Capítulo 10

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O dia do coquetel chegou e meus nervos estavam em frangalhos! Porquê fui fazer aquela aposta ridícula com Fernando? E se o Juiz realmente gostou da capa que eu detonei? Fernando não me deu nenhuma resposta e eu podia perder meu emprego! Tiro bem no estúdio, mas amo meu trabalho na editora, é como se fosse uma compensação nessa minha vida torta. Mas eu não daria o gostinho a ele de perguntar!! Ah! Não!! Seja o que Deus quiser!
Cheguei no amplo e elegante salão, e logo avistei Lariana.

- E aí, Lari?
- Nossa, Liz! Mas você está  bapho!!!
- O quê? Achava que eu não sabia me arrumar para essas ocasiões?
- De verdade, achei! Aliás, tinha certeza! Com licença, vou morder minha língua aqui!
- Se for para perder o emprego, vou perder com dignidade!
- Ah, não!!! É sério isso??? Pôrra, Liz! Pra quê você apostou!! - "Então, Fernando não falou nada com ninguém! Não era só eu quem não sabia a resposta do Juiz! Puta merda! Vergonha elevada!"
- Vamos lá, Lari! Acabamos logo com isso!

Caminhamos até o salão anexo onde estavam os livros a serem autografados, Fernando e...O Juiz Joaquim. Minhas pernas tremiam, meu estômago queimava, mas como boa atriz que eu poderia ser, ergui a cabeça, empinei o nariz e fui!

- Se não é a moça da capa! - Fernando tinha um sorriso debochado no rosto que não dizia muita coisa.
- Em pessoa! - O juiz que já estava começando a autografar alguns livros ergueu os olhos e me encarou.
- Senhor, quero que conheça a Liz, a moça da capa.
- Conhecer? Achei que fosse conhecer, e não reconhecer...
-Boa noite, Juiz Joaquim! - Estava a ponto de vomitar!
- Liz Diniz! Parece que ouvi mesmo falar de você...e bem.
- Liz Arouge, senhor!
- Certo...- Ele deu um meio sorriso, balançou a cabeça e voltou-se para Fernando - Então, Fernando, conte a ela o que achei da capa.
- Atenta aqui! - Minha tentativa de fazer graça foi ridícula! Fernando contou sobre a aposta! Filho da puta! Me vi apertando os dedos de Lariana e só me dei conta quando ela soltou um lamento entre dentes.
- Você teve razão...capas com brilho tiram a beleza da criação! - Fernando piscou para mim e eu me vi respirando desde que cheguei perto do Juiz Joaquim. - Certeza que não seria de outra forma! - Consegui dizer.
- Então, Liz... Arouge! Tempos que não nos encontramos, não é mesmo?
- Não me recordo muito bem de ocasiões desagradáveis, senhor! - Meus Deus! O que eu disse!? Tentei consertar - Quero dizer com isso que meu passado ficou bem lá atrás, procuro deixá-lo por lá.
- Bom, bom...a senhorita mudou bastante, posso ver!
- Graças a mim mesma e aos meus amigos! - Fodasse! Não devia nada para ele! Não seria mal educada, mas ele não pisaria em mim! De maneira alguma!!
- Continua impetuosa...algumas coisas não mudam ao longo da vida.
- De fato...algumas coisas permanecem, algumas ideias e ideais também, eles apenas se refinam.
- Posso dizer que concordo com a senhorita... - Ele voltou a se sentar para autografar mais alguns livros - Aproveite o coquetel, Liz Arouge, a moça da capa! - E então ele sorriu. Onde eu já tinha visto aquele sorriso? Peguei Lariana pelo braço
- Vamos, preciso beber!
- Opa, opa, D. Liz! Não vou te regular, mas fique sabendo que Paulina me enviou duas mensagens hoje!
- Ahhh! Vamos! Sou adulta, pôrra!

Sim, eu sou adulta e não envergonharia a mim mesma naquele lugar e nem aos meus queridos amigos. Mandei uma mensagem para Paulina dizendo que não se preocupasse.
Circulei com Lariana em meu encalço a noite toda, fui elogiada, muito parabenizada e estava louca para ir embora. Meus pés doiam naqueles saltos, já estava um pouco zonza pela bebida, era hora de me retirar, mas...

- Liz!
- Olaf! Graças a Deus um rosto conhecido sem ser o dessa aqui - apontei para Lariana - Estou de saída.
- Me espere! Só vim mesmo conseguir um autógrafo do Juiz e também estou indo. Belo trabalho, Liz...notei algumas semelhanças na capa - Ele riu e apontou para o braço - Já falou com ele?
- Já, Olaf! Vai logo!
- Vamos comigo! Você aproveita e se despede.
- Ceeeerto!

Voltei ao salão anexo e nos dirigimos para a pequena fila formada quando eu o avistei.

- Sabia que não viria sozinho! Desde quando seu chefe virou seu amiguinho?
- Cara, Liz...ele é gente boa! Patrão 10 e... - foi quando escutamos em alto e bom som, aquele deus grego dos infernos falar com o Juiz.
- Parabéns, meu pai! Meu orgulho!
- PAI?! - Eu e Olavo falamos juntos e os dois nos avistaram.
- Olavo! Sim, meu pai! Achei que você já sabia! Venha apresentar sua garota a ele, cara! - E o que foi aquele olhar? Desdém? Raiva?
- Já conheço a senhorita Liz, filho, ela é a mocinha da capa de quem lhe falei...
- Ah! - Não consegui de forma alguma definir o que foi a reação dele e minha dor na boca do estômago voltou com força.

O que se seguiu foi um borrão. Olavo com um sorriso muito amarelo apertando a mão do Juiz. Lariana que não tirava os olhos de Olavo,  eu me despedindo do Juiz Joaquim e seu filho( deus grego infernal) que soube ali que se chama Joel...eu tinha um nome...O sorriso do Juiz, o sorriso de Joel no bar, minha vida passada voltando em memórias. Puta que pariu!!! Podia ficar melhor não, pessoal aí do céu??? Por favorrrr!

- Olaf...me leva lá para fora, estou sufocando aqui!
- Liz, puta merda, eu também! Vamos.

Tanto eu quanto Olavo estávamos de cara com toda aquela situação. Ele pelo pacto de se tornar um advogado defender minha antiga causa, ganhando e esfregando na cara do juiz Joaquim e eu...bem...a quem eu queria enganar? A mim mesma? Eu estava sim meio que caída por Joel, mesmo tendo visto ele tão pouco. Mas depois daquele dia no estúdio, não parava de pensar nele e agora, isso tinha que acabar!!

- Cara...o Joel tinha que ser filho dele? Logo dele? Como vou levar isso adiante? O cara é mó legal...
- Vai para casa, Olaf! Vou fazer o mesmo...deixa para pensar nisso depois
- Certo!

Nos despedimos e cada um seguiu para o seu lado, pensando no que mais viria...

Uma cigana leu o meu destinoWhere stories live. Discover now