Motivo 6

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Odeio quando tenta ser gentil comigo.

Seis dias. Já haviam se passado seis longos dias desde que meus pais haviam saído de viagem com os meus tios, e desde então eu me encontrava n'A Toca com meus primos e irmãos. Eu nunca havia pensado que ficar n'A Toca poderia ser tão entediante.

Enquanto todos estavam lá embaixo no jardim, fazendo algo, eu estava aqui no meu quarto, deitada em minha cama olhando para o teto sem fazer absolutamente nada, e aquilo estava me deixando totalmente irritada. Seria TPM? Não, acho que não.

— Saco! – rugi jogando o travesseiro na parede – Que merda de tédio!

Levantei da minha cama e fui até o outro lado do quarto para apanhar o travesseiro e devolvê-lo ao seu lugar. Comecei a andar de um lado para o outro totalmente impaciente, e quando eu estava dando a terceira volta pude ver um movimento pela janela e curiosa fui até ela para ver o que estava acontecendo.

James e Alvo estavam brincando de alguma coisa e jogavam uma bola pequena um para o outro. James estava realmente muito feliz, e eu não o via assim há um bom tempo e ver aquilo me fez sorrir involuntariamente. Vê-lo sorrindo daquele modo me lembrava de quando éramos amigos.

A última vez que eu o vi sorrindo daquele modo foi no dia em que terminei com Scorpius, e posso me lembrar com perfeição daquele dia.

Eu havia terminado com ele e estava totalmente chateada, porque, embora eu não o amasse mais eu gostava dele e não queria magoá-lo ou feri-lo de algum modo. Eu precisava de um tempo sozinha para chorar sem que ninguém ficasse me perguntando nada, o único lugar que me proporcionava àquilo era o Salão Principal.

Não havia ninguém ali àquela altura da noite, o castelo estava quase totalmente deserto a não ser pelos poucos fantasmas que perambulavam pelos corredores. Assim que atravessei a enorme porta de carvalho pude notar o quão vazio e silencioso estava ali, as únicas coisas que o iluminavam eram as estrelas que eram refletidas no teto enfeitiçado para que aparecesse o céu desprovido de nuvens ao lado de fora e as poucas velas que flutuavam magicamente ali.

Sentei-me na mesa da Grifinória e deixei que as lágrimas caíssem como cachoeiras por meus olhos e permaneci de cabeça apoiada nos braços para esconder meu rosto por um bom tempo.

Eu estava quase adormecendo ali mesmo quando James apareceu e veio ao meu encontro com uma expressão de puro alívio, mas ao notar minhas lágrimas o alívio sumiu e deu lugar a preocupação e fraternidade.

— O que houve Nique? – indagou usando meu apelido que era exclusivamente usado por ele.

— Scorpius. – foi a única palavra que saiu de minha boca.

— Ele terminou com você? – deduziu alarmado, mas eu neguei – Você terminou com ele? – concordei – Mas, por quê?

— Não dava mais. – funguei tentando parar de chorar.

Ele não fez mais pergunta nenhuma, ou disse algo. Ele apenas me abraçou e afagou meu cabelo sendo gentil comigo.

— Sabe de uma coisa, Nique? – sussurrou e olhei para ele com os olhos margeados – Quando se é adolescente tudo parece ser o fim do mundo, não é? Mas, não se preocupe, é apenas o começo.

Sem saber o motivo eu comecei a rir, não estava rindo dele, mas sim da situação em que nos encontrávamos, mas ele então estava rindo junto comigo e quando nos demos conta estávamos gargalhando sem motivo nenhum.

De repente, quando parei de rir, olhei para ele e voltei a chorar.

Aquela foi a última vez que rimos juntos de alguma coisa, pois no dia seguinte seu namoro com Rose já estava por um triz, e mal tínhamos tempo de conversar por causa das provas finais, e um mês depois Rose terminou com ele e então ele começou a me culpar por tudo.

Estava farta de ficar naquele quarto trancada sem nada para fazer, então decidi ir para o jardim onde todos estavam. Rose e Lily faziam uma a unha da outra, Vic e Teddy namoravam em baixo de uma árvore e Louis havia ido visitar Lucy. Assim que coloquei os pés no jardim a pequena bolinha quase acertou meus olhos, mas fui rápida o suficiente para apanhá-la antes disso.

— Meu Deus! Me desculpe por isso Dominique. – James veio correndo.

— Tudo bem. – disse seca.

— Me desculpe. – e por um segundo eu senti que não era pela bolinha que ele se desculpava.

— Já disse que tudo bem. – respondi.

— Não me refiro a bolinha. – explicou – Me refiro a tudo que te fiz ultimamente.

Sem reação eu fiquei calada e ele encarava-me olhando-me nos olhos. Seus olhos verdes esmeraldas transmitiam sinceridade e arrependimento. Seu cenho estava franzido, esperando pela minha reação, mas percebendo que não haveria nenhuma decidiu continuar:

— Eu fui um completo idiota julgando-a e dizendo que era sua culpa meu término com Rose, mas percebi que foi melhor assim e finalmente consegui entender o motivo de você ter terminado com Scorpius naquela noite em Hogwarts e entendi, também, porque riu e depois chorou... – ele parou por um segundo e continuou – Sério, me desculpe.

— Sabe de uma coisa James? – indaguei e ele olhou-me surpreso por notar que não havia sarcasmo ou ironia em minha voz. - Quando se é adolescente tudo parece ser o fim do mundo, não é? Mas, não se preocupe, é apenas o começo.

Ele sorriu, lembrando-se do que havia dito naquela noite. Olhou para a bolinha que estava em sua mão e disse:

— Quer jogar com a gente? – ele estava tentando ser gentil comigo, isto era muito obvio.

Mas, isso me deixava receosa, pois da última vez que ele fora gentil comigo, tudo de ruim aconteceu.

— Sim. – sorri de lado, e acrescentei mentalmente: Odeio quando tenta ser gentil comigo.

10 coisas que eu odeio em vocêWhere stories live. Discover now