Capítulo 3

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— Quê? Você é um cara? — exclamou Marcelo. Ele cobriu a boca, olhou para o garoto da cabeça aos pés e riu. Mas quando Nelson mostrou a palma aberta, o sorriso sumiu. Ele estalou a língua e pegou a carteira. — Porcaria. Acabei de perder 50 contos... E tava certo de que seria grana fácil. — Ele suspirou e balançou a cabeça. — Então você é Cris Prado Maranhão, hã?

— Sim. Cristovão Prado Maranhão. Mas podem me chamar de Cris. É um prazer conhecê-los. Foi mal pela aposta — disse o rapaz para Marcelo, ainda sorrindo. Então ele se virou para Nelson com uma expressão séria. — A partir de hoje, digo, amanhã, serei seu assistente pessoal.

— É um prazer conhecê-lo — disse Nelson. — Espero que nos demos bem.

— Eu vou deixar os dois sozinhos para começarem esse laço de parceria ou sei lá o que— disse Marcelo e se afastou com uma expressão desapontada, murmurando algo que soava como 50 contos.

A expressão de Cris se aliviou com um sorriso enquanto ele se movia do sofá para sentar bem na frente de Nelson.

— De nada por esse dinheiro — ele disse, olhando a nota com uma onça.

Nelson olhou entre a nota e o rapaz e riu. Ele pegou a carteira e guardou o dinheiro.

— Valeu. Dinheiro mais fácil que já arranjei. Vou te pagar algo.

— Eba. — O sorriso de Cris se alargou. No segundo seguinte, o sorriso ficou malicioso. — Mas você não está confiante demais?

— Hã? Confiante no quê?

— Que não vai se apaixonar por mim. — Nelson mostrou uma cara confusa. — Não é o primeiro homem que diz que não ia se apaixonar por mim — adicionou Cris.

Nelson abriu a boca, mas fechou logo em seguida, incerto de como responder. Ele se inclinou de volta no sofá e olhou para o garoto sorridente.

— É mesmo? E como acabou?

— Da melhor forma possível. — Cris mostrou sua língua de forma maliciosa.

Após um momento de silêncio, Nelson sorriu e riu.

— Que bom pra você, acho. Mas até com esse seu histórico, estou confiante de que não vou me apaixonar por você.

— Porque não curte homens? Já escutei isso antes. Mais de uma vez.

— Tem isso também — respondeu Nelson. — Mas mesmo que curtisse ou se você fosse uma garota, eu me esforçaria pra não me apaixonar por ninguém. Preciso dar tudo de mim pra conseguir meu objetivo.

— Então você é do tipo que diz que o romance atrapalha a natação, hein?

— Essa não é... a melhor forma de resumir.

— Mas é a verdade, não é? — disse Cris, dando de ombros. — Já fui assistentes de pessoas como você antes. Espero que não me culpe se não conseguir os resultados desejados.

— Sem problemas. Não sou um bebê chorão — disse Nelson, rindo. Então seu sorriso sumiu e a expressão ficou séria. — Mas, sério, é meio que não posso perder o foco. Não depois de tudo...

— Seu acidente...

— É... — A festa continuou, ninguém notou que os dois quietos. — Preciso recuperar o tempo perdido. Se eu perder um só segundo, posso jogar fora a oportunidade de uma vida — disse, abrindo os braços para indicar tudo.

— Recuperar o tempo perdido. Não perder nem um segundo — repetiu Cris, balançando a cabeça. — Realmente não entendo nadadores. Você, tipo, não acabou de fazer 18? Tem a mesma idade que eu, mas fala como se fosse o fim da sua vida. Aproveite mais sua juventude.

O nadador e o assistenteWhere stories live. Discover now