01 - A MOÇA NA CLAREIRA

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- Viollet! - Estou chorando. - Por favor, Viollet! Não faça isso!

          Como vim parar aqui? Por que isso está acontecendo?

- Não, Viollet, eu lhe imploro! Por favor!

          Por que continuo gritando e correndo se sei que isso não vai adiantar? Por que ainda persisto? É simples, por que a amo. Mas por que tive de me apaixonar por ela? Por que tive de conhece-la? Bem, isso não sei ao certo, mas tenho certeza de que foi algo que os deuses resolveram aprontar. Mas agora você me pergunta, ''quem é Viollet?'', para que eu possa responder essa pergunta por que não começo contando a história desde e do início?

          Eu morava sozinho com meus dois irmãos mais novos em uma cabana no meio da floresta. Depois que papai e mamãe morreram eu assumi os cuidados com meus irmãos e moramos pacificamente no mesmo local onde nascemos. Já é primavera e as flores começaram a desabrochar, logo irei sair para caçar, pois a carne do veado que matei há alguns dias está acabando.

- Kevin, estou saindo, vou caçar. Cuide da casa e de Perry.

- Eh? Por que eu? Por que não pede ao Perry?

- Porque na minha ausência você é o mais velho. E além disso, pensei que você quisesse me provar que não é mais uma criança. Aí está a sua chance.

- Está bem, mas você vai ter que prometer que vai parar de me tratar como uma criancinha. Promete?

- Prometo.

          Naquele dia, por algum motivo, resolvo ir caçar em algum lugar diferente do qual estou habituado, mal sabia eu o que, ou melhor, quem iria encontrar no caminho.

          Eu já estava quase chegando à Clareira das Flores - nome que dei pois, durante a primavera o chão da clareira ficava totalmente forrado de flores, um cenário maravilhoso - quando avistei uma silhueta em meio as milhares de flores, uma silhueta feminina. Me escondi atrás de uma moita e assim pude admirar a moça ali parada, apreciando a paisagem. Ela sem dúvida alguma era a mulher mais bela que já vi em toda a minha vida, com seus cabelos negros como a noite, a pele clara como a neve e seus olhos tão azuis quanto o céu num dia de verão, elá usava um vestido longo, mas aparentemente muito leve, de cor roxa que cobria todo o seu corpo.

          Sem perceber eu acabara me apaixonando pela moça na Clareira das Flores. Mas seria possível se apaixonar por alguém que nem mesmo conheça? Com quem nunca conversara ou ao menos tenha dito um ''oi''? Bom, acredite ou não em minhas palavras, mas foi exatamente isso o que aconteceu comigo naquela tarde. Eu me apaixonei.

         Eu acabei saindo da moita sem que a moça percebesse e assim dei a volta - indo fazer aquilo pelo que havia saído de casa, caçar - esperando que ela não tivesse notado minha minha presença, o que aparentemente aconteceu, já que ela em momento algum se virou para olhar em minha direção - ao menos era isso o que pensava, pois mal sabia eu que aquela bela moça era a Deusa da Floresta e absolutamente nada acontece em seu território sem que ela saiba, e todos esses anos em que estive caçando, todos os animais que matei para sobreviver, foram presentes que ela me dera por compaixão pelos três garotinhos que passaram a morar sozinhos em uma cabana no meio da floresta depois da morte dos pais. 

          Já era noite quando eu finalmente voltava pra casa junto do veado que tinha matado. Após o jantar, como já era de costume, fomos até a sala e lá ficamos por longos minutos conversando. Eles contaram-me como foi a tarde deles e eu contei-lhes sobre a moça na Clareira das Flores.

- Mas Lucca, por que não foi falar com ela? - Dizia Kevin.

- Não tive coragem. Ela poderia se assustar, além disso não tenho tanta certeza se conseguiria de fato falar-lhe algo sem gaguejar. 

- Acho que meu irmão está apaixonado. - Falou Perry rindo por algum motivo.

- Não seja bobo! Eu nem mesmo conheço a moça, e tenho certeza que as chances de nos vermos de novo são praticamente nulas.  

- Mas não significa que não possa acontecer. Certo Kevin?

- Certo. Já ouviu falar em ''amor à primeira vista''?

- Isso não existe. - Respondi. 

- Como pode saber? - Retrucou Perry.

- Apenas sei. Agora chega de conversa que já está tarde e eu estou cansado, vamos ir dormir logo.

          Eu realmente estava cansado, mas por maior que fosse meu sono, eu simplesmente não consegui pregar o olho uma única vez sequer aquela noite, pois não conseguia parar de pensar na moça de beleza rara que vira naquela tarde, e finalmente percebi que aquilo que os garotos haviam falado talvez não fosse tão absurdo assim e eu talvez realmente estivesse apaixonado. E eu estava.

◇◆◇CONTINUA◇◆◇

Doce PrimaveraWhere stories live. Discover now