Capítulo 50

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Fechada. A porta da igreja estava fechada e Victor soltou um suspiro de desapontamento. Olhou para o céu, os tons de lilás e laranja encontrando-se com as nuvens róseas. Um claro sinal do fim do entardecer. Logo, a lua e as estrelas, estariam reinando sobre o céu.

Escutou um barulho vindo de dentro da igreja, e curvou-se, espiando através da fechadura, e constatou que havia uma moça lá dentro, que limpava os bancos, lustrando-os. Em seguida, viu-a colocar água em um vaso, para logo depois, depositar as margaridas. Victor deixou de dar atenção para ela, desceu os degraus, e sentou-se nos mesmos.

Nem ele mesmo sabia porque obedecera o conselho do ancião. A Igreja não era exatamente seu lugar favorito. Por anos, evitou de adentrar em uma, pois temia que a avalanche de más memórias lhe destruísse mais ainda. O incêndio, a morte de sua mãe, tudo ainda lhe desolava. 

Sua cabeça ainda doía devido a pancada que Heron lhe desferiu dias antes. Apoiou os cotovelos sobre os joelhos, enterrou as mãos no rosto, e sussurrava consigo mesmo, uma prece. A igreja estava fechada, mas nada o impedia de fazer suas súplicas do lado de fora.

Clamou por um pouco de paz e tranquilidade, mas acima de tudo, desejou que Deus lhe escutasse. Desejou ser mais receptível à ideia do perdão e com sinceridade, pediu a Deus que o ajudasse a perdoar seus parentes, e a ser perdoado. Derramou seu coração ali naqueles degraus. Sua mente somente conseguia pensar em Vennia. 

Vennia, Vennia. Doce Vennia. Donzela indomável. Rememorava-se de suas conversas, de suas discussões, da vez em que ela chorou em seus braços, da vez em que ela o beijou com tamanha intensidade, e então, confessou que amava-o. Por que rejeitara seus sentimentos de forma tão cruel? Ora, ele também fora culpado por ela ter desaparecido. Será, se tivesse a pego em seus braços, e a levada para longe, poderia fazê-la feliz? 

Oh, Stefan só tinha uma missão, e ainda assim, a rejeitou. Tanto que Victor persistiu em manter guardado o precioso segredo deles. O ruivo deveria saber que Vennia o amava. Como ousou renegar o amor daquela dama? O que Victor estava pensando? Ele havia feito o mesmo, quando recusou o amor sincero dela. Se pudesse voltar no tempo, se pudesse convencer a si mesmo, jovem cabeça dura de coração de pedra, a acolher Vennia e aceitar seus sentimentos. Mas agora, ela estava sumida e a culpa também era sua. Somente Deus poderia saber onde ela estava.

As lágrimas transbordavam de seus olhos, molhando a sua face por inteiro. Seus soluços misturando-se com as preces. Pôs toda a sua aflição para fora. Apertou os dedos na gravata, sentindo que ia sufocar. 

— AONDE VOCÊ ESTÁ, VENNIA? — Victor não importava-se se gritava ou não. O sentimento de culpa e saudade era demasiado forte para ficar trancafiado em seu peito.

Ouviu a porta da igreja abrir e logo em seguida, fechar. Rapidamente, esfregou as mãos no rosto, não querendo que nenhuma pessoa o flagrasse em um estado tão frágil.

— Com licença, senhor. Necessitas de ajuda? 

Victor continuava de cabeça baixa. Seria o fim da picada se ela o confundisse com um pedinte. A moça desceu os degraus, ficando de frente para Victor. O rapaz só conseguia contemplar o calçado da donzela e a barra de seu vestido.

— Não pretendo intrometer-me, mas não pude deixar de perceber que estavas chorando — ofereceu um lenço para ele. — O Sr. McBride sempre me disse que chorar é um remédio e tanto.

Quando escutou aquela voz, o coração de Victor saltou em um solavanco. Deveria estar louco, não? Seria uma peça que o destino estava lhe pregando? Victor levantou os olhos, de supetão, e encarou a moça que falava consigo. O susto fora tanto que ficou boquiaberto e por um instante, esqueceu-se de como respirava.

VENNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora