Capítulo vinte e um

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Henri não diz uma palavra enquanto somos levados gentilmente pelos seguranças. Parece que o cara que queria briga é famoso aqui por arrumar confusão. Tento conversar com um dos seguranças, dizendo que não foi a nossa culpa, mas ele não responde, apenas continua balançando a cabeça. Quando chegamos do lado de fora, o segurança que estava segurando o braço de Henri diz:

– Eu vou deixar vocês aqui fora um pouco até despachar o outro cara para casa. Não queremos saber de mais brigas na porta da boate.

– Mas não foi a nossa culpa. – Eu falo desanimado.

– Nós sabemos. Por isso não expulsamos vocês na mesma hora. Aquele cara é um pé no saco. Já tinham que ter proibido ele de entrar aqui. – Ele suspira.

– Obrigado. – Agradeço ao segurança por não nos expulsar da boate.

Ele acena com a cabeça e sai, seguido pelo outro segurança. A porta acústica se fecha e ficamos do lado de fora, nos fundos da boate. Está quase totalmente escuro, a não ser por uma fresta de luz da lua cheia, nem mesmo o som da boate conseguimos escutar, devido às portas acústicas grossas. Henri está encostado na parede, apoiado por um pé, segurando a cabeça abaixada, como se tivesse tentando se acalmar. Dou alguns segundos para ele respirar e tento fazer o que eu já devia ter feito há muito tempo.

– Escuta, Henri... – engulo em seco – me desculpa?

Ele levanta a cabeça, com a expressão de surpresa. Não sei se não esperava que eu falasse com ele ou se foi por causa do pedido de desculpas.

– Pelo quê? – Ele responde, calmo, com a voz grave, sedutora.

– Por tudo. – Digo, encorajado pelo álcool. – Por hoje, digo, por ter me defendido daquele cara, por não ter respondido sua mensagem, por te ignorar na academia, por... você sabe... – Não consigo terminar a frase.

– Não tem porquê se desculpar, P.O. Eu que fui um idiota com você. Foi tudo porque...

Ele para de falar e suspira. Eu espero.

– Olha, me desculpa mesmo. É só que você é um cara muito legal e bonito. – Isso me pega de surpresa. – E desde quando te vi na academia fiquei com umas vontades estranhas... Eu só não queria confundir as coisas.

Ele não parece estar envergonhado de estar falando tão abertamente assim, talvez ele esteja bem mais no grau do que de costume.

– Confundir o que? – Agora ele me confundiu.

– É que me deu muita vontade de tocar em você, sabe? – Ele dá uma risada sem graça – Mas nunca pensei, nem no mais remoto momento da minha vida que poderia beijar um cara um dia. Por isso fiquei sem jeito, mas não foi nada com você, foi comigo mesmo.

– Me desculpa por tentar forçar alguma coisa. – Respondo. – A gente pode esquecer aquela parte e ficar só com o salto de paraquedas? Foi o melhor momento da minha vida! – Digo animado.

– Pra mim também! – Ele diz triste, e olha para baixo. – Mas eu não quero esquecer...

– Não? – Pergunto, confuso.

– Não P.O. Eu estou aqui parado e você está em pé na minha frente e eu não estou nem aí para a briga lá fora, nem para a Renata, nem para ninguém, a única coisa que eu consigo pensar é em como seria tocar você e te acariciar todinho. – Ele abre um sorriso torto, safado, talvez.

– E por que não toca? – Pergunto. Meus olhos colados no dele, iluminados pela luz da lua.

Ele levanta o rosto com o olhar assustado, como se não acreditasse no que eu tinha dito e com um impulso me abraça forte. Seus braços fortes me envolvem, e eu o abraço de volta, passando minhas mãos por suas costas largas e fortes. Ele me aperta contra o seu peito e sua barba recém feita arranha o meu pescoço, o que me deixa louco. Meu Deus! Não sabia que poderia sentir isso só com um abraço, e principalmente, o abraço de um outro homem. Meu coração está acelerado, como se eu tivesse saltando de paraquedas de novo. Ficamos assim por um minuto inteiro, sua respiração forte no meu ouvido e seu coração batendo forte, encostado no meu peito. Sinto sua ereção encostando na minha, mas não nos mexemos, apenas ficamos ali curtindo o momento. Então ele me solta, e a coisa que eu mais queria nessa vida passa a ser mais um momento em seus braços. Ele se afasta de mim, olha para o céu e suspira.

– Isso foi bom. – Ele diz.

– Foi. Foi muito bom. – Digo, ofegante.

– Olha, agora eu tenho que voltar. Renata estava no banheiro quando tudo aconteceu. Deve estar preocupada comigo, ainda mais porque eu não trouxe o meu celular. A gente se fala, então? – Ele coloca de novo aquele sorriso pelo qual não consigo negar nada.

– Claro, a gente se vê sim! – Respondo, triste pelo momento ter sido quebrado simplesmente pelo fato de que ele tem uma noiva e que ele vai se casar com ela.

– Então, até logo P.O. – Ele se despede, sem sair do lugar.

– Obrigado por hoje. – Resumo ele me salvando da briga e o nosso momento juntos.

– Quero repetir isso mais vezes... – ele sorri – não a briga... você sabe.

– Eu também. Agora vai lá. Tem alguém te esperando.

Ele sorri sem graça, levanta o punho e eu dou um soco fraco, e então sai pela porta acústica. Fico por um momento no escuro frio do lado de fora. Fecho os olhos e tento me lembrar de alguns minutos atrás. O que foi aquilo meu Deus? O que foi que o Henri fez comigo? Não consigo definir o que eu sinto quando estou perto dele, mas sei que nunca senti uma atração tão forte assim por alguém antes. Suspiro fundo, o cheiro dele ainda está no ar, arrumo a minha camisa, um pouco amassada e guardo cada milésimo de segundo do nosso abraço no lugar mais seguro das minhas lembranças.

Piloto (Amor sem limites #1)Where stories live. Discover now