Capítulo 26

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Bato na porta da casa que há alguns meses era minha. Meu pai não demora a atender. Ele me olha como se já soubesse que eu apareceria. Não sorri, mas tem uma expressão solidária no rosto. Sinto sua falta, mais do que pensava que sentia.

Ele abre a passagem, e me sento no sofá. Ele se senta a minha frente. Não sei se é pelo fato de ser capitão, mas sua presença é realmente intimidante. Ele não diz nada, só espera meu tempo para falar.

- Dylan... - eu começo a dizer, mas minha garganta se ata em um nó. Não achei que fosse tão difícil, mas é meu pai, o homem que sempre me protegeu. Não sei como dizer isso, não sei como admitir que fui tão fraca em aceitar tudo aquilo.

- Dylan? Achei que íamos falar do príncipe Peter.

- Ele também, mas quero te contar tudo, desde o início.

- Tudo bem - ele diz calmo. Recosta-se no sofá com as mãos tranquilas no colo. - Pode falar, estou aqui para te ouvir.

Eu aceno. É muito mais difícil do que pensei.

- Há algum tempo atrás... Algum não, há um bom tempo atrás, Dylan começou a ficar bastante ciumento. Ele já era, mas acho que com o tempo eu fiquei mais vaidosa e comecei a cuidar melhor de mim, e ele não gostou muito.

- Percebi isso. Os guardas não chegavam mais perto de você, mas tinha a impressão que era por minha causa.

- Não, era Dylan. Ele ficava realmente muito bravo. Só que eu não parei de ver outras pessoas. Conversar, eu digo. Não sei se foi errado, talvez devesse ter parado quando vi que o irritava tanto.

- Chloe, não. Isso é ridículo. É minha filha e homem nenhum vai ditar com quem você deve ou não conversar. Nem mesmo eu. Aconselho porque me preocupo, mas você fala com quem quiser.

Sorrio diante de suas palavras. Eu posso fazer isso. Talvez não seja tão difícil quanto imaginei.

- Dylan foi ficando mais ciumento, e com o tempo... mais agressivo - eu digo cautelosa. Vejo os músculos do meu pai contrairem, mas não vou parar de falar agora. - Ele nunca chegou a me bater de propósito. No início ele só me puxava pelo braço, mas sabe como sou branca e ficava sempre marcado.

- Branca ou morena, Chloe. Isso não é justificativa! - ele vociferam com o olhar cheio de ira contida. Ele não sabe de tudo ainda.

- Depois ele passou a não querer me deixar sair - continuo, ignorando sua raiva. - Ele bloqueava a minha passagem e eu... cheguei a bater nele para sair da minha frente. Só que ele era tão mais forte, que quando revidava, acabava me empurrando bem mais forte.

- Chloe, eu...

- Se lembra do dia em que disse que ia para casa da Mônica, e descobriu que não tinha saído do castelo?

- Claro que me lembro. Nunca mentiu para mim daquele jeito. Nem cheguei a ficar bravo, só consegui ficar preocupado.

- Sim. Um dia ele ficou nervoso e me empurrou tão forte que bati a cabeça. Não tive coragem de voltar para casa, disse que ia para a Mônica, mas foi quando tive a certeza que não dava mais para continuar. Eu não merecia isso.

- Chloe, o que está me dizendo é muito sério! - Ele se levanta rapidamente. - Aquele bastardo não pode fazer isso com você e sair impune. Não acredito que todo esse tempo venho o tratando como um cara justo. Acreditei nele, confiei. Achei que estavam passando por uma fase, que logo iam voltar. Não acredito em como fui ingênuo, como pude falhar tanto.

Levanto-me de prontidão e seguro suas mãos. Não é culpa dele, não pode pensar assim.

- Não falhou, papai. Claro que não falhou. Se não fosse por você, pela criação e pela força que me deu, eu provavelmente nunca teria tido a coragem de ir embora, de entender que eu não merecia aquilo.

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