Capítulo 5: É Necessário Crer

19 2 0
                                    

Dizem-nos para seguir nossos sonhos, mas esse caminho nos leva à felicidade e à libertação ou a uma eterna frustração da qual jamais iremos nos recuperar? Devemos nós, meros humanos, pessoas comuns, que temos que estudar, trabalhar, acordar cedo, sofrer, gritar, sorrir e amar, observando o mundo pela ótica comum, observando as pessoas na televisão e no cinema tão glamorosas, perfeitas e inalcançáveis, desejando ser como eles, rejeitando-nos frente ao espelho às vezes e amando-nos em outras raras... devemos aceitar a nós mesmos e nossas posições ou ambicionarmos por mais (e mais, e mais, e mais...)? Inspiramo-nos nos melhores, mas somos nós cegos para nossas próprias limitações, pessoas tentando atingir o inatingível, nos lançando de um precipício, esticando os braços para tentar alcançar uma beirada do outro lado, uma beirada que não existe... ou somos nós ilimitados – como os mais abençoados dizem todos sermos – aguardando pelo nosso momento de glória (que certamente virá)?

Existe felicidade no agora? Ou estamos fadados a correr eternamente para algo que está além e sempre além?

(Oh, como é árdua a vida em alguns momentos.)

(Tamanho é o fardo e a benção de poder pensar. Tamanha é a complexidade de ser.)

Siga em frente, Adriel! Todo o tempo do mundo é pouco se atrelado aos nossos desejos. Para aquele que quer sempre mais, nada jamais será o suficiente.

Mas uma coisa é certa: o tempo nunca espera. Por isso corra, Adriel! Corra!

As luzes amareladas dos postes iluminavam a rua, guiando para um beco. À direita e aos lados, protegidos por imensas árvores, erguiam-se sobrados tais como os encontrados no começo de sua jornada. Sabia que seu caminho não seria trilhado entre estes. Tal como das outras vezes, havia apenas uma direção para seguir: um íngreme e alto morro à sua esquerda. Bem no horizonte era possível ver uma linha de céu azul, o que indicava que talvez – e Deus queira que sim! – as horas não houvessem passado da forma como julgava. Porém – e sempre há um "porém", não é mesmo? – havia um pequeno obstáculo.

Como escalar um morro com cerca de cinquenta metros e uma inclinação de aproximadamente setenta e cinco graus? Era como uma parede enorme se entrepondo no seu destino.

Adriel então sentou-se um pouco. Estava exausto.

Sentado, refletiu sobre o que vivera naquele estranho dia. Não saberia dizer se ver tudo aquilo era uma tortura ou uma benção. Tampouco imaginava o que teria sido sua última festa. Seria apenas um momento que ficaria para trás como todos os outros que presenciara ou seria mais que isso? Existia de fato algo maior que isso? Algo maior que o momento? Ou seria isso uma busca cega para completar um vazio imaginário? Todas as pessoas que estavam lá passaram por sua vida e, de alguma forma, saíram de sua vida. Por que essa necessidade de tê-las? De possuí-las, como pássaros raros em uma gaiola. Por quê? Talvez fosse um pensamento egoísta, mas Adriel admitia para seu íntimo, às vezes, que era uma pessoa egoísta. E quem não é? Não saber explicar o porquê não atenuava a sua vontade. Precisava encontrar o Velho Mago. Precisava que ele existisse, nem que fosse apenas para ele, Adriel, apenas para sua juventude. Não queria abrir mão desta.

Ele então se pôs de pé, sabendo que ficar sentado não o levaria a lugar nenhum – e isso seria inaceitável. Olhou para os lados à procura de alguma espécie de equipamento que tornaria possível subir aquele local, caminhando da esquerda para a direita, para trás e para frente, levantando caixas e entulhos à procura de qualquer coisa; devia haver algo, afinal.

Já não lhe eram suficientes o curto tempo e as árduas lembranças que encontrara? Não compreendia o obstáculo... a escolha que fizera ao correr pela rua ladrilhada, deixando para trás a sua festa pesava cada segundo mais. Vez tirava o suor do rosto, vez uma ou outra lágrima.

O Pecado da JuventudeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora