1º capítulo Princípio dos tempos

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Ao regressarem ao castelo, Drácula comentou com seu amigo que aquela moça lembrava muito sua amada, e que a fragrância que desprendia era tentadora. Roberto lhe disse que já fazia mais de um século que convivia sozinho e que talvez já fosse hora de procurar uma companhia, que o aceitasse e amasse tal como é, para toda a eternidade. Com uma risada irônica, ele contestou.

– Quem vai querer viver ao lado de um monstro predador?

– Creio que todos os seres estão destinados a encontrar sua alma gêmea, não importa quanto tempo tenha de esperar. Chegará o dia que ela nos encontrará.

– Que romântico você é! Menos mal que, apesar de ser imortal, não deixou de sonhar.

No dia seguinte, por volta das três da tarde, um mensageiro, montando um cavalo malhado chegou ao Castelo com uma carta, a qual informava que ia acontecer uma reunião na casa de Dom Popescu no final da semana. Por sua vez, Vlad confirmou sua presença. Ao se despedir do mensageiro, informou a Roberto que iria caçar e, enquanto estivesse ausente, ele estaria no comando. Também sugeriu para não se preocupar que dentro de dois dias regressaria para a tal reunião.

Depois de restabelecer suas energias e saciar a sede de sangue, Vlad regressou e se preparou para ir à tal reunião, colocou seu traje preto, o qual fazia jogo com o chapéu, sua camisa de linho bordô, que harmonizava com um casaco justo chamado gibão. Uma vez pronto, subiu na carruagem, que o levou até a residência da família Popescu.

Ao chegar, foi recebido pelo mordomo que o acompanhou até a biblioteca onde estavam reunidos os demais nobres. Suas damas e respectivos filhos estavam em uma sala à parte.

Geralmente, Vlad não procurava se pronunciar muito, apoiava sempre a maioria e assim evitava meros conflitos, pois seu objetivo era evitar simples discussões. Praticamente realizava atos diabólicos em grande escala. Esses eventos eram como um passatempo, e a melhor parte dessas reuniões era quando os empregados os interrompiam, pois era um tédio escutá-los.

Assim foi que, depois de uma longa e duradoura conversação, a porta foi aberta. Era uma jovem que aparentava ter uns 30 anos. Em suas mãos trazia uma bandeja de prata com uma garrafa e vários copos. Pouco a pouco, foi distribuindo a bebida e, quando estava prestes a servir a Vlad, tropeçou no tapete, deixando cair toda bandeja no chão. Vlad ajudou-lhe recolher os restos dos cacos de vidro, e quando ambos se olharam, ela lembrou que já o havia visto antes. Ele, por sua vez, também a reconheceu, e foi um momento inquietante. Com a voz trêmula, ela agradeceu e informou ao senhor Popescu que voltaria dentro de alguns instantes para terminar o que estava fazendo.

Depois de um tempo, voltou para recolher os demais objetos que haviam caído. Entusiasmado com a presença dela, Drácula não deixou de observá-la, porém o anfitrião da casa não gostou do ambiente que girava em torno de ambos.

Após uma longa noite cansativa, a reunião terminou. Todos os convidados pegaram suas carruagens ou cavalos e voltaram às suas residências, inclusive Vlad. Durante o percurso, ele ordenou que regressasse à casa de Popescu. Teve um pressentimento de que voltaria encontrar a jovem manceba. Oculto entre as árvores, esperava a saída dos empregados. Não demorou muito quando viu a linda jovem, acompanhada de vários empregados, sair pela porta. A poucos metros dali, Vlad se aproximou do grupo, mantendo uma conversação, os quais ficaram surpresos com sua presença. Ousada e com um olhar suspeitoso, a linda jovem se aproximou, questionando se já teriam se visto anteriormente.

– Quero dizer em outra ocasião? – reafirmou, olhando em seus olhos.

– Talvez, insinuou. Gosto muito de caminhar pelo campo e liberar meus pensamentos. Às vezes, saio com alguns amigos para caçar. Espero não estar sendo importuno?

Degustação "Divina Paixão"Where stories live. Discover now