2º Capítulo: Mrs. Claire.

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Acordei com um sorriso no rosto. Olhei para o lado e vi que estava sozinha na cama, estranhei e peguei meu celular para ver que horas eram. Não estava nem perto do horário que realmente tinha que acordar, meu despertador estava programado para tocar dali uma hora. Mas ainda estava estranhando o porquê de estar sozinha na cama, Frank só teria que estar na Universidade no mesmo horário em que eu teria que ir para o laboratório.

Resolvi levantar, às vezes ele estava na cozinha tomando café. Mesmo estando curiosa por sua ausência na cama logo cedo, não tive pressa em me arrumar. Tomei um longo e relaxante banho e vesti uma roupa confortável para aguentar as longas horas de trabalho pela frente. Desci as escadas e logo avistei um papel sobre a mesa da sala. Era um bilhete de Frank avisando que teve uma emergência na Universidade e precisou sair mais cedo, mas estava com dó de me acordar para avisar. Sorri ao ler, Frank ainda achava que bilhetes escritos à mão eram mais pessoais que uma mensagem no celular.

Tomei meu café com calma e logo depois parti para o meu destino do dia, Leoch Lab. Esqueci-me de me apresentar, sou Claire Beauchamp, cientista formada pela Universidade de Edimburgo e Ph.D. pela Universidade de Glasgow. Sou infectologista e comecei a trabalhar no laboratório Leoch há pouco mais de um ano. No início estava focada em minha pesquisa em busca de uma cura para a AIDS, mas logo me tornei parte da pequena equipe do Dr. Fraser e agora me dedico 100% a sua pesquisa. Não abandonei totalmente a minha busca pessoal, mas não tinha como não me sentir útil a uma causa tão nobre como essa do Jamie, era realmente uma honra fazer parte desse time.

Como viram, sou casada com o professor doutor Frank Randall. E sim, ainda uso o meu nome de solteira, nunca achei necessário mudá-lo e Frank nunca se incomodou com isso. Havia conhecido Frank pelo meu tio Lamb, que também era professor na mesma Universidade. Aliás, tenho que contar que esse meu tio teve grande importância em minha carreira, foi por crescer com ele que senti a necessidade de ajudar aos outros com o meu conhecimento de ciência. E ele sempre me incentivou a dar tudo de mim ao que acreditava, não me importando com o que achavam.

Vi em Frank os mesmo valores do meu tio e logo começamos um namoro, que logo se tornou um casamento. Nós dois trabalhávamos muito e por isso escolhemos viver juntos logo, para não perder mais tempo de convivência, com namoro e tal. Mas agora vamos voltar a falar do meu trabalho e o porquê de ter acordado feliz hoje.

Estávamos muito próximos de conseguir um medicamento para doenças provocadas por falhas nas sinapses. Agora vamos a uma leve explicação do porque dessa pesquisa do Dr. Fraser, ou Jamie, como preferir, ser tão revolucionária. Os neurônios são responsáveis por realizarem as sinapses e quando estas falham, ocasionam doenças degenerativas, como Mal de Parkinson. Mas porque nossa pesquisa era revolucionária? Neurônios não se regeneram e era isso o que estávamos tentando fazer com esse medicamento. Fantástico, não?

E hoje o dia era importante porque iríamos finalmente ver os resultados do medicamento nos nossos ratos de testes. Cheguei ao laboratório e logo avistei Jamie próximo ao café. Claro, ele sempre estava lá pela manhã, nunca tinha visto alguém tão viciado em café como ele. Tudo bem que o café nos dá a energia necessária para aguentar o dia, mas o consumo dele era coisa de outro mundo e o pior de tudo é que não fazia efeito algum, ele estava sempre calmo e concentrado em tudo o que fazia.

Jamie era o perfeito "geek", como ele se intitulava, só que não. Quem o visse nunca iria imaginar que era um cientista que passava dias internados em um laboratório. Por quê? Porque ele era um homem de 1,90, ruivo, com olhos azuis expressivos e um porte atlético, aliás, ainda gostaria de saber como ele arranjava tempo para fazer exercícios. Não estou falando que para ser inteligente, o homem não pode ser atraente, mas com Jamie a aparência não parecia condizer com o que ele achava que era em personalidade. Mas vamos com calma, eu falei atraente? Veja bem, ele só era meu companheiro de trabalho, meu amigo. Era muito bem casada com Frank.

- Bom dia Jamie! – falei sorrindo.

- Bom dia! E aí? Ansiosa para vermos os resultados da última dosagem? – ele me perguntou com um sorriso no rosto.

Ah, outra coisa que me esqueci de falar sobre o Jamie era isso, seu sorriso. Tinha um ódio dele. Era aquele sorriso que você não conseguia ver sem sorrir de volta, como ele conseguia isso? Às vezes queria me bater por ter pensamentos impróprios quando ele apenas sorria. Acho que já divaguei demais sobre isso, vamos ao que interessa:

- Claro! Vamos ver como Angus e Rupert estão hoje!

Esse era um defeito meu, não conseguia chamar os ratos de cobaias e sempre os nomeava, o que era um erro porque sempre dizem que quando nomeamos, nos apegamos e se apegar a animais que podem morrer ou sofrer em suas mãos não era algo agradável. Logo entramos na sala onde mantínhamos nossos experimentos e demos de cara com Murtagh, o terceiro e último membro de nosso pequeno time.

Dr. Murtagh Fitzgibbons era um ótimo microbiologista e o melhor amigo de Jamie. Eles haviam crescido juntos e mesmo Murtagh sendo um pouco mais velho, eles se davam muito bem. Uma característica marcante do nosso companheiro, além da inteligência, claro, era sua seriedade, para arrancar um sorriso daquele homem precisava ser algo muito espetacular. E foi isso que me assustou quando entramos na sala, ele estava sorrindo e muito:

- Vocês estão preparados? – ele perguntou quando nos viu.

- Fala logo cara! Para você estar sorrindo desse jeito de duas uma, ou sua noite foi muita boa depois que saiu do Pub ou conseguimos o resultado que queríamos com o soro! –falou Jamie estranhando a felicidade absurda do amigo.

- Saiba que minha noite foi boa sim, mas não é por isso que estou feliz, pelo menos não só por isso! – ele riu, mas logo ficou sério. Realmente o sorriso em seu rosto estava me incomodando.

- Vai Murtagh, pare de enrolação e conte logo o que está fazendo você demonstrar esse alto nível de felicidade tão difícil para você! – falei já sem paciência.

- Vocês recordam que Angus estava com falta de movimentos nas duas patas traseiras? E o Rupert demonstrava falta coordenação motora? Agora olhem isso! – ele falou se afastando das gaiolas onde mantínhamos os ratos.

- Angus está andando!! – gritei numa alegria extrema.

- E Rupert está conseguindo fazer a roda mover!!! – Jamie também gritou.

Olhei novamente para nossos experimentos e não conseguir conter o sorriso maior ainda em meu rosto. Jamie olhou para mim e sorriu também, e quando dei por mim ele estava me abraçando tão apertado, me tirando do chão. Fiquei sem reação, nunca tínhamos tido esse tipo de intimidade, mas lembram de quando falei de seu sorriso? Pois bem, o abraço tinha um efeito igual. Qual é seu problema Claire?

Quando nos separamos surgiu logo aquele silêncio constrangedor, apenas interrompido por Murtagh:

- Falei que a noite tinha sido boa!

Dr. Fraser & Mrs. ClaireWhere stories live. Discover now