Desencontros

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Jealousy
Turning saints into the sea
Swimming through sick lullabies
Choking on your alibis  
(Ciúmes
Jogando santos dentro do mar
Nadando através de loucas canções de ninar
Sufocando em suas justificativas)  

Dei meia volta em meus próprios pés e deixei um Shino pasmo para trás. A turma, de longe, certamente não entendia nada. Precisava ficar sozinho. Precisava tomar um ar. Meus pensamentos suplicavam por uma trégua. Pareciam querer voltar para casa, mas não achar o caminho. "Hyuuga Hinata, o que você fez comigo?". Sentei-me em algum lugar daquele prédio, sem me importar com onde exatamente.

Tudo que me vinha à mente era o momento em que Hinata adentrou aquele salão: linda e imponente. Um ar angelical e inocente contrastando com a sensualidade e ousadia do vestido que escolhera: seda lilás, marcando muito bem suas curvas e atributos. Um decote que nunca a vi usar.

Extremamente sexy. Tanto que eu não teria números ou palavras suficientes para descrever. Naquele momento, o mundo parou e eu só conseguia enxerga-la: a mulher mais bela que certamente já tinha existido em meu universo. E, até aquele momento, sem dúvidas, a única que eu queria que entrasse no meu infinito particular, fechasse a porta, trancasse, jogasse a chave fora e nunca mais o deixasse. Que ela se apossasse dele e não permitisse que mais ninguém nos atrapalhasse.

O engraçado é que a conheço há pelo menos 15 anos. Era uma das minhas melhores amigas, por quem eu tinha grande estima e um sentimento genuíno. Era minha doce menina... e eu só fui me dar conta da mulher que havia se tornado há seis meses. A cena foi exatamente igual a sua entrada hoje naquele salão.

Em ambas, ela me dava um sorriso largo e seus olhos pareciam clamar pela minha atenção, enquanto trajava um belo vestido lilás, mas da outra vez com ares de princesa, bem diferente de hoje. As coisas estranhamente começaram a se mover em câmera lenta, senti a boca adormecer, um suor inexplicável nas mãos. Engoli em seco e esqueci como se respirava. Eu podia sentir a reciprocidade em cada mínimo gestual que ela fazia. Mas, se da primeira vez eu não tinha coragem de me aproximar, mesmo ela não sendo uma desconhecida, hoje eu era o cara mais valente e corajoso do mundo. Só que, como no dia em que eu "redescobri" Hyuuga Hinata, ele também estava lá: Otsutsuki Toneri.

Meu sangue ferveu, naquela época e mais ainda hoje. E chegamos ao ponto que chegamos. Ciúmes. Eu não podia aceitá-lo ao seu lado. Não depois do que aconteceu há quatro dias. Inveja. Era insuportável o pensamento de que ele a tocava. Por mais que eu não quisesse, a cena teimava em se apossar da minha mente: a certa hora daquela noite, os dois chamariam um táxi, iriam para algum lugar reservado, ele abaixaria aquele zíper - provavelmente muito difícil de abrir - e poderia sentir aquela pele macia, se afogar naquelas curvas apetitosas e amá-la, como eu não poderia amá-la. Satisfazê-la, como eu não estava autorizado a fazer. Raiva. Primeiro porque era difícil de imaginar alguém tão inocente e angelical como a minha azulada cometendo tais atos, digamos, pecaminosos. Segundo, porque não era eu o motivo dos olhos perolados revirarem-se de prazer e nem o meu nome a ser pronunciado por aquela voz tão doce, em um gemido provavelmente sutil, mas delirante. Sabia que era loucura estar remoendo tudo isso em meio a um baile. E, pior, sem nunca a ter.

Mas, mantive meu otimismo de que tudo aquilo era apenas uma piada de mau gosto, uma pegadinha do destino e me mantive durante a primeira hora e meia da noite como eu sempre fui conhecido, o senhor Otimismo, certo de que ela o deixaria plantado em algum lugar daquele salão e tentaria fugir comigo, para um lugar qualquer, dizendo que se sentia como eu me sentia, mandando um sonoro "foda-se" para aquele cara almofadinha. Amanheceríamos exaustos após nos aventurarmos um nos corpos do outro.

Só não contava com o fato de ela ter planos mais perversos para hoje: torturar-me psicológica e fisicamente. Sim, físico, porque aquela dança foi uma jogada baixa. Sentir o calor do seu corpo, a pele sedosa, o cheiro de lavanda, o sabor daquele corpo, dedilhar aquelas curvas, mas não poder tocá-la de verdade. "Foram só dois beijos, Uzumaki idiota!".

Senhor OtimismoWhere stories live. Discover now