Capítulo 8: O Retorno

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Adriel sentia suas pernas queimarem, mas a vontade superava o preparo físico. As lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Falhara.

À medida que se aproximava, todo o seu passado foi ao seu encontro, como uma descida alucinante em um tobogã feito com lembranças... ao fim, tudo se esvairia; passado tudo se tornaria. Passado tudo era, afinal, por mais que doesse admitir.

Aproximando-se, reencontrou Lucas e Raphael.

– Te avisamos, Adriel – Raphael lamentou. – Dissemos para você aproveitar sua festa! Mas você nos ouviu? Não! Perdeu uma grande festa, meu caro. Inesquecível.

Adriel não pôde deixar de notar que não havia mais que um décimo das pessoas que lá estavam quando partira. Ignorando o comentário e com a tristeza tomando a voz, ele indagou.

Onde estão todos?

– Já se foram... a festa está prestes a terminar. Sirva-se de um copo – Lucas disse, oferecendo-lhe um copo cheio de bebida.

Adriel caiu aos joelhos; as mãos juntas ao rosto.

Por quê? Por quê?

– A escolha foi sua, Adriel – Raphael ressaltou. – Avisamos que seria uma árdua caminhada. Avisamos que era feito para poucos, que o sensato seria ficar e aproveitar. Mas você escolheu não nos ouvir, escolheu correr para sua ambição, ignorando tudo que já tinha. Virou-se para todos para conseguir o quê? Para conseguir todos?

Eu não poderia perdê-los! Não poderia perder a todos!

– Mas você que escolheu deixá-los e partir, não se lembra?

AAH! – Adriel gritou, levantando os braços. – EU SEI O QUE EU ESCOLHI! Mas... mas... foi apenas porque queria que todos continuassem em minha vida! Apenas por queria que não se fossem!

– E por que você os deixou ir então? – Raphael disse, abaixando-se. – Por que deixou todos se afastarem, Adriel?

– Mas... – Ele olhou para o resto das pessoas. – Mas... não foi eu... vocês mesmos disseram... foi o Velho Mago.

– Foi mesmo, Adriel? Foi mesmo o Velho Mago?

Vocês disseram!

– Quantas vezes você teve a oportunidade de procurá-los? Quantas vezes eles os procuraram? Quantas vezes você disse não, hein? Quantas vezes negou todos aqueles pelos quais você disse estar batalhando? Quantas?

CALE-SE!

– E os negou mais uma vez... uma última vez.

CALADO! CALADO!

A escolha é sempre sua, Adriel.

MAS VOCÊ DISSE! – Ele apontou para o rosto de Raphael. – VOCÊ DISSE QUE ELE QUE OS TIRARIA DE MIM! QUE ELE TIRARIA A JUVENTUDE DE MIM! VOCÊ MENTIU? VOCÊ MENTIU PARA MIM! ESSE DESGRAÇADO SEQUER EXISTE.

– Eu não menti, Adriel. O Velho Mago tira a sua juventude porque você já não a deseja mais... você mesmo a afastou. Você mesmo abandonou todos. O Velho Mago apenas vai fechar a porta pelo lado de fora, porque, bom, como você pode ver – ele estendeu os braços para trás –, não haverá mais ninguém dentro. Não haverá mais ninguém na sua festa de juventude, Adriel. Por que não aproveitar este lugar para que outras pessoas venham ter suas festas? Entende? Você quer manter um lugar vazio... se não acredita, veja você mesmo.

CALADO, DESGRAÇADO! CALADO! O VELHO MAGO NÃO EXISTE! ELE NÃO ESTAVA LÁ! EU NÃO O ENCONTREI! EU NÃO ENCONTREI O VELHO MAGO.

– Sabemos disso – ele respondeu.

Adrielolhou no fundo dos olhos de Raphael, pulando para agarrar-lhe o pescoço. Lucas, contudo, o segurou.

– O Velho Mago passou por nós – Raphael explicou. – Disse que há muito não descia de seu morro e desejava rever as redondezas.

Adriel se soltou, olhando para os lados, entorpecido e, não se contendo, agarrou seu colega pelo colarinho.

PARA ONDE ELE FOI?

Raphael apontou para o lado oposto do qual Adriel viera.

– Não adianta se exaltar, Adriel – Lucas interveio. – Era tarde demais quando você saiu e é mais do que tarde agora. Beba sua bebida e se despeça das pessoas que ainda ficaram. É o melhor que pode fazer. Logo mais, não haverá ninguém.

– Qual o sentido disso tudo, Adriel? Por que correr tanto atrás de todos aqueles que você abandonou? Por que você quer tanto manter esse lugar vazio aberto? Por que insiste tanto nisso? Por que você não vive o seu presente, Adriel?

Mas não vieram respostas. Agarrado a um lapso de esperança e medo, Adriel nada disse. Apenas correu na direção para qual Raphael apontara.

Eles nunca aprendem... – Lucas suspirou. – Não se pode alcançar o tempo... este é apenas rápido demais.

– Eles não conseguem se desapegar, mesmo vendo a realidade.

– E qual seria a realidade, Raphael?

– Que já se desapegaram há tempo, apenas não admitiram isso para si mesmos.

– Você realmente acredita nisso?

– Olhe ele. – E apontou para Adriel, que corria desesperadamente. – Você não acha que se ele de fato amasse a todos, não teria escolhido ficar? Ele ama a ideia de tê-los e não a eles. Não ama a juventude, e sim a ideia de tê-la. Não consegue perceber que o passado já passou e que isso não é ruim. É como uma criança que jura que não vive sem sua manta e um dia a tiram dela, e ela vive, mas quando a vê de novo, adulta, se agarra a manta e não consegue entender como vivera sem ela.

– Por que somos assim, Raphael?

– Porque somos humanos, Lucas. Somos falhos e nos negamos a aprender sobre o que mais devíamos: nós mesmos.

– Mas não vamos aprender nunca? Digo... nunca notaremos o quão absurdo é a forma como agimos diante de tudo? O quanto explodimos sem motivo e o quanto nos importamos com coisas que não importam?

– Talvez um dia, Lucas. Bom, eu espero que sim. Seria bom ver as pessoas felizes. Seria bom ver pelo menos alguém aproveitando sua festa. Apenas uma pessoa!

– É verdade...

– Mas vamos? Já está quase amanhecendo.

– Tá bom. Vou sou pegar um copo.

– Eu te acompanho. Foi uma ótima festa, né?

– Sim... pena que o homenageado não estava.

– É bom você ir se acostumando – Raphael disse. – Pois até onde eu sei, nenhum deles nunca esteve.

Ambos sorriram, foram ao freezer e se serviram de um último copo, olhando uma última vez para o caminho que pelo qual seguiu Adriel. Por fim, viraram-se e foram embora. 

O Pecado da JuventudeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora