Capítulo dezesseis

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David já me mandou duas mensagens dizendo que estou atrasado, mas ainda são oito e dez, ou seja, são apenas dez minutos de atraso, e ele mora logo aqui em frente. Podia até mesmo me esperar sentado no sofá da sala da sua casa. Eu me atrasei porque minha mãe me obrigou a jantar uma sopa especial de legumes e ervas que demorou ficar pronta. Se eu não comesse, ela não iria me liberar para sair depois de uma gripe daquelas.

Despeço-me da minha mãe, pego uma cópia da chave do portão e saio para encontrar David, que está parado em frente ao portão cinza da minha casa. Passo pelo portão e tranco pelo lado de fora. Estou usando uma calça jeans clara, uma polo preta e um sapatênis preto. Meu Deus! David está simplesmente lindo (e cheiroso). Seu cheiro está incendiando toda a rua de um aroma verde, cítrico, masculino. Inspiro profundamente. É um cheiro inebriante. Ele está usando uma camisa social azul com corte justo e detalhes nas bordas, calça jeans preta e sapato preto brilhante. Ao me ver saindo seu olhar já se acende.

– Até que enfim a noiva ficou pronta. – Ele sorri.

– Foi culpa da minha mãe! – Sorrio de volta.

– Vamos? – Ele diz e coloca o braço disponível para me segurar, como se eu fosse uma dama.

– Para de show! Nem atrasei tanto assim. – Dou-lhe um soco no braço e ele para com a brincadeira.

– Ainda bem que o Ailton é aqui perto, e a gente chega rápido. – Ele diz, ainda sorrindo.

– Será que ainda existe Bar do Ailton? Depois de tantos anos? – Pergunto.

– Claro que existe! Passei lá em frente mais cedo. Está um ambiente muito aconchegante. Eles fizeram uma reforma e abriram a parte de trás, aumentaram o bar e colocaram uma decoração bacana. Melhorou muito desde que o vi pela última vez.

– Estou ansioso para ver.

Andamos por alguns quarteirões até o bar do Ailton, que agora se chama Recanto Verde. Até o nome eles mudaram. Mas foi bom para dar um clima mais legal ao bar. Chegamos e pegamos uma mesa nos fundos. O lugar está cheio e o barulho de vozes falando ao mesmo tempo é alto no interior do bar, nos fundos ainda tem pouca gente e as pessoas conversam baixinho. Pedimos um chopp artesanal e começamos a falar sobre faculdade, trabalho e a vida de morar sozinho. David é um cara muito mais ocupado do que eu. Trabalha o dia todo e faz plantão três vezes por semana. Frequenta a academia no horário do intervalo durante o almoço. E eu achando que não tinha tempo para nada, fiquei realmente impressionado. Mas ao contrário de mim, ele paga uma pessoa para dar uma geral na casa duas vezes por semana. Acho que posso comprar essa ideia, ele me disse que não é caro e deixa a casa um brinco. Depois de três chopps e alguns petiscos, começamos a falar de relacionamentos. Ele me fala que namorou uma tal de Grazi durante quatro meses, mas a falta de tempo e afinidade ajudaram a desgastar o relacionamento.

– A gente não gostava das mesmas coisas. Ela era bem mais baladeira do que eu. E quando ela queria sair, eu estava de plantão ou muito cansado.

– Sei como é... – Concordo com ele, mesmo ainda não tendo namorado ninguém

– Mas me fala de você, P.O... Ficou esse tempo todo sem ninguém? Não acredito! Vai me contando a verdade! – Ele fala me cutucando com o cotovelo.

– Sério! Eu já até me acostumei com essa vida de solteiro. Depois da faculdade, o trabalho e o treino na academia acabou tomando o meu tempo. Quase não saio de casa.

Hummm... Vamos ter que arrumar alguém para você quando for ao Rio, então. – Sua voz sai num tom sarcástico. – Você é um cara boa pinta. Não deve ser difícil.

Fico vermelho de vergonha ao receber elogios do meu velho amigo, que agora se tornou um velho amigo bonitão.

– Você também não está nada mal. – Digo sorrindo.

O silêncio paira na mesa, e nós nos encaramos. Fico sem graça e chamo o garçom que está passando para trazer a nossa conta. David permanece calado. Aproveito o meu momento de coragem, por causa do álcool e faço uma pergunta que está me corroendo por dentro.

– David... – hesito, acho que ainda falta álcool no sangue – você... você beijaria outro cara? – Pergunto, morrendo de medo da sua reação.

Ele abre os olhos e por um momento acho que ele vai me xingar, me repreender, ou caçoar da minha pergunta, mas ele fica pensativo e depois responde hesitante, olhando para baixo, em um tom sério:

– Eu... Eu não sei, P.O.

Tento decifrar a verdadeira resposta por trás do seu "eu não sei", mas apenas balanço a cabeça. O garçom traz a conta e nós pagamos, metade para cada um. Levantamos da mesa calados e saímos pela porta lateral do lugar. Andamos alguns metros sem nos falar, quando ele quebra o silêncio.

– Mas então... Quando vai me ver lá no Rio?

– Assim que você tiver um tempinho para mim. Vê lá um dia que não tiver plantão e me fala.

– Então está fechado! Te falo assim que souber da minha agenda desse mês. – Ele diz empolgado.

Não falamos mais da pergunta polêmica que o meu eu meio bêbado fez no bar. Apenas falamos como tudo permanece quase o mesmo na nossa cidade natal e quando chegamos em frente a minha casa, ele se despede de mim me abraçando de novo. Dessa vez o abraço é mais forte e demorado. Sua cabeça está bem perto do meu ouvido e a sua barba por fazer roçar o meu pescoço, o que me faz arrepiar.

– Obrigado por hoje. Gostaria de ficar mais tempo com você. Promete que vai me visitar? – Ele pergunta baixinho no meu ouvido.

– Eu prometo. – Digo baixinho no seu ouvido também.

O abraço demora mais alguns segundos e enfim nos separamos. Ele me olha nos olhos com um olhar triste, espera um pouco e se despede com um tchau. Eu me viro e entro em casa. No meu quarto, olho o relógio, são onze da noite, e eu estou aqui todo arrepiado, excitado e completamente coberto pelo cheiro do David. Tento ignorar o que estou sentindo, mas meu corpo deseja muito saber como é ficar com outro cara. Minha imaginação vai longe e eu acabo tendo que me satisfazer como posso, com os pensamentos começando em um David sem camisa e logo mudando para o meu Henri, em cima de mim, me beijando e me tocando.

Piloto (Amor sem limites #1)Where stories live. Discover now