Capítulo 8

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Depois de minha quase prisão e quase perda da virgindade, senti que poderia ser mais e me enchi de coragem...ou rebeldia.
Estava morando com tia Olga e Olavo e precisava trabalhar. Depois de passar por uma experiência de três meses super desastrosa como garçonete e  conhecer alguns "amigos", fui parar em uma agência de serviços gerais que foi meu sustento por quase três anos, mas também a minha ruína.

- Rede Master, boa noite, faça seu pedido! - Estava no drive thru neste dia e era minha última chance naquele lugar.
- Como faço para conhecer a garçonete mais linda que já vi?
- Como senhor?
- Eu sei seu nome, Liz, sei que é linda e que não me dá a menor bola, então soube pelo Tomás que estaria hoje por aqui.
- Tomás? Você é o amigo dele? Aquele que vem sempre aqui?
- Eu mesmo. Mas só me apresento quando estiver olhando em seus olhos. - Eu sorri.

Adriano me ganhou ali, com aquela cantadinha barata que me fez perder minha última chance na Rede Master Fast Food, porque logo após ouvir vários carros buzinando, meu chefe parou atrás de mim e ouviu parte da minha conversa, principalmente a parte em que marcava um encontro com meu novo futuro namorado.
Através de Adriano conheci Estela e Agnes, sua irmã mais velha, e trabalhamos juntos na mesma agência de serviços gerais. Tomás veio logo depois de pedir demissão da Master.   Faxinávamos as mansões dos meus ex amigos, fazíamos cópias das chaves e voltávamos nas madrugadas para roubar o que pudéssemos. Em nossa lista também estavam incluídos restaurantes, salões de festas, escritórios e tantos outros locais.  Juntos formávamos uma "bling ring de araque" que não virou filme, devastou nossas vidas e só deixou más lembranças.
Durante alguns meses, namorei Adriano e com ele minha "pelinha do meio" se foi. Não me arrependo! Foi bom, mas poderíamos ter aproveitado mais se não fosse a grande merda que fazíamos.
Agnes era a líder e Adriano como seu irmão, era um co-líder. Estela já estava bem integrada, e trouxe Tomás com ela, porque eram apaixonados. Eu, só fiz meu primeiro roubo por vingança, e depois que tomei o gostinho, enquanto não faxinei e "limpei" todas as casas dos meus ex amigos riquinhos não sosseguei. Mas eu não queria nada, aquelas coisas para mim eram sujas, mais sujas até do que a sujeira que eu e meus amigos fazíamos...que cabeça torta a minha! Nossa!.
O fato era que se eu não jogava no lixo, meus amigos dividiam entre eles, mas o que eu mais gostava  não era roubar, eu ficava insana quando destruía ou estragava roupas ou quebrava algo valioso para eles, eu os conhecia bem e sabia onde iam ser feridos.
A esta altura, já morava com Adriano no cubículo que ele chamava de casa e nunca visitava tia Olga porque não queria ouvir "sermão".

- De nós cinco, minha gata é a melhor! - Adriano disse em um fim de semana na casa de Agnes onde separávamos nossos roubos e bebíamos muita cerveja e toda bebida que conseguíamos de hotéis.
- Ah! Qual é! Eu fiz 5 essa semana! Um para cada dia! - gritou Estela do outro lado da sala.
- Eu fiz o dobro, Ester, desculpa, tá!
- Piranha!
- Dobra a língua. É vadia! E de um homem só! - E caíamos na gargalhada, enquanto Adriano já me puxava para o quarto. Transávamos como coelhos e por muita sorte não engravidei.
- Vem minha, vadia! Vamos fazer o que sabemos fazer melhor depois disso tudo aqui. - Ele disse apontando para montanha de coisas a nossa frente.

Se tívessemos ficado só nos roubos, acredito que essa parte da minha vida não teria sido tão ruim, pois, mesmo errando, não me considerava uma ladra, já que não ficava com nada, o pior foram as bebedeiras e pouco depois, as drogas. Vou resumir aqui, porquê ainda me dói lembrar e não gosto muito desse meu passado insano: Agnes deixou de ser a nossa líder, conheceu um carinha, engravidou, e mudou de cidade. Eu e Adriano terminamos assim que descobri que ele estava usando drogas pesadas. Agradeço todos os dias, por nunca ter colocado nem um cigarrinho do capeta na boca, meu vício era a bebida e consequentemente, o sexo. Hoje sei que se me drogasse como meus amigos, não estaria aqui para contar essa história.
Mas voltando, Tomás e Estela, após usarem as merdas deles no trabalho, resolveram fazer só eles "o dia" num hotel badalado e foi aí que a coisa toda acabou: Eles foram pegos, presos e foi quando eu encarei o juiz Joaquim pela terceira vez, porque os putos entregaram o restante do bando, ou seja, Eu e Adriano.
Contra mim e Adriano não haviam provas, pois não estávamos lá, ainda que algumas desconfianças pairassem em nossas cabeças. A mim coube apenas ir fazer tratamento no A.A e serviços comunitários, porque, mesmo sem provas contra mim, existia a conivência. Adriano não chegou ao julgamento, morreu de overdose antes disso e meu mundo diminuiu um pouco. Ele foi meu primeiro, mesmo que torto, homem e amor.
Quando tudo acabou, não tinha mais ninguém comigo, mas tinha os amigos drogados de Adriano que sabiam como dar uma festa. E por quase dois meses minha rotina era trabalhar, sem roubos, e ir às festas para tentar esquecer tudo. Colocava minhas melhores roupas que ainda tinha, ia para as festas, bebia até perder o controle e transava com mais caras do que me lembro.
Um dia, já cansada daquilo tudo e de estar sozinha, acordei no meio daquela gente bêbada e drogada saí pela manhã ainda bêbada, vomitei tudo no poste da esquina e lembro vagamente que uma senhora de olhos negros me chamou de minha menina, segurou meus cabelos e me falou um monte de coisas das quais pouco me lembro. Entrei no estúdio de Rubem achando que era um bar e  naquele dia, meu inferno acabou!

Uma cigana leu o meu destinoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant