Nelson sentou na borda da piscina, mexendo as pernas dentro da água. Ele encarou as pequenas ondas que criava, observando-as desaparecer com uma expressão vazia.
— Ei — disse uma voz calma.
Nelson sabia que era a voz de Cris, mas não se virou para o assistente.
— Ei — disse com a voz distraída.
— Como está se sentindo? — Cris sentou ao lado dele, também colocando as pernas dentro da água, criando mais ondas.
O nadador pensou antes de responder. Ainda sem olhar para seu assistente, ele suspirou.
— Vulnerável. Acha que é uma boa palavra?
— É... uma honesta — disse Cris com o mesmo tom.
— Acho que é a melhor pra me descrever agora. Uma cara honesto e normal — riu ele.
— Você diz como se fosse uma coisa ruim. Eu gosto disso, sabia?
— Fico feliz em saber que ao menos alguém goste... — Nelson não disse nada mais. Cris também ficou quieto, esperando. — Como sabia que eu estava aqui?
— Eu gostaria de dizer que é um dos poderes que conseguimos quando viramos assistentes. Achar nossos nadadores e ficar ao lado deles sempre que precisam, mas, infelizmente, não destranquei essa habilidade ainda — disse Cris com a voz animada costumeira, balançando a cabeça. Nelson virou-se para ele e não conteve o riso. O assistente fechou os olhos e mostrou um sorriso alegre. — Você finalmente riu.
— Você sempre sabe como me fazer rir. — Nelson riu e sorriu. — Então seu trabalho aqui está feito?
— Sem chances. Não vai se livrar de mim tão fácil. — O sorriso do assistente aumentou.
— Fico aliviado em saber disso. — Nelson encarou a água de novo, mas, dessa vez, com um sorriso nos lábios.
Cris olhou para Nelson de perfil. Antes que notasse, suas bochechas estavam vermelhas e ele olhou para a água.
— Não foi tão difícil encontrar você — disse antes que o silêncio imperasse de novo. — Com uma busca rápida, descobri que era a única piscina sem um treino agendado agora.
— Conferiu meu quarto? Eu podia ter ido para lá.
— Não nos conhecemos há muito tempo, mas sei que não iria pro seu quarto limpar a mente. Você iria pra algum lugar com água, mesmo que não entrasse. Só ficar perto dela te acalma.
Nelson estava prestes a responder, mas desistiu e soltou um suspiro em vez disso.
— Acho que sou bem fácil de entender...
— Você diz isso de novo como se fosse algo ruim.
— E não é? Bom, acho que discordamos em algo.
— Não é algo ruim — repetiu Cris com a voz firme. — Eu gosto de caras que são honesto e não guardam segredos.
— Que bom que alguém gosta. — Nelson respirou fundo e olhou para o teto. — A entrevista foi tão ruim quanto me lembro?
— Nem um pouco. — Cris negou com a cabeça e mostrou um sorriso gentil. — O pessoal da TV ficou feliz. Todo mundo adora uma entrevista sincera como a sua. Eu também gostei.
Nelson suspirou.
— Isso não faz chorar nas notícias locais menos embaraçoso.
Os lábios de Cris curvaram enquanto ele tentava conter o sorriso. Apesar de se esforçar, o assistente não conseguiu conter a felicidade no rosto.
YOU ARE READING
O nadador e o assistente
RandomO clube Prado Maranhão de desportos aquáticos, um lugar onde aqueles que miram o topo dos esportes aquáticos se juntam. Nelson, chamado no passado de garoto prodígio da natação brasileira, está perto de se recuperar de um acidente sério que quase ti...