Capítulo 8

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Após ser pego no flagra, conclui que estava prestes a ser expulso do quarto. Nunca, em toda minha vida, fiz tal coisa como invadir a privacidade de uma garota. Sempre me ensinaram a tratar as pessoas com respeito e nunca, em circunstância alguma, se sentir superior a ninguém. Entretanto, ficar tão próxima a ela, era como ficar próximo a uma bomba prestes a explodir. Ela era silenciosa e misteriosa, mas a qualquer momento, poderia explodir.

– Você voltou. – Foi o que ela disse. Seu olhar era uma mistura de surpresa e alívio.

– Eu prometi a você que voltaria. – Respondi com cautela. A última coisa que eu queria era assustá-la.

– Eu sei... – Ela sorrir levemente – Acho que estou lhe causando problemas demais.

– Problemas? – Pergunto confuso – Não há nada de errado por aqui. A senhorita estava em perigo e eu ajudei. Não consigo enxergar o problema.

– Colocou sua vida em risco. 1 Ela resmungou, provavelmente, sentindo dor. – Não tinha a obrigação de se colocar em risco por alguém tão sem significância.

– Alguém sem significância? – Me levanto – Quem sou eu pra dizer quem tem ou não valor? – Pego a xícara de chá que se encontrava na mesinha ao lado da cama e entrego a ela.

– Sendo príncipe da Inglaterra, imaginei que pudesse pensar diferente. – Respondeu em um tom baixo. – As pessoas com poder costumam se sentir superiores. Já conheci algumas pessoas assim.

– Não sou ganancioso. – Afirmo – Gosto da minha vida e do conforto que tenho aqui no palácio, mas o poder nunca foi e nunca será a minha prioridade. – Observo-a beber um gole do chá – Qual o seu nome?

Seus olhos curiosos vagueiam por todo quarto, antes de finalmente, focá-los em mim.

– Me chamo Mirella Cooper. – Ela diz, timidamente – Me desculpe por ontem a noite. Não tive tempo de me apresentar formalmente. – Seu jeito tímido me faz sorrir.

– Não precisa se desculpar, senhorita Cooper. – Tento controlar a vontade de chamá-la pelo primeiro nome.

Ouve-se um breve silêncio. As únicas coisas que eram audíveis eram as nossas respirações e o barulho de vozes vindo do andar de baixo. Abro a boca para lhe dizer algo, mas a senhora Lúcia entra no quarto com uma bandeja nas mãos e um sorriso tímido nos finos lábios

– Sinto muito em interromper, Ben. – Ela se aproxima e repousa a bandeja ao lado da cama – A senhorita Cooper precisa comer.

– Obrigada por cuidar tão bem dela. – Me levanto e sorrio – Senhorita, assim que estiver melhor, a levarei de volta para sua casa.

Ela assente, enquanto analisa as golos e umas em cima da bandeja.

– Está bem, Alteza. – Ela desvia o olhar e me encara – E mais uma vez, obrigada por tudo.

– Não precisa agradecer! – A encaro por um momento e me viro indo em direção a saída.

Coloco as mãos no bolso e sigo pensativo pelo longo corredor. Vivo há mais de quinze anos nesse lugar e nunca havia percebido as obras de artes que enfeitavam todos os corredores. Mas também, não é como se alguém tivesse tempo de reparar na decoração. Aqui, sempre acontecia algo inesperado.

– Ben! O que aconteceu com a menina? – Me detenho ao ouvir a voz do meu amigo.

– Ela está bem agora. A Lúcia está cuidando dela. – Ele sorrir, exausto.

– Isso é bom. – Ele olha ao redor – Quais são as chances de eu conseguir levar a sua prima para um passeio?

– Está pedindo minha permissão ou minha ajuda? – Arqueio a sobrancelha.

– Os dois. – Ele rir – Namoramos há três meses e nunca saímos de verdade.

– Vocês mentiram pra mim durante três meses. – bufo – Mas tudo bem. Gosto de vocês dois juntos, por isso vou ajudar. Agora me diga, o que está planejando?

– Estava pensando em um piquenique na cachoeira. – Ele diz – O que acha? Será que ela vai gostar?

– Considerando que a Manu sempre foi muito romântica, creio que isso irá deixá-la bastante empolgada. – Dou um meio sorriso.

– Fico satisfeito em ouvir isso. – Ele sorrir – Não diga nada pra ela, quero fazer uma surpresa.

– Como quiser! A propósito, vocês terão no máximo três horas para aproveitar. Não posso enrolar meus tios mais do seu isso.

– Isso é mais do que o suficiente, Ben. – Sinto uma leve batida em meu ombro – Obrigado.

Penso em lhe dizer que isso não era nada, mas alguém se aproxima de nós dois e nos interrompe.

– Está ocupado, Ben? – Levo um pequeno susto. Olho para o Ian, que neste momento, parecia ter visto algum fantasma e me viro.

– Não, tio Christopher. Aconteceu alguma coisa? – Pergunto. Ele desvia seu olhar até o Ian, logo volta a me encarar.

– Não exatamente. Podemos conversar a sós? – Assinto e me viro para o Ian. Ele se despede com um aceno e nos deixa a sós.

– Pode dizer. – Cruzo os braços, enquanto o encaro. Ele parecia incomodado com algo, o que não era muito comum.

– Acho que a sua prima está namorando. – Ele desembucha de uma vez só, me fazendo engasgar com a minha própria saliva.

– Ela o que? Por que acha isso? – Tento soar o mais normal possível.

– Ela está estranha... Anda sumindo por horas e quando aparece, inventa desculpas que não fazem sentido. – Ele me encara pensativo – Sabe algo sobre isso?

–  Mesmo sendo amigo e primo da Manu, ela nunca mencionou nada a respeito. – Digo, me sentindo culpado. – Mas seria bom se você conversasse com ela.

– Vou fazer isso. – Ele sorrir – Obrigado, Ben. A propósito, soube da garota que você salvou. Ela está bem?

Não me surpreende o fato de que todos no palácio já sabiam sobre o meu ato "heroico".

– Ela foi atacada injustamente, mas está se recuperando.

– Isso é bom. Não posso acreditar que existam homens capazes de fazer tal coisa.

– Nem eu, Tio. – Suspiro baixo.

– Ela teve sorte. – Ele retira seu relógio do bolso e o analisa por breves segundos – Bom, tenho que ir. Até mais.

Ele sorrir e logo se vira, sumindo pelo imenso corredor. Tenho dúvidas sobre muitas coisas, mas de uma coisa eu tinha certeza. Manu está encrencada. Quando meu tio Christopher descobrir tudo, irá ficar uma fera. Mas o que eu posso dizer? O amor é louco. Tão louco que nos obriga a cometer algumas loucuras. Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos. Mesmo com os últimos acontecimentos, não poderia me esquecer que o Gaspar está solto e ele pode estar tramando algo ou não, mas ficar desprevenido é um risco que não pretendo correr.

Mas antes de tudo, tenho que garantir que a Mirella ficará bem. Não posso negar que, além dessa vontade de protegê-la, queria conhecê-la melhor e algo me diz que irei me surpreender. Basta saber se será uma surpresa boa ou ruim.

* * *

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