Capítulo 2

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Sou Liz Diniz Arouge, quase 30, tatuadora desde os 20, formada em Artes Plásticas aos 26 e logo, muito bem empregada em uma renomada editora. Não tenho família, mas não sou sozinha no mundo, não, viu?! Tenho os melhores amigos/ empregadores/ pais que alguém que passou por tantas poderia ter. Devo minha quarta e atual vida a eles! Sem contar tia Olga e Olavo, amores da minha vida.
Vamos começar a explicar esse negócio de ser meio felina, né? Vou tentar resumir, mas acho que não vou conseguir, então segura aí!

Lúcia Arouge era uma mulher fina, requintada e de boa família que se apaixonou perdidamente por Marcos Diniz, um jovem de classe média e muita ambição. Eles se casaram  e tiveram uma única filha: Euzinha!
Até os 9 anos era a garotinha dos laços cor de rosa, sapatinhos envernizados, cheia de brinquedos e a bonequinha da mamãe. Dessa época me lembro bem das histórias antes de dormir, dos sorrisos e das brincadeiras no lago e de ter tudo que desejava. Mas um câncer muito agressivo levou minha mãe dois dias depois que eu completei 10 anos. Ela já estava bastante doente mas continuava com o mesmo sorriso, paciência e dedicação para não deixar que sua filha percebesse o pouco tempo que lhe restava.
Seis meses depois de perder minha mãe, meu pai, que passava metade do ano viajando, já contava com uma polpuda grana no banco e seria nomeado senador; não teria tempo de cuidar de sua "querida filha única" e então fez o que poderia: Matriculou a mocinha em um colégio interno.
Verdade tem que ser dita! Nunca me faltou nada! Pelo contrário. Sempre tive as melhores roupas, os materiais mais caros, e as melhores notas também. Saí do colégio com 16 anos e até o velho ir embora deste mundo, tive o mais caro "debut", frequentava as festas mais badaladas e vivia como a Mia Thermopolis, depois que conheceu sua avó, a Rainha Clarisse, em O diário de uma princesa.  Só que no meu caso não havia nenhuma rainha para me educar, então...

- Mocinha, acho que você passou um pouco dos limites ontem! - Alice falava comigo em tom de reprimenda.
- E você é o que por acaso? Minha mãe??
- Não, não sou sua mãe, mas acredito ser a pessoa mais próxima de uma família que você tem no momento.
- Eu tenho um pai, sabia?
- Que nunca está em casa, que não te dá a mínima atenção e que está falindo! Acho bom você parar de gastar tanto!
- Você não tem medo de perder o emprego, Alice? - Ela gargalhou ao me ouvir perguntar.
- Eu? Por dizer a verdade? Definitivamente não! Essa é boa, franguinha!
- Franguinha é a vaca da sua mãe!!!! Vê se me deixa em paz!
- Outra verdade! Minha mãe era mesmo uma vaca! Isso não me ofende. Bem, você quer que eu te deixe em paz? Por mim tanto faz, mas não ouse chorar perto de mim quando as coisas desmoronarem! - Fiz um sinal com o dedo médio para ela e fui para o meu quarto.

Alice era a governanta mais debochada, irritante e verdadeira que eu conheci. Ela não tinha medo de nada, nem do "querido" patrão e muito menos de colocar uma adolescente estúpida no seu devido lugar. Se tivesse sobrevivido ao assalto em nossa casa, tenho certeza que eu não passaria por tudo que passei. Após sua morte, comecei a entender que ela sabia muito do velho Marcos, inclusive suas tantas merdas, mas aí já era tarde para uma adolescente de 17 anos, sozinha, tentar resolver ou consertar. Afinal, o que eu sabia da vida?? Isso mesmo, NADA!

Uma cigana leu o meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora