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"Já tiveste alguma coisa com aquele Daniel, não foi?" Fala de repente enquanto continuamos a ver algumas lojas e olho para o moreno.

"Deu para perceber assim tanto?" Pergunto baixo e ele assente.

Puxo-o pela mão até à um sofá livre e um pouco isolado no meio do Shopping e suspiro antes de começar a falar.

"Nós éramos todos da mesma turma e andávamos sempre juntos. Quando a Rita e o Afonso começaram a namorar eu tive menos tempo com ela e então estava mais com o Daniel e o Ricardo. Ele começou a aproximar-se de mim e eu também me fui aproximando aos poucos, até que começamos a namorar. " ouço o moreno soltar um 'eu sabia' e quase me rio com a sua expressão.

" Já namoravamos há dois meses quando ele começou a afastar-se e a não querer saber de mim, então acabei com ele. Ao início ainda tentou que voltassemos mas eu percebi que não queria um rapaz como ele. Eu sei que ele às vezes é inoportuno e que tenta flertar comigo mas apenas finjo que não percebo e ele cansa-se. "

Quando acabo de falar vejo uma mistura de seriedade e alívio no rosto do André.

" Eu percebi pela forma como ele olhava para ti e senti-me ligeiramente ameaçado quando percebi que ele te conhecia muito bem, mas depois da tua reposta só me apetecia rir com a cara do rapaz."

As minhas gargalhadas saem altas de mais e sinto alguns olhares em nós.

" Vamos embora que já estou cansada." Peço com uma voz que tento que saia querida e levantamo-nos.

No entanto os deuses parecem estar contra mim e tenho que esperar mais de meia hora para que o André possa tirar fotos e dar autógrafos à multidão que se juntou à nossa volta.
Tento afastar-me da multidão que parece só aumentar e sou empurrada quando tento pegar nas sacas das compras do moreno.
Caio no chão de frente e bato com a cabeça na esquina de um pilar que se encontrava mesmo à minha beira.

Sinto-me zonza e levo a mão à cabeça, reparando no sangue que se acumulou nos meus dedos.

"Oh meu deus, desculpa." Ouço uma voz ao meu lado e vejo uma rapariga no chão a olhar para mim preocupada. "Foi sem intenção, desculpa." Continua a falar mas não consigo ouvir mais nada, apenas um zumbido.

Sinto uns braços à minha volta e sei perfeitamente de quem são. As suas mãos percorrem a minha cara e as suas feições são preocupadas enquanto coloca algo na minha testa para parar o sangue.

"Está tudo bem." Sussurro para tentar acalmar o moreno mas parece que não resulta quando sinto as suas lágrimas a cair na minha face.

"Está tudo bem." Tento levantar-me.

"Desculpa meu amor, eu não te devia ter deixado sozinha. A ambulância já vem aí, não te mexas." A sua voz é trémula e levanto a minha mão levando-a até às suas bochechas, limpando algumas das suas lágrimas.

Consigo levantar o meu tronco e fico sentada no chão amparada pelas mãos do André.

" É só um golpe, não vou morrer." Tento brincar com a situação e vejo um pequeno e quase imperceptível sorriso.

A minha visão ainda não focou e uns zumbidos continuam, mas ver o estado do André fez com que ficasse um pouco mais normal.

A multidão que se encontrava à nossa volta começa a afastar-se, algumas pessoas com telemóveis na mão, e vejo dois bombeiros a ajoelhar-se à minha beira.

Começam a fazer perguntas e tento responder ao mesmo tempo que vou ficando mais zonza.
Sinto o meu corpo ficar mole e tudo é preto.

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A minha visão está completamente embaciada e tenho que esperar longos minutos para que fique minimamente normal. Sinto o meu corpo dorido e a minha cabeça parece um tambor que vai rebentar a qualquer momento.

Tento olhar à minha volta e percebo que estou deitada numa cama de hospital. Uma mancha castanha junto ao meu peito chama a minha atenção e tento mover-me para ver melhor.

O André dorme com a cabeça junto à minha mão, mas mexe-se quando percebe a minha agitação.

"Olá princesa." Fala baixinho e agradeço por isso. A minha cabeça explodia se falasse um pouco mais alto.

A sua expressão não condiz com o seu tom de voz triste e sei que o seu sorriso é forçado.

"Desculpa isto que aconteceu, a culpa foi minha. Não te devia ter deixado sozinha."

Peço para parar e passo a minha mão sua cara.

"Está tudo bem, só quero ir embora."

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"Eu não quero ir se tu não fores." O moreno resmunga e reviro os olhos pela milésima vez desde que começamos esta conversa.

"Os meus pais não me deixam ir porque é demasiada confusão e o médico pediu repouso, mas tu podes ir e vais." A minha voz soa mais dura do que devia mas eu quero que ele perceba que não é por eu ficar em casa que ele também tem que ficar.

"A ideia era passar a meia noite contigo." Insiste e suspira.

"Eu sei, mas eu vou estar com a minha família e tu vais estar com a tua e vai correr tudo bem. Não estou contigo pessoalmente mas estou de coração."

O André parece ceder e fico feliz por isso.

"O meu irmão tem falado contigo não é?" Muda de conversa abano a cabeça para dizer que sim.
"Ele anda assim por causa de uma rapariga não é?"

"Deixa de ser curioso André Miguel, é a vida do teu irmão." Resmungo em tom de brincadeira e ouço o rapaz rir do outro lado do telemóvel.

"Exatamente, do meu irmão. Vá lá bebé, diz lá se é ou não." Pedincha de uma forma engraçada e só me apetece rir com a sua curiosidade.

"Sim, ele conheceu uma rapariga há algum tempo e as coisas têm corrido bem entre eles."

Mal acabo de falar ouço um 'eu sabia' muito excitado e só imagino as figuras que o meu namorado está a fazer.

"Como é que a rapariga se chama?"

"Só digo se prometeres não chatear o teu irmão com isso."

"Eu devia estar chateado por ele ter contado a ti e a mim não. Agora andais muito amigos e ele já não conta nada aqui ao irmão, o paneleiro."

"Andas muito ciumento e carente menino André, arranja uma namorada." Brinco com ele e ouço uma gargalhada alta e irónica. "A rapariga chama-se Rita e é amiga do teu irmão."

Tudo o que ouço a seguir é ruído e o André a falar alto com o Afonso.

"Então maninho, a Ritinha está boa?"  Maldito rapaz tinha que ir logo chibar-se.

"Eu vou dar cabo da Alice." Ouço o Silva mais novo resmungar mas logo solta um barulho de dor, provavelmente depois de o André lhe ter dado algum murro.

"O único cabo na vida da Alice é o meu." A frase sai de repente da sua boca e fico pasmada com o que disse, mas rapidamente me rio enquanto resmungo de forma nada assustadora com o moreno.

"Vê lá se não levas com um cabo pelas costas a baixo."

OPORTO- André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora