Capítulo 1: A Festa de Despedida

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Ao abrir os olhos, Adriel não sabia onde se encontrava. O recanto não era comparável a nenhum dos lugares que já presenciara na vida e tampouco era o quarto no qual fora dormir na véspera de seu vigésimo sétimo aniversário. Sentiu-se como se houvesse despertado em um santuário; este era branco, cristalino e castiço, como a própria essência. Não possuía portas. A única entrada e saída estava ao lado da cama em acordara: uma colossal janela sem vidros, como um portal membranoso conectando dois universos distintos. Por ela passavam os únicos feixes de luz que iluminavam o cômodo onde estava; feixes claros e suaves, feito os que incidem sobre a Terra no crepúsculo ou na aurora.

O vento soprava no rosto de Adriel como um monge acariciando as flores do mosteiro, fazendo-lhe saber, de alguma forma, que deveria estar ali – fazendo-lhe sentir isso.

Sentou-se, apoiado sobre os braços, sorrindo em resposta brisa que adentrava a janela. Acompanhando-a, havia um som; uma melodia que aumentou seu riso, pois ele a conhecia.

Notas musicais repletas de lembranças, fazendo-lhe mergulhar em seus dezenove anos, quando a mesma música que tocava do outro lado era a sua favorita.

E assim, com o gatilho o fazendo transpor universos geográficos e temporais – como muito fazemos –, ele estava no andar debaixo de um bar feito com estruturas de madeira em meio ao concreto que toma a modernidade. Segurava um copo de vodca barata acompanhada de um refrigerante sabor limão e, sozinho em meio a muitas pessoas – como adolescentes geralmente tendem a ficar –, ouvia a banda tocar um lance de escadas acima. As pessoas curtiam, dançavam, balançando as cabeças, bebendo, trocando cigarros flavorizados, balas e beijos. Adriel adorava aquele ambiente. Sua música favorita, porém, – a que o imergira em tal lembrança – era ouvida apenas em seus pensamentos, que, distantes, viajavam ao encontro de Carla, um antigo amor; a letra era cantada em um tom de country rock misturado com blues.

(...)

Pertenço a ela e ela a mim,

E juntos somos um, juntos somos completos

Nós podemos, baby,

Sei que podemos, baby

(...)

Ele podia visualizar-se observando seu telefone celular, como se fosse uma lembrança recente, aguardando a resposta da garota que amava, esperando apenas que ela dissesse que o queria para correr em sua direção. Mesmo ali, apenas recordando o acontecimento, tinha a certeza de que correria.

Mas as coisas se vão (não é mesmo, baby?). O momento se foi e ela também. A Adriel restava apenas a lembrança, fazendo-lhe pensar vez e outra como estaria sua vida se houvesse trilhado um caminho diferente, os outros infinitos possíveis caminhos que poderia ter seguido e como estaria nestes.

(E se?)

A música o fez sentir-se mais confortável com a situação. Montava-se o palco e ele era o artista principal. Olhou uma última vez ao seu redor, ainda perplexo e admirado, e se levantou diante da imensa abertura que o separava do inesperado.

A visão da janela foi o momento mais feliz de sua existência.

Todos estavam lá. Todos seus amigos e conhecidos, até mesmo os que haviam falecido por algum infortúnio mundano, vítimas de trágicas coincidências que desencadeiam em acidentes que foram, são e serão para sempre lembrados com muita tristeza. Todas suas paixões e todos seus amores, mesmo as garotas que conhecera por apenas por um dia, mas das quais Adriel se lembrava com grande carinho e nostalgia. Todos eles conversavam e interagiam, segurando seus copos de plástico vermelhos, amarelos, azuis, verdes e roxos com bebidas, e sorriam. Sorriam de uma forma que raramente as pessoas o fazem; uma alegria genuína. Eram suas músicas que tocavam no local e era possível ouvir pássaros cantarolando em um horizonte distante onde o sol se punha; seu momento favorito no dia, quando o mundo adquiria um tom alaranjado, dando um tom de sépia aos rostos e cabelos das pessoas.

O Pecado da JuventudeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora