Capítulo 23

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Joel não demorou a aparecer. Quando entrou logo percebeu que tinha algo errado. Meu rosto ainda parecia uma almofada fofa, inchado de tanto chorar.

- Ei! Poucas pessoas já te viram assim, acredito eu. Não sei se me sinto bem ou mal por isso.

- Está tudo bem. Apenas algumas questões...

- Algumas muitas não é?

- Algumas muitas...

Ele me abraçou, beijou o alto da minha cabeça, me sentou em seu colo e começou a falar

- Sabe... você é uma mulher inteligente, perspicaz. Acho que já percebeu alguns desconfortos de minha parte...a minha demora...

- Sim, não precisa fazer isso agora.

- Sinto vontade, Liz.

- Estarei ouvindo

- Eu amei uma mulher que foi a minha vida e ela não existe mais nesse mundo.

- Shhh! - Pousei o dedo indicador sob seus lábios, eu já sabia a história e não gostaria de ouvir de sua boca, era tortura! - Entendo. Não precisa mais...

- Você sabe...- E lembrando a frase que me foi repetida por mais de três pessoas, falei a verdade. - Alguma coisa, e foi dolorido, fico imaginando o quanto é para você, então... - Ele me abraçou com força e me beijou, beijou e beijou.

- Vai me dizer agora algo que se passa com você? Já mereço isso?

- Joel, e-eu só...

E não conseguindo mais segurar aquela angústia de saber que seria só mais essa noite, me descontrolei e em meio as lágrimas, não permiti que seu pai conversasse com ele em primeiro lugar.

- O juiz veio me ver, e ele quer tanto te ver feliz...e eu estou tão feliz que se pudesse te deixaria no escuro, mas não posso. Ele me contou de sua mãe...a outra parte da história...eu não tenho culpa! Não tenho culpa! Eu sou só a filha que já passou por tanta coisa que quer paz... você também não tem...ele quer o teu final feliz... - E foi quando lembrei das palavras do juiz Joaquim " Não quero que a história se repita" - Podemos mudar isso, Joel...

- Liz! Isso não está fazendo sentido para mim!!

- Eu sou a filha da mulher que seu pai sempre amou, pôrra!!!!

- C-como?

- Aquela que fez com que sua mãe fosse embora...

- Lúcia Arouge...anos para descobrir seu nome...

- Me desculpe!

- Pôrra! - Ele se levantou, me olhou, passou a mão nos cabelos e saiu pela porta.

Uma semana sem notícias. Uma semana sem sorrir. Uma semana sem ele. Uma semana para meu aniversário.

Desta vez não estava de mau humor, não queria arrebentar a cara de ninguém e nem discutir. Meus amigos acharam estranho e eu também achei. Fiz todo o trabalho que precisava na editora e no estúdio e queria que o dia passasse logo para deitar na cama chorar e dormir. Amar era isso? Eu não queria mais!

- Nem pensar em dizer que vai dormir, vaca!

- Lice, sério! Não tô a fim de comemorar. E vou trabalhar, acho que até tarde.

- Passa o trabalho para o Rubem!

- É em residência, Lice. Pegamos pouquíssimos trabalhos indo em casa, é trabalho grande, boa grana!

- Mas é seu aniversário, pôrra!!! Remarca! Você vai até lá não vai? O cliente pode...

- O cliente sempre tem razão. E ela não sabe que é meu aniversário!

Uma cigana leu o meu destinoWhere stories live. Discover now