Capítulo trinta e quatro

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Acordo assustado com um barulho estridente da sirene de uma ambulância debaixo da minha janela. Abro os olhos devagar tentando me acostumar com um quarto inundado pela luz do sol. Fecho os olhos novamente e fico tateando a cama inteira em busca do meu celular. Quando o encontro, abro o olho esquerdo para olhar as horas. Ainda são nove da manhã, eu não acredito! Ontem, depois de tudo o que aconteceu – levando em conta de que não sonhei tudo – cheguei em casa e Lalá já estava dormindo, entrei silenciosamente e fui para o quarto, ainda com resquícios de excitação. Deitei na cama e fiquei viajando em tudo o que tinha acontecido dentro daquele carro, simplesmente não consegui dormir por horas, e agora já estou acordado. – Suspiro.

Viro para o lado, e quase caio no sono novamente, mas minha cabeça fica o tempo todo martelando de que devo ir ver como minha prima está. Luto comigo mesmo por vários minutos até que a parte que quer dormir perde para a minha consciência. Levanto devagar e preguiçosamente, vou até o banheiro, faço minhas necessidades fisiológicas e saio do quarto para ver como andam as coisas. Me deparo com uma sala toda arrumada, roupa de cama dobrada e travesseiros empilhados, mas nenhum sinal da Lalá. Procuro pela cozinha, mas também não a encontro, até que vejo um bilhete em cima da mesa. Sento em uma cadeira, bocejando, pego o bilhete e o abro.

"Primo, obrigada pela estadia. Acordei cedo, fiz café e depois saí pra fazer minha prova. Espero que não se importe de eu ter usado a sua cozinha. Quero voltar em breve para passarmos mais tempo juntos. Obrigada por tudo. Você é o melhor primo que alguém poderia querer.

Lalá."

Essa minha prima – e amiga – é muito mais do que eu mereço, viu? Muito educada, prestativa e legal. Onde já se viu, se desculpar por que usou a cozinha? Gosto dela de graça! Espero sinceramente que volte para ficar mais tempo comigo. Apesar de uma parte de mim ontem ter desejado que ela não estivesse aqui, para poder ficar a sós com Henri. A simples menção do seu nome já começa a me deixar excitado, e em um estado mais desperto do que estava há poucos minutos. A noite ontem foi simplesmente inacreditável, Henri me surpreendeu segundo após segundo desde que entrei no carro e eu nunca fiquei tão excitado na presença de outro homem. Ele mexe muito comigo e a essa altura já nem sei mais nada sobre minha sexualidade.

Deito sobre os braços em cima da mesa e fico quieto por alguns minutos, mas acordo assustado com o braço dormente. Decido que preciso tomar um café e ouvir uma música para acabar de acordar. Coloco meu celular para tocar enquanto pego queijo e leite na geladeira e pão na cesta de pães. Antes do café, como uma banana enquanto canto uma música alto. Parece até que o meu cansaço foi embora e por nenhum motivo específico estou de super bom humor, até mesmo meu sono acabou.

Aproveito o embalo para poder dar uma geral na casa. Coloco meu celular no docke aumento o volume no nível máximo. Canto pela casa enquanto limpo, arrumo, mudo os móveis de lugar e limpo outra vez. Nem cogitei treinar na academia hoje de manhã, já que a casa estava precisando de uma geral e faço meus exercícios enquanto limpo e movo os móveis de lugar. Acabo meu serviço ao meio-dia e nem mesmo estou exausto. Faço um almoço bem gostoso, depois lavo a louça e me aconchego no sofá, ainda cantando uma música antiga que eu adoro. A playlist online hoje combinou muito com o meu humor e me ajudou bastante nas tarefas domésticas. Relaxo no sofá ao mesmo tempo que começa uma música mais calma. Fecho os olhos e quase pego no sono, mas sou interrompido pelo barulho de notificação do meu telefone.

A princípio ignoro qualquer pessoa que possa estar me incomodando até que meu cérebro me dá a dica de ouro: pode ser ele. Meu coração se acelera, dou um pulo do sofá e pego o celular para ver quem é. Carla.

"Não estou mais aguentando a insistência do Léo de te chamar pra sair com a gente."– Recebida às 13:27

"Ah é? Pelo menos sei que alguém sente a minha falta"– Enviada às 13:27

"Claro que eu tbm sinto sua falta, mas é que eu sei que vc não está animado a sair"– Recebida às 13:28

"É verdade. Essa semana acabou comigo... pra piorar ainda fui dormir tarde ontem e hoje acordei cedo."– Enviada às 13:28

"Ué?! Como assim dormiu tarde, seu safadinho?! Andou aprontando?"– Recebida às 13:29

Às vezes acho que Carla sabe de tudo e fica me cutucando. Isso ou porque ela realmente tem um sexto sentido que advinha as coisas que tento esconder dela. Preciso confessar que sinto falta de um amigo desses que se pode contar tudo, digo, tudo mesmo, até o que está acontecendo na minha relação com o Henri. Carla parece ser essa amiga que eu preciso, mas tenho muito medo de compartilhar isso com outra pessoa. Estou muito confuso e tenho medo de que ela nunca mais queira sair comigo por causa disso, ou até pior, acabar arrumando uma confusão na vida de Henri. Tento contornar o seu sexto sentido:

"Claro que não. É que a minha prima Lalá estava aqui e ficamos até tarde conversando."– Enviada às 13:31

"Ah tá. Então vc não quer sair hoje mesmo? :( "– Recebida às 13:32

"Vamos deixar para semana que vem, por favor?!"– Enviada às 13:32

"Ta bom. Mas semana que vem a gente vai ter que sair juntos. Você promete?"– Recebida às 13:33

"Prometo. Vamos sair sim. Pode falar com o Vizinho."– Enviada às 13:33

"Ok, então. Beijos!"– Recebida às 13:34

"Beijo!"– Enviada às 13:34

Então é isso. Já preciso me preparar psicologicamente para o final de semana que vem, porque não vai ter como fugir. Quando você promete uma coisa para a Carla, ela vai até no inferno te buscar para você cumprir, então já sei que vamos ter que sair juntos semana que vem. Meu celular toca outra vez. Deve ser a Carla confirmando que falou com o Vizinho.

"Me desculpe pelo o que aconteceu ontem. Podemos nos ver?"– Recebida às 13:34

Meu coração já dispara quando vejo o nome dele no remetente. Leio a mensagem várias vezes e tento pensar numa resposta para isso. Fico com um frio na barriga. Não sei se quero ver Henri. Como assim não sabe?!– Meu cérebro me pergunta, nervoso. – É o que você mais quer nesse momento! Tenho que concordar com meu cérebro. Realmente, o que eu mais quero nesse momento é estar com ele, olhar naqueles olhos redondos e negros como a noite, aquela pele morena toda tatuada e escutar aquela voz grossa e macia me dizendo no ouvido "olha o que você faz comigo". Arrepio com a lembrança do carro e faço a única coisa que já devia ter feito desde a primeira vez que li a mensagem:

"Quando você quiser."– Enviada às 13:36

"Vou te buscar em meia hora. Esteja pronto."– Recebida às 13:36

"Ok. Estarei."– Enviada às 13:37

"Beijo."– Recebida às 13:37

Fico sem reação ao ver a palavra "beijo" na última mensagem. É muito estranho vindo de outro homem. Henri deve ter se acostumado a mandar beijo para a namorada. Mas então isso significa que.... eu... Não! Não significa nada! – Meu cérebro faz questão de deixar claro. – Apenas vou ignorar a última mensagem, mesmo não conseguindo ignorar a excitação que ela me causou. Respiro fundo, levanto cheio de energia e vou tomar um banho para me encontrar com o meu Piloto favorito.

Piloto (Amor sem limites #1)Where stories live. Discover now