Capítulo 4: Reflexões aéreas

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Eu ainda tremia de raiva na limusine, que tocava Tchaikovsky. A música suave aos poucos me tranquilizava do papel de idiota que acabava de representar. Eu quase me declarei para o retardado do Heughan e ele simplesmente me tratou como uma garota fácil que se deslumbra com dinheiro! Mas se ele acha que as coisas vão ficar assim, ah! Ele não faz ideia de que eu posso ser teimosa tanto quanto um escocês, James Fraser fez escola. Eu não nego meu sangue irlandês! Busquei, lentamente, controlar minha respiração. Mas no mesmo ritmo que a raiva arrefecia, a preocupação me tomava. Seria possível que aqueles brutamontes o tivessem machucado?

Chocada com a possibilidade de qualquer dano ao palhaço do Heughan, usei o telefone da limusine para falar com o motorista e o segurança que me acompanhavam.

_Aaaaaaaarr. Bem, vocês podem avisar ao piloto que nós estamos indo para Los Angeles?

_ Imediatamente, senhorita Balfe.

Consegui enfim firmar minha voz e forçar uma impostação de desdém.

_ Imagino que aqueles senhores que impediram o Sr. Heughan de me incomodar façam parte do staff disponibilizado por Sua Alteza para a minha segurança, certo?

_Perfeitamente, senhorita Balfe. Fomos orientados a aparecer apenas se necessário. Como chefe da equipe achei que o momento era oportuno.

_Agradeço a rapidez. Creio que a equipe, ahhmmm, não causou qualquer dano físico ao sr. Heughan, não é mesmo? Ainda que eu não me preocupe pessoalmente com ele, somos colegas de trabalho e ferimentos poderiam interferir no cronograma de gravações da série.

O segurança não conseguiu esconder o tom de riso ao me responder.

_Perfeitamente, senhorita Balfe. O comando para o staff foi o de contenção, apenas. Se me permite o gracejo, se alguém bateu em alguém, foi o Sr. Heughan, nos seguranças. Pelo menos dois deles serão substituídos até que cuidem dos seus olhos roxos, um nariz quebrado pelo menos, talvez a falta de alguns dentes.

Por mais que estivesse irritada, não pude deixar de rir também, imaginando a cena daquele homem enorme descontando toda a frustração da nossa discussão nos pobres funcionários do príncipe Hamdan. Sam não tem absoluta noção da força que possui, não foram poucas as vezes que ele me machucou gravando, por colocar emoção desproporcionalmente ao movimento de cena. Se bem que apesar de fazer manha e reclamar dias e dias, eu sempre gostei muito dos mimos que eu recebo dele depois de situações como essas. As vezes até exagero para que ele cuide de mim por mais tempo, ele é tão terno comigo quando está preocupado... Raios, Balfe, foco!

_Obrigada e é tudo por agora.

Desliguei o telefone tentando me concentrar para os desafios de curto prazo: chegar em L.A., encontrar Hamdan, a festa da Audi, do BAFTA e o Golden Globe. São essas questões que me interessam. Ele que continuasse me ligando até ter L.E.R. nos dedos. Depois de esfregar na cara dele que sou uma mulher bem resolvida, autossuficiente e completamente independente, vou manter nossa relação apenas no âmbito profissional. Algumas sessões de terapia vão ser suficientes para apagar qualquer vestígio daquele sonho horroroso. Nem que eu precise de lobotomia!

Chegando no avião, uma sorridente aeromoça, vestida com típicos trajes orientais, me recebeu com uma generosa dose de whisky, um Yamazaki Single Malt Sherry Cask 2013. Achei conveniente que a escolha não tenha sido de um whisky escocês, e surpreendente que a profissional tivesse a sensibilidade de compreender que uma bebida mais leve não seria suficiente naquele momento. Vamos então de whisky japonês.

Estava tão ansiosa para conversar com aquele traste que nem havia notado direito no primeiro voo a equipe à disposição no avião. Devem ter me achado uma esnobe.

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