Conto 7

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O Amor tem seu Tempo

O verão é uma estação estranha. Um sol escaldante e uma necessidade absurda de se beber água de cinco em cinco minutos. Você fica exausto com o mínimo de esforço que faz e se estressa com uma facilidade maior que o normal.

É assim todo o verão que Luísa passa em sua cidade natal, no interior de Minas Gerais. 

Mas as coisas estavam prestes a mudar.

Dois dias atrás, uma ligação impediu que ela tirasse seu diário cochilo da tarde. Do outro lado da linha, sua avó lhe dava um oi animado. Fazia muito tempo que elas não se viam e era a respeito desse assunto que se tratava. Vovó Almerinda queria que ela passasse o próximo verão ao seu lado e, é claro, Luísa topou na hora.

Convencer a mãe não foi muito difícil. Luísa já tinha os seus 18 anos garantidos, seguia firme com seu sonho de estudar Psicologia e escrever um livro sobre a mente dos adolescentes. Ela era fascinada nas paranoias que o cérebro jovem é capaz de criar.

E assim que pisou nas terras cariocas, mais precisamente em Angra dos Reis, descobriu que aquele era o lugar perfeito para as suas pesquisas.

- Ainda bem que você chegou, Luísa! Você é psicóloga, não é? Pois então, eu preciso desabafar com você.

Isabel nem esperou as respostas chegarem, agarrou a sua prima (que nem sequer já havia se matriculado em um curso de Psicologia, mas, pelo visto, já era considerada psicóloga) e a levou para a sala de leitura da casa de sua avó. 

- Respira fundo, Isabel - Luísa pediu achando um pouco de graça naquela afobação toda.

- Não tem como! Eu estou desesperada - a menina passou a mão pelo rosto e depois as levou até o cabelo para prendê-lo em um coque alto.

- Tudo bem. Mas, antes de conversamos, duas coisas - Isabel fez uma cara de tédio e esperou Luísa prosseguir - Eu não sou psicóloga, nem nunca fui a uma faculdade! E, em segundo, o que aconteceu exatamente?

Bel respirou fundo e contou tim tim por tim tim. Luísa ouviu perfeitamente com seu semblante neutro de psicóloga em treinamento. 

- E agora ele gosta da Letícia, sendo que ela gosta do irmão dele! E ele gostava de mim antes, mas como eu não gostava dele, ele desistiu. Só que agora, eu gosto dele! - a voz dela era desesperada e, assim que terminou de falar, enfiou seu rosto em uma almofada. 

O desespero dos adolescentes.

- É uma situação bem complicada - Luísa pensou bem antes de começar a falar.

- E você acha que eu não sei? - ela atirou a almofada em sua prima mais velha. 

O fascínio de Luísa pelos dramas jovens começou bem antes da própria passar pelos seus dramas. Sua mãe sempre achou que, por causa disso, ela amadureceu demais para a idade. 

Luísa nunca havia sofrido por amor, então talvez não esteja familiarizada o suficiente com os sentimentos de sua prima no momento. Ela sabia que a dor do amor é uma das piores dores já sofridas. Todo mundo sabia disso, todo mundo falava sobre isso, todo mundo já havia passado por isso. 

- Bel, você acha que o seu sentimento por ele é verdadeiro ou é só porque você o perdeu que está desse jeito agora? - Luísa mordeu os lábios com um pouco de medo de levar outra almofadada.

Adolescentes detestavam ter seus sentimentos questionados, por isso ela já havia passado.

- É uma pergunta interessante - Almerinda, a avó das garotas, chegava da cozinha com um pano de prato em mãos - O que você acha, Bebel?

Isabel olhou da prima para a avó duzentas vezes antes de revirar os olhos e se levantar indignada com a cumplicidade mental das duas.

- Vocês duas fazem um complô! Não é possível! As duas fizeram exatamente a mesma pergunta! Chega! - a mais jovem das mulheres marchou batendo os pés até o quarto.

"O comportamento típico dos adolescentes quando questionados. Eu já fiz isso", Luísa pensou achando graça.

- A Bebel precisa de um tempo - vovó Almerinda disse ocupando o lugar da paciente de Luísa.

- É.

- E você? Passando por um momento parecido? 

Pelo olhar que sua vó lhe lançava, Luísa sabia que ela já esperava um não como resposta. Luísa não queria mentir. Mentir em nome do amor? Só adolescentes faziam isso. Ela já havia passado dessa fase. 

- Não.

- Foi o que eu pensei.

Vovó Almerinda  se curvou para frente e tomou nas suas mãos, as mãos de sua neta. Algo a dizia que aquilo era mais do que falta de sorte de Luísa, era medo. 

- Você sabe que não precisa temer o amor, não é? Quer dizer, coisas ruins acontecem quando pessoas estão apaixonadas, é claro. O amor ás vezes pode ser pretexto para tragédias. Porém, o amor pode ser o sentimento mais puro que já conseguimos conhecer. A união das mãos, a união dos sorrisos, a união de almas. Não deixe que, o que quer seja que atrapalhe a chegar até ele, dure por mais tempo. Porque é exatamente assim que o amor chega: em um piscar de olhos.

Luísa mordeu os lábios e se concentrou em cada palavra dita pela avó, no entanto de sua própria boca não saia nada. Ela não sabia o que dizer. 

- O amor tem seu tempo, minha querida. E, quando ele vier, permita que ele entre no seu coração.

Dizendo isso, ela se levantou, depositou um beijo na testa da neta e a deixou sozinha com seus pensamentos martelando na cabeça.

Luísa nunca tinha ansiado se apaixonar. Muito pelo contrário. Na época em que todas as suas amiguinhas começaram com a brincadeira de "eu gosto de fulano", ela revirou os olhos e continuou a ler seus inúmeros livros de psicologia. Ela não assistia a filmes românticos e nem lia sobre. 

Ela não queria amar naquele momento. 

Talvez ela queira amar agora.

Ela não sabia.

A única coisa de que tinha certeza agora era de que O Amor tem seu Tempo. 


Publicado por Maria Allice 

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⏰ Last updated: Feb 25, 2019 ⏰

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