Capítulo 10: Molhado por Lágrimas

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Adriel acordou em sua cama com o rosto molhado por lágrimas e o coração acelerado. As pernas doíam e a cabeça também. Não se lembrava bem do sonho que tivera... teria sido um sonho? Lembrava-se apenas de algumas imagens, lapsos, mas sabia que algo especial havia acontecido. E com os minutos, as imagens se esvaíam: cinquenta por cento dos sonhos são esquecidos após os primeiros cinco minutos em que está acordado; noventa por cento após dez destes.

Ele se levantou e foi ao banheiro. Olhou-se no espelho. Reparou algumas rugas e alguns fios brancos em seus cabelos.

– Feliz vinte e sete anos, Adriel – congratulou-se e tentou sorrir, abrindo o armarinho para pegar sua escova de dentes.

No outro cômodo, o telefone começava a tocar. Pensando que talvez fosse alguém querendo desejar-lhe feliz aniversário, ele correu para atendê-lo.

– Alô – disse, pegando o telefone e caminhando para a cozinha.

Alô. Estou falando com Adriel? – era uma voz feminina que ele não conhecia.

Meu Deus... a primeira ligação no meu aniversário: telemarketing.

– Sim, aqui é Adriel. Com quem falo? Me desculpe, senhora, mas... – ele começou a tentar dispensá-la, mas ela o interrompeu.

Olá, Adriel. Desculpe incomodá-lo tão cedo... mas... seu número e seu nome estavam na agenda de meu menino e...

– Espera. Me desculpe. Do que a senhora está falando? Com quem falo? Que menino?

Não me apresentei? Me desculpe... é que está sendo um dia tão difícil. Sou Marta, sou mãe de Thomas.

Thomas?, a cabeça de Adriel doeu e ele se recordou de ter trocado algumas palavras com Thomas em seu sonho.

– Thomas? – ele perguntou. – Ele está bem? Aconteceu alguma coisa?

Deus... – Marta disse e Adriel pôde ouvir seu choro do outro lado da linha.

Aqui é uma espécie de segundo plano, Adriel. Há outros, mas muito mais complexos. Este já é confuso o suficiente, não acha? Estou aqui, mas também estou lá e em outros lugares e outros tempos.

A voz de Thomas bombardeava sua cabeça.

Morto? Não, não, meu amigo. Este é um lugar como qualquer outro. Basta saber chegar a ele.

– Marta, Marta! Aconteceu alguma coisa? Ele está aí? Eu posso falar com ele? – ele se agitava, caminhando de um lado por outro.

Oh Deus!

– Marta, é importante! Por favor! O que está acontecendo?

Thomas... Thomas morreu esta noite, Adriel. Estou te ligando para avisá-lo do velório, pois sei que ele te tinha como um grande amigo.

– Espere! Espere! Como assim ele morreu essa noite? Como? Marta? E Adriel se recordou de outras palavras de seu amigo: "desde que me matei". – Ele se matou, Marta? Thomas se matou? – ele perguntou sem antes pensar em o quão horrível essa pergunta seria para uma mãe.

Se matou? O que... não! Cristo, não! – e ela voltou a chorar. – Ele nunca faria isso!

A resposta o espantou.

– O que aconteceu, Marta?

A casa dele foi assaltada... levaram tudo... ele... ele morreu na própria cama... meu Deus! Um tiro! Um tiro no peito. – E o choro tomava proporções gigantescas. UM TIRO NO PEITO DO MEU MENINO!

– Marta... Marta... – ele tentava manter a calma. – Calma, Marta, venha aqui, deixa esse... – Adriel ouviu alguém dizer do outro lado da linha em meio aos gritos de Marta.

E a ligação caiu.

Ele nem perguntara onde seria o velório ou as horas. Ele não iria ligar para aquela mulher naquele estado. Talvez algum de seus amigos soubesse.

Morto... Thomas está morto. Morreu essa noite..., Adriel pensava no fato contrapondo-o com tudo o que se lembrava de seu diálogo com Thomas em seu sonho. Seria mesmo um sonho? Ele dissera que era uma espécie de segunda dimensão ou plano ou o que quer que fosse, dissera que era um lugar que existia. Teria dito isso antes ou depois de morrer? Teria realmente dito isso ou Adriel estava apenas delirando e acreditando em coisas tolas? Como poderia pensar que existia alguma vida diferente da que tinha? Estava alucinando...

Estava?

Fato é que com a morte de Thomas, ele nunca teria certeza.

E, ao parar de pensar sobre aquele assunto, Adriel se sentou no sofá e começou a chorar, atentando-se ao fato que realmente importava: perdera seu amigo.

Thomas estava morto, fosse o segundo plano verdade ou não, inalcançável ou não.

Morto.

E Adriel passara seu vigésimo sétimo aniversário no velório e no enterro de um grande amigo, não se questionando sobre a juventude e o tempo, mas sobre a própria vida, sentindo a dor de perder alguém próximo.

O Pecado da JuventudeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora