Estilhaços

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Sam estava parado a minha frente, mas era como se sua mente estivesse trabalhando sozinha, muito longe de onde estávamos. Era como se o tempo estivesse congelado e apenas minhas lagrimas se movessem, até eu sentir as minhas próprias pararem e as dele começarem a escorrer. Sam Heughan estava bem na minha frente chorando, mas a julgar pelo modo como ele gesticulava e falava parecia não as perceber em seu rosto, escorrendo e deixando um rastro.

- Você ia esperar até quantos anos mais para me contar sobre isso Caitriona? - Sua pergunta era retrograda, ele não queria saber  o que eu achava sobre isso. - Achou que eu não ia desconfiar? "Talvez eles a tenham adotado! Ele poderia pensar". Mas por Deus eu conheço aqueles olho! São os meus, o de minha mãe. Aquela pinta no rosto? - Seu dedo foi em seu próprio rosto. Sua voz foi dura, fria. A imagem de Christian veio em minha mente. Christian era negro de olhos claros, mas não do tom de Callie. Seu porte físico natural poderia passar claramente como a de um atleta, e não era nenhum pouco parecido fisicamente com Callie, apenas que ela também era alta e com muitas vezes nos paravam para perguntar se a criança era de fato adotada.

"Ela é minha filha, isso é o que importa. Independente de cor, não acha senhora?" Ele dissera irritado uma vez na fila do mercado, com ela em seus braços. Isso era algo que sempre me fez questionar o quanto as pessoas avaliavam os outros, julgavam. Mas eu sabia que Sam não estava julgando, sabia porque ele mesmo disse que queria adotar uma criança se pudesse, o fato era que Sam nos conhecia muito bem, e minha filha era nossa cópia.

-Por um tempo eu tentei lhe contar Sam! Descobri com três meses, e demorou mais dois para ter coragem e ir lhe contar. Mas você já estava quase casando.

-Eu lhe procurei antes disso! - Ele gritou me assustando, enquanto passava a mão desesperado no rosto. Ele estava a imagem perfeita de uma pessoa perturbada e não o culpo. A porta mais uma vez do meu quarto se abriu e Callie apareceu no corredor. Ela nos olhou e então se aproximou de mim segurando minha mãe.

-O que está acontecendo mãe? Ele está gritando com você? Estão brigando? - Seus olhos estavam cheios de lagrimas, e ela notou que ambos também estavam chorando. A cena que um dia poderia ser linda, era trágica. Uma mãe desesperada, um Pai angustiado e uma filha preocupada.

Eu engoli em seco, me agachando até ficar em sua altura. Seus olhos estavam vermelhos por tentar segurar as lagrimas. Sorri secando as minha própria e toquei seu rosto. 

-Não estamos. - A voz foi de Sam, e não minha. Fazendo tanto ela quando eu se assustarem. 

-Sim estamos. - Fui sincera encarando Sam e depois voltando a olha-la. - Eu jamais menti para Callie, por conta da unica (e maior) mentira que havia contato a ela. Sobre seu próprio pai, desde então prometi a mim mesma que não haveria mais mentiras. -Mas não é sério. 

-Coisa de adulto? - Assenti secando suas lagrimas. 

-Vou lhe fazer dormir. Tudo bem? - Não esperei ela responder. Segurei suas mão e me virei para ele. - Por favor. 

Ele sabia que era um pedido. Sabia que eu queria conversar. Demorou quase dez minutos até que ela se rendesse ao sono e então caminhei em direção ao fim do corredor, depois de ter me certificado que havia fechado a porta do meu quarto para ninguém entrar.

A porta do quarto dele estava encostada e quando entrei ele estava olhando pro lado de fora da janela, não se virou quando fechei a porta fazendo um suave barulho propositalmente.

-Sam? - Minha voz rouca sussurrada ecoou pelo quarto. Levei minha mão para tentar toca-lo, e quando consegui ele se esquivou. -Por favor Sam? - Ao se virar me assustei. Seu rosto estava banhado de lágrimas. Ele me olhava como se procurasse algo.

Estilhaços do DestinoWhere stories live. Discover now