1º Capítulo: Dr. Fraser.

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Glasgow, Escócia, 2018.

Era mais um dia agitado nessa manhã fria do inverno escocês. Carros e pessoas já começavam a tomar as ruas em um ritmo apressado. Eu também me misturava a elas a caminho do meu trabalho. Naquela manhã em especial resolvi caminhar até o laboratório, e apesar do vento frio me cortando o rosto, estava feliz, hoje o dia prometia.

Mas vamos esclarecer logo as coisas, sou o Dr. James Fraser e trabalho em um laboratório de pesquisas científicas, Leoch Lab., e ele é dirigido pelo irmãos Mackenzie, Colum e Dougal, e devido aos punhos de ferro que eles possuem, o laboratório é um dos mais famosos da Europa, sendo assim me orgulho muito em ser um dos integrantes da pequena e seleta equipe que está sempre em busca de novas curas para diversas doenças.

Tenho ótimos parceiros que trabalham comigo nessa empreitada. Dr. Murtagh Fitzgibbons é mais que apenas um parceiro, eu o conheço desde a infância, crescemos no mesmo bairro e nos tornamos grandes amigos, e essa amizade se deve graças a ele que me salvava dos outros meninos da rua que sempre queriam tirar satisfações com o "geek" que ficava fazendo experimentos estranhos no pequeno laboratório improvisado montado em sua garagem. Sim, o "geek" era eu e a ciência sempre esteve presente em minha vida, assim como Murtagh.

A minha outra parceira era a Dra. Claire Beauchamp. Não fazia muito tempo que trabalhávamos juntos, mas a nossa sincronia demonstrava o contrário, tínhamos um ritmo de trabalho alucinante e todos ficavam perplexos como aguentávamos passar tanto tempo naquele laboratório, o que não sabiam é que nem notávamos a hora passar. Ela parecia sempre saber o que eu estava pensando ou o que faltava para completar meu raciocínio, era ótimo trabalhar com alguém assim.

E admirava muito a persistência de Claire, ela era uma das únicas mulheres em nosso setor e eu conhecia Colum e Dougal muito bem para saber que não era fácil conquistá-los, mas ela havia feito isso com uma facilidade e maestria que causavam inveja em muitos homens. Não me interpretem mal, não acho que tenha trabalho feito só para homens e outros só para mulheres, não vejo qualquer diferença em capacidade, mas sabemos que a realidade não é essa e como falei anteriormente, conheço os chefes que tenho e eles são, como posso dizer, tradicionais ao extremo, para não falar outra coisa.

Assim que cheguei ao laboratório, já fui logo à busca da minha primeira xícara de café, sim, primeira, ao longo do dia até perdia a conta de quantas tomava. Enquanto vestia meu jaleco, vi Claire chegando. Às vezes na correria do dia a dia me esquecia do quanto ela era linda, com sua pela clara, cabelos cacheados e incríveis olhos castanhos. E casada. Agora já me lembrei dos motivos de não notar diariamente sua beleza, e essa informação era de total irrelevância ao que fazíamos, estávamos aqui para trabalharmos numa incrível descoberta. E qual era ela? Antes de explicar o que estávamos prestes a conseguir, devo falar sobre a minha especialidade! Eu trabalho com regeneração celular, buscando retardar o envelhecimento das células ou a sua desintegração precoce, mais especificamente, regeneração celular dos neurônios. Complicado? Pode ser um pouco, mas para entender mais fácil tudo o que falei, basta saber que estamos a um passo de conseguir reverter doenças causadas por essa degeneração, como Mal de Parkinson e Mal de Alzheimer.

Como falei antes, estávamos a um passo de conseguir criar um medicamento, um soro, que iria acabar com o grande mal que eram essas doenças para a humanidade. Nossa, estou parecendo um narrador de filme de super herói agora, mas não posso negar que me sinto como um fazendo o meu trabalho. Posso não ser um Superman ou um Batman (apesar de que esse último não possui super poderes, não é? Ok Jamie, esse não é o ponto), mas me sinto como tal.

Estávamos em fase de testes, já havíamos inserido o medicamento em animais. E sim, usamos animais para testes, são ratos de laboratórios nos quais primeiro desenvolvemos as doenças e depois aplicamos o remédio para curá-lo, quer dizer, na tentativa de curá-lo para ver se o remédio funciona. Não vou entrar aqui na discussão se testes em animais é valido ou não. Esse não é o foco, só estou explicando o que eu faço e sua importância.

Mas voltando aos testes. Cada dia estava mais promissor e eu não via a hora de conseguir passar a fase de testes para os humanos, mas para isso tínhamos que conseguir a autorização da OMS (Organização Mundial da Saúde) e era aí que tudo ficava mais complicado, para obter tal autorização tínhamos que mostrar os resultados obtidos nos animais e a dosagem adequada a serem aplicadas as "cobaias" humanas, dosagem da qual eles não sofreriam grandes danos.

Sei que tudo isso pode estar chato, prometo que toda essa explicação cientifica irá acabar logo e as coisas irão ficar mais divertidas! Apesar de que eu já acho tudo isso muito divertido, deve ser por isso que me chamam de geek, né? Mas por mais que possa parecer o contrário, eu possuo uma vida social, pode não estar muito ativa agora, mas eu tenho. Agora voltando ao que estava tentando explicar antes, eu e Claire estávamos ansiosos para os resultados aquele dia:

- Bom dia Jamie! - falou Claire com um sorriso no rosto (ah, por trabalharmos juntos todos os dias por pelo menos um ano, já tínhamos intimidade o bastante para nos chamarmos pelo primeiro nome).

- Bom dia! E ai? Ansiosa para vermos os resultados da última dosagem?

- Claro! Vamos ver como Angus e Rupert estão hoje! - e sim, demos nomes aos ratos.

Entramos na pequena sala onde nossas cobaias ficavam, era tão grande a convivência com os pequenos animais que nem conseguíamos os chamar de outra coisa a não serem os nomes que havíamos dado a eles. Murtagh já estava lá fazendo as anotações do dia e com um sorriso no rosto:

- Vocês estão preparados? - ele perguntou exibindo um sorriso maior ainda no rosto, o que era raro, Murtagh sempre estava sério mesmo quando estava feliz com algo.

- Fala logo cara! Para você estar sorrindo desse jeito de duas uma, ou sua noite foi muita boa depois que saiu do Pub ou conseguimos o resultado que queríamos com o soro! - falei rindo.

- Saiba que minha noite foi boa sim, mas não é por isso que estou feliz, pelo menos não só por isso! - ele riu, mas logo ficando sério, acho que havia expressado toda a sua cota de felicidade pelo dia.

- Vai Murtagh, pare de enrolação e conte logo o que está fazendo você demonstrar esse alto nível de felicidade tão difícil para você! - falou Claire já sem paciência.

- Vocês recordam que Angus estava com falta de movimentos nas duas patas traseiras? E o Rupert demonstrava falta coordenação motora? Agora olhem isso! - ele falou se afastando das gaiolas onde mantínhamos os ratos.

- Angus está andando!! - gritou Claire.

- E Rupert está conseguindo fazer a roda mover!!! - eu gritei também.

Claire olhou novamente para os nossos experimentos e abriu um sorriso maior ainda. A olhei sorrindo de volta e num impulso a abracei, quase a tirando do chão. Passada a euforia, notei o que havia feito e a soltei. Ela apenas sorriu sem graça, assim como eu.

- Falei que a noite tinha sido boa! - falou Murtagh me olhando sério e logo dando um sorriso de canto de boca.

* não poderia deixar de agradecer a Carla Souto Maior por toda a ajuda e inspiração para essa fanfic!! Obrigada minha consultora favorita!! ❤️❤️

Dr. Fraser & Mrs. ClaireWhere stories live. Discover now