[TRINTA]: LORENZO

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NICHOLAS

— Nossa. Vocês quase me mataram de susto. — Lorenzo diz quando abre a porta no exato momento em que a Alison encosta o punho fechado para bater. — Eu já estava descendo para esperar vocês dois.

Ele se afasta para nos deixar entrar. É estranho vê-lo assim, sem aquela jaqueta de couro preta que acompanha ele pelo colégio. Hoje ele está mais humano, mais normal naquela camisa de botões xadrez e em cor preta, desabotoada nos três primeiros botões, exibindo a sua pele branca do peitoral. Ele usa bermuda jeans no lugar de calça e ao invés de sapatos, está descalço.

— Mia. — Alison é a primeira a dizer ao entrar no quarto.

Ela segue até a garota de cabelos brancos e camiseta branca. Mia está suja de tinta, mas cumprimenta a Alison de forma sorridente enquanto eu fico a sós com o Lorenzo, me perdendo no olhar aquele seu quarto bagunçado. As paredes são de um cinza escuro, bem puxado para o preto, o chão amadeirado e os posters de bandas como The Neighbourhood, Artic Monkeys, Beatles e outros me dão a sensação de estar no lugar certo, com a amizade certa.

— Camisa de botões estão na moda. — ele toca o meu peito, estou usando uma em cor vinho, mas não é xadrez. — E a propósito, você ficou lindo nela. — Lorenzo sorri. — A Mia está terminando de pintar algumas coisas e, — quando ele se vira para encara-las, consigo ver sua bochecha suja pela tinta azul. — E enquanto isso a gente pode repassar nossas falas, o que você acha?

— Acho legal. — meu olhar finalmente retorna para o dele. Aquele olhar penetrante em cor negra. A bagunça que ele é. — Embora tenhamos feito isso por quase toda a manhã, acho que eu serei incapaz de esquecer alguma fala depois de todas as ameaçadas que a Alison nos fez. — ele ri enquanto concorda com a cabeça.

— Eu estou aqui, vocês sabem disso, não sabem? — ela pergunta ao fundo, ajudando a Mia a terminar de pintar o que aparentemente era um planeta feito de bola de isopor.

— Nós sabemos. — sou rápido em dizer. — Livros. — encaro ele outra vez, retornando o olhar para aquela estante onde permito me aproximar. — Um monte deles. Eu já sabia que você pudesse gostar de ler, mas não imaginei que seria tanto. — meus dedos passeiam pela beirada da estante, lendo alguns do títulos, em sua maioria, de conhecimento geral, evolução espiritual, autoajuda.

— Meu pai gostava de ler. Eu herdei alguns livros dele. Às vezes ele me pede uns emprestado, mas já não é a mesma coisa. — ele aparece ao meu lado com aquela explicação. — Gosto de me aprofundar nas coisas reais, em escritas de época principalmente, do romance, da dor e dos obstáculos por um amor verdadeiro e busca pela paz interior. Isso me inspira a ser alguém melhor. — ele puxa um livro da estante. — Esse é o meu favorito.

As Vantagens de ser Invisível.

— Dentre todos?

— Dentre os que você provavelmente conhece. Ninguém costuma ler o tipo de livro que leio, mas sim, posso encaixar ele em um espaço dentre todos. É um livro que se encaixa no romance, mas também fala sobre superar desafios e viver a vida intensamente quando se encontra alguém. — ele passeia os dedos pela capa verde antes de devolver o livro para a estante. — E eu tenho uma cópia de.. — ele puxa um outro livro. — Romeu e Julieta, mas como a peça da Alison será totalmente diferente, não vale a pena discutirmos sobre isso. — Lorenzo pisca para mim, exibindo aquele sorriso outra vez.

— Posso dizer que você me surpreendeu com a quantidade de livros.

— Por que? Achou que eu fosse burro?

Agora sou eu quem rio.

— Um tanto preguiçoso, na verdade.

Ele dá de ombros enquanto Alison dá um grito, me chamando atenção.

Depois do Ritual (romance gay)Where stories live. Discover now