Capítulo 9

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Não sou muito familiarizado quando o assunto é relacionado às mulheres. Desde pequeno, sempre via meu pai tratando minha mãe como uma verdadeira dama e aquilo serviu de exemplo do tipo de homem que eu deveria ser. Mas isso não significa que eu herdei seu talento de lidar com as garotas. Após conversar com meu tio, fiz questão de subir e verificar, pela terceira vez, como a senhorita Cooper estava. A senhora Lúcia não estava muito satisfeita com as minhas visitas. Ela acha errado e eu não discordo, entretanto, ela estava sobre os meus cuidados.

- Quando poderei voltar para minha casa? - Sua voz ecoa pelo cômodo, me tirando dos meus devaneios.

- Assim que melhorar. - Respondo, calmamente. - Está se sentindo melhor? - Pergunto, ainda de pé.

- Sim, estou bem melhor. - Ela sorrir - Nunca comi tanto na minha vida.

Não consigo segurar a risada.

- Fico feliz em ouvir isso. - A observo atentamente - Você mora na vila, certo? Seus pais trabalham? - Pergunto, um tanto inseguro, já que essa era uma pergunta muito íntima.

- Hã... Bom... - Ela desvia o olhar e suspira - Meu pai morreu já faz alguns anos. Agora só resta eu, minha mãe e minha irmã.

- Sinto muito pela sua perda, senhorita. - Me arrependo amargamente por ter tocado em um assunto delicado - Vocês estão bem? Quero dizer, estão precisando de alguma ajuda? - Ela parece incomodada com a minha pergunta.

- Está perguntando se temos comida em casa? - Sua expressão muda completamente.

- Não me entenda mal, senhorita Cooper. Tudo o que eu quero é ajudar. Apenas isso. - Tento soar o mais tranquilo possível.

- Não precisamos dos seus inúmeros saco de moedas de ouro. - Ela diz, com desdém - Estamos bem. Não precisa se preocupar.

- Eu sou um príncipe e é meu dever me preocupar com o bem-estar do meu povo. A senhorita discorda? - Ela se rende em um suspiro -Não sei o que a faz pensar que nós da palácio não nos importamos com vocês.

- A questão não é essa, vossa alteza. - Ela dá de ombros - Queria que fosse possível que a vida de todos da aldeia melhorassem. Muitas pessoas passam fome.

Sempre soube que a situação na aldeia não era uma das melhores, mas não imaginava que a situação fosse tão ruim assim.

- Eu... - Tento encontrar as palavras corretas, mas nenhuma parecia adequada - Sinto muito.

- É... Eu também.

Imagens e mais imagens começam a passar pela minha cabeça. Direciono meu olhar para a Mirella e começo a imaginá-la quando criança. Sua expressão entregava tudo. Seus pais passando por dificuldades e ela, com o intuito de proteger sua irmã mais nova, fazia de tudo para nada a atingisse. Tendo que ceder sua própria comida para que sua irmã não passasse fome. Pensar nisso era um tormento. As imagens fizeram meu estômago revirar.

- Darei um jeito nisso. - Digo, após minutos em silêncio. Ela me olha com espanto.

- Dar um jeito? - Seu olhar era repleto de incertezas - Nem sei se isso é possível. São muitas pessoas e você é somente um, vossa alteza.

- Não estou sozinho. - Digo, convicto - Sei que a minha ideia de ajudar a todos pode parecer absurda, mas o que posso fazer? Quando queremos algo, não podemos simplesmente nos sentar e esperar que aconteça. Temos que agir.

- E o que pretende fazer? - Ela indaga, arqueando sua sobrancelha direita.

- Ainda não sei. - Repouso minhas mãos na minha cintura - Mas prometo fazer algo a respeito. Está bem?

O Herdeiro Where stories live. Discover now