Capítulo IV - Cores

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[Tyler]

Seus olhos estavam fechados, ele não conseguia ver o que estava prestes a acontecer, tentava acreditar que tudo acabaria bem mas falhava nestas tentativas. Seu coração pulava as batidas, fazendo seu peito doer, ele não ouvia mais os sons ao seu redor, como se estivesse esperando para ouvir o último ruído antes de sua morte. Seu pulmão se enchia e esvaziava rapidamente, mas era como se faltasse ar. Ele espremeu os olhos, impossibilitando suas lágrimas de caírem, juntamente mordendo os lábios com força, cessando, aos poucos, seus soluços, que se desencadearam a pouco.

    Estava esperando pelo pior, embora mentalmente tentasse se convencer do contrário.

    Ele ouviu um grande baque, como se um corpo tivesse caído no chão, mas estranhou, não era o seu corpo caído, ele estava ali ainda, parado, encolhido na parede. Queria abrir os olhos, queria se levantar, mas o medo não deixava, algo pior poderia acontecer, ele poderia acabar morrendo ali mesmo. Permaneceu com seus olhos fechados, mentalizando que tudo acabaria bem, ele iria sair dali são e salvo, mas é claro que iria! Afinal, ele era jovem e tinha uma vida pela frente. Tentou convencer-se disso inúmeras vezes, ainda que no fundo soubesse que não seria exatamente dessa forma que iria acontecer. Suspirou atrapalhado, pois alguns soluços de seu choro represado escaparam.

    Num reflexo quase que imediato encolheu-se mais ainda, quase se fundindo à parede, ao sentir uma mão repousar sobre seu ombro. Foi como se todo o ar que outrora faltava enchesse e saciasse sua sede pelo respirar. Imediatamente ele abriu seus olhos, arregalados, tentando olhar toda aquela cena, mas falhando, as lágrimas que haviam sido presas rolaram pela sua face ruborizada, embaçando sua visão, ele via apenas uma silhueta de algo alaranjado. Após pouco soluçar as lágrimas cessaram, ele finalmente pôde ver uma cabeleira ruiva o fitando preocupado, mas estranhou, pois suas roupas estavam bem alinhadas e cabelos penteados, o que não condizia com a situação que presenciou ao seu redor, tampouco o baque que ouviu momentos antes.

Yan sorriu para o amigo e o abraçou, afagando suas madeixas negras.

— E se eu não chego a tempo, hein? — puxou Tyler, para que levantasse de lá, o envolvendo com um braço trespassado por trás de seu ombro. O garoto continuava assustado, com a feição amedrontada que aos poucos foi suavizando.

— Nem me fala — demorou para responder, mas no fim sorriu minimamente, acentuando, apenas, uma curva em seus lábios. Levou uma das mãos ao rosto, enxugando suas lágrimas.

    O mesmo Tyler de palavras limitadas, presenciou sua pouca fala se esvair, como se, ainda que quase nada falasse poderia ficar sem esse pouco, foi exatamente como se sentiu pelo ocorrido; observador, vivenciou seu olhar se fechar, abrindo espaço ao medo; as cores, lugares e rostos que tanto via se tornaram trevas, impotente. Se fosse outra pessoa que o tivesse ajudado ele estaria envergonhado, envergonhado de si mesmo por ter sido fraco, incapaz de se defender.

    Yan contou que andava a encontro do amigo e ao entrar no beco presenciou toda a cena, ele não pensou duas vezes, agiu apenas por impulso, quando viu já havia pego uma garrafa de vinho que estava jogada ao lado da ruela e partido para cima do homem, em um só golpe desferido na cabeça do moribundo acabou por resolver o problema; o homem, obviamente, não havia morrido, mas estava desmaiado, com um enorme inchaço na parte de trás da cabeça. Tyler, sincero, agradeceu o amigo, pois ele realmente precisava muito daquele dinheiro, afinal, ainda que de uma forma pouco comum ele havia se esforçado para conseguir, e também precisava de seu celular, que era o meio na qual ele usava para conseguir tal pessoas para arranjar o dinheiro. Sorriu, no fim, apesar dos pesares, tudo havia acabado bem.

    Não havia mais clima para que saíssem para conversar, sentar em uma praça e sentir o vento bater em suas peles enquanto a noite passava ou algo do tipo. Yan, gentilmente, acompanhou Tyler até perto de sua casa, deixando-o na esquina da rua em que morava.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now