Conto 4

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Amor nas pequenas coisas

Alice nasceu na primavera, no primeiro dia da primavera. Ela, com seus cabelos cacheados e ruivos, passou a amar muito mais essa estação do ano do que as demais. Parecia um pássaro sendo liberto toda vez que flores começavam a aparecer na estufa de sua casa.

Seus pais construíram a estufa quando ela tinha apenas cinco anos de idade, a pedido da mesma. Era ali que ela passava seus momentos livres e os não livres também. Arrumava desculpas depois do jantar para fugir para a estufa e de lá observar as estrelas no céu.

Ela tinha a impressão de que a primavera tornava tudo mais mágico, mais vistoso, mais contemplante. Talvez por ter sido nessa época que ela conheceu sua melhor amiga. A vida as apresentou e depois, com a mesma velocidade, as afastaram. Era difícil acreditar que a pessoa com quem você dividiu seus mais íntimos segredos não habitava mais no mesmo planeta que o seu.

Alice balançou sua cabeleira para afastar os pensamentos tristes. Mesmo depois da morte de uma das pessoas mais importantes de sua vida, o lema da garota sempre continuou o mesmo: sempre sorrir.

Naquela manhã de sábado, ela acordou cantarolando uma de suas músicas preferidas. Cuidou de seus coelhos de estimação, conversou com seu avô sobre a previsão do tempo, pegou o jornal para o seu pai e picou legumes para sua mãe. Todos os dias daquela estação do ano estavam sendo exatamente assim. Mais leves, mais iluminados, mais relaxantes. Ela acordava com a disposição de um filhote de Retriver.

Depois de ser sempre prestativa para quem morava no mesmo teto que ela, Alice se preparou para encontrar com seu crush. É claro que, mesmo na história da Alice no País da Gentileza, haveria um crush com quem poderíamos shippa-la. O nome dele é Alan. Toda vez que ela dizia ou pensava esse nome, a primeira referência que surgia em sua cabeça é o grande leão de As Crônicas de Nárnia, seu livro preferido.

O rapaz, naquela manhã, vestia uma linda blusa estampada de rosas vermelhas. Alice achava isso um máximo. Ele trabalhava em uma floricultura e sempre vestia roupas que tinha algum detalhe florido. No início, Alice desconfiou que talvez ele gostasse do mesmo tipo que ela, mas, depois que ele pediu o número de telefone dela e eles começaram a conversar diariamente, aquele pensamento um pouquinho preconceituoso sumiu de sua mente.

Alan estava ocupado atendendo uma senhora quando Alice entrou em seu recinto. Ela o admirava de longe, seu sorriso puro e sincero, o modo como tratava as pessoas, o jeito como olhava para as coisas, o modo de falar como se já tivesse vivido muito mais do que se podia viver. Ele era exatamente o espelho dela. O espelho da bondade, da gentileza, do amor, da gratidão, da luz.

A senhora que Alan atendia parecia entretê-lo com uma piada que envolvia abelhas e cactos, então garota ruiva resolveu dar uma volta na floricultura. Era de se imaginar que ela fosse se apaixonar por um lugar como aquele. A decoração ornamentava perfeitamente com o brilho e aroma do lugar. Parecia coisa de outro mundo, de um mundo de não fosse extremamente poluído e globalizado.

Ela estava de costas quando ele a viu e não conseguiu conter o sorriso. A senhorinha olhou para o local para onde ele olhava e sorriu também.

- É sua namorada? – perguntou voltando sua atenção para ele de novo.

- Ainda não – ele sorriu envergonhada por ela ter notado – Mas espero que seja em breve.

- Torço para que isso aconteça, querido – ela o encarou com sinceridade – Conheço a família da menina. Ela sempre foi muito alegre, gentil, espalhando amor por onde passava. É de se espantar que ela continue do mesmo jeito depois da tragédia pela qual passou.

Sobre melhores amigosWhere stories live. Discover now