto vazio e silêncio.

Tomo um banho rápido, coloco um roupão de seda e vou em direção ao ateliê, com os cabelos molhados e de pantufas. Vejo os olhares das pessoas no corredor para mim, mas não me importo. Não vou me vestir inteira só para atravessar três corredores. Um guarda mais jovem passa por mim e fica claramente surpreso. Ele engole a seco e recupera a postura, envergonhado. Continuo a andar e finalmente avisto as portas brancas e decoradas do ateliê.

– Romeu! – eu digo ao vê-lo deitado em um divã.

Ele se assusta e levanta rapidamente.

– Está querendo me matar do coração, Pomarola? – Ele coloca a mão no peito.

– Cadê todo mundo? – Olho ao redor da sala vazia.

– Dispensei todos. São todos profissionais demais, fazem tudo certo, qual é a graça?

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