Victor estava na frente da casa de Lewis, pois havia recebido as más notícias a respeito do que ocorrera com seus primos. Sophie e sua amiga, Olivia, estavam há uma semana sumidas, e Brandon ainda encontrava-se inconsciente. Suas mãos tremiam e permaneciam suadas a medida em que decidia se bateria na porta ou não. Seu coração doía somente por estar ali. Pensou mil vezes em dar meia-volta, mas era necessário. Formou um nó com os dedos, e antes mesmo de bater, a porta abriu-se.
A angústia havia recaído sobre os Valentines. Diana quase enlouquecera por seu filho ainda estar em coma, e a filha, desaparecida. Teve aquilo como um carma por seus erros passados. Para a surpresa de Victor, encontrou-se com Heron e Kairus, naquele mesmo lugar, ambos atormentados com o que vinha acontecendo. O rapaz adentrou a saleta e esperou uma reação negativa, um olhar cortante, uma palavra de maldição, mas o que ocorreu foi inesperado até para ele. Sua tia, Diana, jogou-se nos braços do rapaz, atracando os braços ao redor de seu pescoço, implorando pelo seu perdão.
— Perdoe-me por tudo o que fiz contra ti. Estou pagando pelos meus erros. Fui cruel e injusta contigo. Lhe tratei mal, quando deveria ter acolhido-o como um filho. Perdoe-me, Victor, perdoe-me. Oh, céus, só quero os meus filhos de volta.
Ele não era o único que estava quebrado. Sua visão ficara turva, em poucos segundos as lágrimas rolaram por seu rosto. Apertou Diana em seus braços, e sussurrando em seus ouvidos, dissera uma simples sentença:
— Está perdoada, minha tia.
Virou-se para Heron e Kairus, que jaziam em pé na saleta, a olharem para a cena. Nada disseram, apenas eram espectadores daquele acontecido. Despindo-se de toda a sua arrogância e orgulho, Victor olhou profundamente para o pai e para o avô, respirou profundamente, e então, plantou os joelhos no chão, trazendo sobre si, o manto da humildade.
— Sempre pensei que ter o poder dos Valentines me traria glórias, e que me faria ser melhor que todos vocês. Almejei ter esse poder para revidar, para humilhá-los, para sofrerem na pele o que eu sofri, mas isto não aliviou-me. Ao contrário, só deixou meu coração pesado e minha alma em frangalhos. Muito gostaria de que nada daquilo tivesse acontecido. Quando alimentei a minha desforra, não pensei nas consequências. Eu suplico, de coração aberto, que me perdoem. Porque em verdade, digo a vós, que eu já os perdoei.
Kairus avançou um passo, ficando de frente para o filho. Ofereceu a mão para o rapaz, para que ele ficasse em pé. Victor pudera testemunhar que o tempo em nada abalou aquele homem. Olhou o filho por algum tempo, e então, falou.
— Afastei-o de mim, porque sempre o culpei pela morte de Alana. Pus tamanho peso em uma criança tão pequena, pois não admitia que o amor da minha vida tivesse morrido. Não fui o melhor pai para você, e está deveras tarde para cumprir esse papel. Os anos que passei longe da mansão Valentine, e consequentemente, de ti, fizeram-me ver a vida por outros ângulos. Percebi que sou apenas um miserável arrogante, que negou o amor de pai para uma criança que havia perdido seu ente mais querido. E, agora, estou aqui, cansado e quase em desespero pelos pilares da minha família estarem ruindo.
Puxou Victor pelos ombros, e cobriu-o com um abraço. Aquele era o pedido de perdão de Kairus por todo o mal que lhe fez ao filho.
Victor fechou os olhos, mas isso não impediu as lágrimas de continuarem caindo. Não havia mais rancor, ou qualquer resquício de ódio, pois ele havia aprendido a perdoar. Sentiu uma mão no ombro, volveu-se e encarou Heron, que olhava-o, completamente despedaçado. Victor assentiu para o avô. Não era um homem que deixava-se levar facilmente por emoções, mas aquela era a sua forma de implorar perdão ao neto.
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VENNIA
Historical Fiction❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...