Capítulo 1: A Entrada

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...

Thomas Hill Monte, 2018

Minha cabeça estava muito confusa. O avião, apesar de passados dois dias, continuava flutuando no mar, ou pelo menos algumas partes dele. Eu me sentia sozinho, como sempre, mas dessa vez a solidão parecia ser mais maciça e insuportável.

Quem poderia dizer que uma viagem simples de negócios poderia se transformar em uma passagem para a morte? Eu, simplesmente, não tinha forças para levantar e decidir procurar suprimentos ou formas de sobreviver na ilha, minhas esperanças me alimentaram durante dois longos dias.

Ao longe, em uma montanha, vi e ouvi movimento. Um biólogo/arqueólogo nomeado, como eu, deveria saber que aquele tipo de deslocamento não correspondia a nenhum animal, mas a uma pessoa.

Meus olhos encheram-se imediatamente. A esperança de que alguém estava na ilha voltou a queimar e meus sentimentos e pensamentos negativos sobre o abandono de Deus para comigo, haviam ido embora.

Arrumei minha calça, blusa, bota e jaqueta. Olhei calmamente, procurando algo útil, para os destroços que estavam do lado seco da praia. Minha bíblia estava lá, imóvel e incrivelmente seca.

Os pensamentos voltaram, mas fui forte suficiente para conseguir controlar todos eles. Peguei uma mochila grande, cujo dono eu desconhecia. Pensei duas vezes antes de pegar o que não era meu, mas no fundo eu sabia que ele não iria mais precisar dela.

Esvaziando-a, notei alguns utensílios flutuando levemente fora da terra firme. Um facão aparentemente novo, uma garrafa de água e um gancho de escalada, bem como as proteções.

Talvez eu tenha dado muita sorte, mas aquela era, possivelmente, a mala de um aventureiro apaixonado por escalada em montanhas perigosas.

Após olhar tudo e guardar alguns pacotes de comida enlatada e industrializada, corri na direção da imensidão de plantas e arbustos.

...

Incansavelmente, minhas pernas ajudavam-me na corrida em busca da pessoa cujo havia se movimentado sobre a montanha. Parei um pouco, respirei e tentei ouvir algo que pudesse me dar uma pista sobre a minha procura. Não ouvi nada, basicamente.

Notei a escuridão da floresta assim que parei, mas já havia corrido muito. Depois de olhar em volta, ouvi algo que não era bem o que estava procurando.

Um som estranho rondou a floresta. Asas de inseto batendo seria o certo a se descrever, mas o som ensurdecedor denunciava algo impossível: o mosquito deveria ser, no mínimo, do tamanho de um cavalo adulto.

Fui na direção do som quase de imediato. Puxei, cautelosamente, o facão da mochila e posicionei o mesmo para frente, como forma de defesa.

Apesar de já ter cuidado de leões em uma floresta enorme, eu sentia que não era a mesma coisa, dessa vez eu estava completamente sozinho e sem ajuda.

O som ficava mais próximo a cada passo. Cheguei ao local, apenas uma barreira de cipós grossos me separavam do som. Empurrei com força, abrindo uma janela.

A imagem me assustou, fazendo-me cair no chão bruscamente. Uma cúpula gigante suspensa guardava uma colônia de insetos grotescos e gigantes, quase do tamanho de vacas.

O que estava mais perto de mim olhou-me profundamente. Seu ferrão pingava gotas grossas de veneno que, aparentemente, era letal.

Minha expressão facial mudou de imediato e me propus a correr em uma velocidade incrível. A sede de escapar da morte parecia causar uma adrenalina sobrenatural em meu corpo, pelo menos meu medo me fazia agir e não congelar.

Galhos e galhos batiam no meu rosto durante a fuga incansável, ainda notava um movimento muito forte atrás de mim e isso era o bastante para me dar mais e mais impulso.

Avistando uma luz no fundo da floresta, desviei meu trajeto diretamente para a possível saída. A luz ofuscou minha visão por decisivos quatro segundos, o suficiente para que eu não notasse que estava correndo na direção de um enorme desfiladeiro.

Derrapei aproximadamente uns cinco metros, batendo meu rosto e meus braços em plantas e pequenas pedras, que me causaram inúmeras e pequenas lesões.

Levantei-me sem me importar com os pontos de dor, pois notei que a perseguição não havia acabado ainda e que a criatura estava ainda mais perto de mim do que antes.

A adrenalina é algo incrível, o instinto de sobrevivência nos implica a fugir e a não sentir absolutamente nada durante uma crise ou necessidade de viver. O ser humano vira um animal selvagem e irracional toda vez que ousam mexer com sua vida ou ameaçam sua sobrevivência. No mais, basta dizer que, naquele momento, foi esse instinto que me ajudou a sobreviver e não habilidades aprendidas em meses de experiência na floresta tropical.

O facão, que estava segurando, provavelmente não teria efeito algum sobre o casco aparentemente duro do inseto gigante. Minha adrenalina estava sendo sufocada pelo cansaço e eu precisava pensar em algo eficiente.

Notei fundações e construções no horizonte. Meu pensamento racional voltou a funcionar e me fez questionar como uma ilha deserta poderia sediar construções humanas.

No segundo que tornei a pensar, minha adrenalina foi embora. O inseto posicionou suas pernas como um gavião a capturar suas presas e levou-me no ar.

Minha reação foi instantânea. Puxei o facão e rasguei metade de uma das patas asquerosas da criatura. Ela soltou-me a seis metros do chão.

Por sorte, minha queda foi amortecida por um colchão de plantas silvestres macias e diferentes. Levantei-me, um pouco tonto, imediatamente. Olhei em volta, mas não notei movimento aparente entre as plantas e também não ouvi sons que denunciavam quaisquer coisas.

Minha atenção voltou-se, novamente, para a construção bem na minha frente. Existia uma porta grande que, provavelmente, dava acesso a alguma coisa bem maior.

Dos dois lados da porta, haviam estatuetas de arcanjos que protegiam a porta com espadas gigantes. Analisei e percebi que as duas figuras apresentavam locais para encaixar uma espécie de peça em forma de espada torta.

Uma das estatuetas abrigava a peça, enquanto a outa estava vazia. Analisei e percebi o mecanismo que a destravava, e somente a outra espada poderia abrir a porta, a única questão era que a peça poderia estar em qualquer lugar da ilha.

Senti movimento atrás de mim, algumas pessoas vinham conversando. Fiquei feliz, mas quando fui me aproximar minha intuição gritou fortemente. Não resisti a vontade de meus pensamentos que alertavam todo o meu corpo de que não era uma boa ideia revelar minha presença.

Fiquei espreitando entre as folhas grossas de uma palmeira. Dois homens armados e com roupas equipadas chegaram diante da porta, um deles tinha um olhar diferente e distante, sua aparência era suja e asquerosa.

O outro homem, que parecia totalmente são e cem por cento humano, parou em frente a grande porta. Puxando a outra peça de sua bolsa, encaixou-a na estatueta restante.

O mecanismo foi ativado e as duas espadas saíram do caminho, abrindo a passagem. Antes de entrar, o homem olhou para o outro e ordenou: Fique aqui, temos visitas curiosas.

Assim que ele entrou, a porta fechou-se e a peça caiu. O homem estranho que havia ficado, pegou a mesma e guardou-a em sua mochila. Ele virou-se na minha direção e começou a caminhar devagar.

Meu espinhaço gelou quando notei que a visita, da qual o outro homem havia falado, era eu. Minhas pernas começaram a tremer, mas eu sabia que deveria fazer alguma coisa. O homem puxou um machado e correu com tremenda fúria em minha direção.

ILHADOSWhere stories live. Discover now