Capítulo X - Aproximação

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[Tyler]

Após suas seis horas de atividades diárias, ele finalmente poderia andar livremente pela ilha, respeitando apenas a mata fechada que se encontrava em alguns pontos do local. Alguns pares de dias passaram, aos poucos se acostumava com sua nova rotina, sua nova vida. Sentia falta de Yan, da liberdade de poder andar pelas ruas de Pinoa a hora que quisesse; mas como ser responsável que era, encarou as consequências de seus atos.

Seus olhos observadores captavam tudo ao seu redor; o canto dos pássaros não passava despercebido pelos seus ouvidos; as tantas árvores espalhadas por lá o faziam pensar que, quando mais velho, gostaria de morar no interior, para vivenciar dessa paz todos os dias; ao longe, a maresia batia em seu corpo, movendo seus fios negros, bagunçando-os. Ele ainda ficava boquiaberto ao encostar no mar, mesmo depois de toda a sensação ruim que teve ao se afogar e Robert o salvar, era nostálgico. A água salgada o fazia sentir-se limpo, com seus pecados lavados.

Decidiu se levantar daquela areia, pensativo, abanou a parte de trás da bermuda que vestia e olhou ao seu redor. Alguns jovens ao longe, cada um em seu mundinho particular, ninguém ali parecia a fim de fazer amigos, ou apenas não se familiarizaram com o lugar, ainda. Tyler afastou-se mais da área de onde estava, aproximando das árvores, majestosas árvores, de espécies, tamanhos e cores variadas. Inalou profundamente aquele aroma amadeirado e floral. Seus olhos exploradores acharam uma trilha que seguia mata à dentro, e por um breve momento ficou em um dilema: seguir ou não seguir; mas com sua curiosidade o instigando, ele já sabia a resposta. Olhou novamente para trás, a fim de ver se alguém o olhava, mas ao perceber não ser foco da atenção de ninguém, deu seu primeiro passo adentro da passagem.

Por mais que houvesse mato para todos os lados, a trilha era bem demarcada e unilateral, permitindo um caminhar mais uniforme e facilitado. Ao longe, como um sussurro ao vento, seus ouvidos captaram o barulho de água. Não pode deixar de ser novamente instigado pelo o que aquela ilha ainda escondia; seguiu calmamente, não havia ninguém ali, estava no meio de todo aquele verde e de certa forma era arriscado, mas nada disso importava, quando na verdade Tyler era movido pela curiosidade.

O som da água caindo ficava cada vez mais audível, aliciando-o a seguir. Ao chegar no fim da trilha, seus olhos arregalaram em surpresa, suas mãos agarraram o próprio cabelo e sua expressão ficou atônita. Ali, bem ali, diante de si, havia uma queda d'água com águas cristalinas, rodeada de pedras altas e baixas, transformando o lugar em uma grande piscina natural. As rochas à cima, de onde a água escorria, eram como vários funis, endireitando em alguns pontos o curso da queda. Ele estava encantado com tudo aquilo, parecia mentira que uma ilha com um centro de reeducação social guardava um lugar tão esplendoroso como aquele.

Seus passos o aproximavam cada vez mais da piscina; então abaixou-se à borda, vendo seu reflexo no fluido, levando, em seguida, as mãos em concha para subsequentemente molhar o rosto. Arrepiou-se, a água gelada o fez comprimir em um espasmo do frio. Ao se levantar, fitou toda a grandiosidade do recinto, rodeando então, as pedras e seguindo riacho acima. As surpresas não acabaram ainda. Ao passar por detrás de uma árvore e dar a volta naquela piscina, ele encontrou um lago, um pouco extenso, tendo suas águas mais escuras e esverdeadas que a do lugar que acabara de estar, mas não eram verdes de sujeira. Ao fim de um pequeno trapiche estava atracada uma canoa, uma feia e desbotada canoa, com um remo dentro. A pequena extensão de madeira não parecia muito segura para se andar, mas cuidadosamente, com um pé na frente do outro, apertando-os contra o trapiche para saber se estava firme, para então prosseguir, seguiu.

Tirando os chinelos, mergulhou os pés e panturrilhas naquela água, não estava tão fria quanto a da cachoeira, mas ainda assim percorria uma sensação gélida subindo as costas, até acostumar com a temperatura da lagoa. Ali então, a partir daquele dia, seria seu recanto de paz, seu lugarzinho contemplativo. Torcia intimamente para ninguém mais saber que aquele local existia, o sentimento de posse invadia-lhe o peito, mas era apaziguado com a satisfação e calmaria que o ambiente proporcionava. Permitiu deitar as costas na madeira envelhecida, pousando a cabeça em cima de um braço flexionado. Com os olhos fechados, suspirou aliviado. Aquele um ano que estava para suceder-se não parecia tão doloroso, não mais.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now