Parte I - Acordo

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Somos criaturas de hábitos, não podemos viver sem isso
Nós não temos que responder a ninguém

- Creatures - Shinedown

...

O sangue se espalhava pelo chão enquanto Raviel rastejava para se aproximar dos corpos sem alma de sua família. As gargantas de sua mãe e irmã foram cortadas bem a sua frente enquanto o seguravam e desferiam facadas no abdômen.

Ele tentava ao máximo se aproximar de suas amadas, mas a dor intensa, somada a fraqueza da perda de sangue dificultava sua chegada.

Do lado de fora de sua casa havia uma comemoração. Os homens que os assassinaram, haviam pegado toda a carne de sua casa e estavam fazendo uma espécie de churrasco na fogueira improvisada. Era um ritual, que faziam antes de finalizar o serviço, colocando fogo na residência.

Esses homens sentiam prazer no sofrimento alheio, por essa razão deixaram o jovem agonizando e esperavam que permanecesse vivo até que o fogo subisse as paredes. Todas às vezes, restava um com ferimentos, para que os gritos deste ressoassem junto das chamas.

     — Por favor, Deus... me ajude!

A voz de Raviel não passava de um sussurro quando proferiu as palavras e as lágrimas escorriam por seu rosto, limpando por onde passavam. Finalmente, ele conseguiu tocar a pequenina mão de Laisa.

     — Ele não está aqui. Mas eu tenho uma proposta.

O dono da voz calma saiu de um dos cantos escuros da casa. Seus olhos vermelhos como rubis se destacavam no rosto claro, a barba era bem feita com alguns fios brancos e seus cabelos eram lisos e castanhos. Tal homem que vestia sobretudo preto portava uma expressão séria.
Ele caminhou lentamente até Raviel e se abaixou ficando bem próximo ao rapaz.

     — Eu posso te livrar da morte, velhice, lhe dar poder e vingança. Estaria disposto a fazer um acordo para adiar seus momentos finais?

Um sorriso sombrio tomou conta dos lábios ao termino da frase.
O jovem o reconhecia de vista, era um dos homens mais ricos da cidade. Estava relutante em acreditar que aquilo não era apenas um delírio, mas o último benefício do acordo o despertou, tudo o que desejava naquele momento era vingança.

     — E o que... vai me cus-... custar esse acordo?

As palavras saiam com dificuldade, o sangue chegara a boca e o gosto ferroso quase o impedia de formar as palavras de forma correta.

     — Só sua alma.

A resposta veio de forma simples e calma.

     — Eu aceito.

A resposta foi rápida. Não importava o que aconteceria com sua alma. Sabia que se completasse o que intentava por vingança, não poderia ir para o mesmo lugar que seus familiares.

     — Ótimo. Vamos selar o acordo antes que não reste mais vida no seu corpo.

O vampiro cortou o próprio pulso e aproximou ao lábios do jovem lhe dando uma ordem:

     — Beba.

Reunindo as míseras forças que possuía Raviel levou os lábios até o pulso do homem e começou a sugar o líquido vermelho. Inicialmente de forma lenta e receosa, porém o sabor era doce e então ele começou a aumentar a velocidade até que o vampiro retirou o pulso de seu alcance.

     — Já é o bastante, eu ainda preciso dele.

Tão logo o ferimento fechou, o homem cobriu seu pulso e sorriu, olhando para o rapaz que começava a se transformar.

Servo de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora