Parte IX - Escolhas

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Cada história nos diz
Algo sobre quem a contou
Não há um destino a cumprir
Todo escolha diz quem eu sou.
- As escolhas - Lulu Santos
...

Deixando para trás uma pilha de madeiras, corpos e vinganças, Raviel seguia Gabriel enquanto a mente se encontrava perdida na busca de um novo propósito.

O servo não tinha mais razão para continuar a própria existência e isso o fez cogitar a ideia de apenas sentar em um daqueles telhados e olhar o nascer do sol permitindo que seu corpo ardesse até restar apenas uma pilha de cinzas e sua alma tivesse como destino o inferno, onde seria punido pelos seus crimes.

      — Vou te contar uma história e se você falar para Mihina que eu te contei, eu te mato.

Com essas palavras, o vampiro trouxe o servo de volta a realidade.

     — Era uma vez, um casal de crianças de doze e treze anos. A garota era a mais velha e tinha uma doença que a deixava muito debilitada, o garoto trabalhava como podia e às vezes roubava para não deixar faltar alimento em sua casa. Com o passar do tempo, a menina se entristeceu com toda aquela situação e um dia quando o garoto voltou para sua pequena e velha casa encontrou apenas uma folha de papel velha, rasgadas de qualquer forma, com letras machadas por lágrimas...

Por um momento Raviel percebeu um vacilo na voz do narrador, mas ele logo se recuperou e continuou.

     — Ela deu fim a própria vida em um rio que passava próximo a casa. Na carta, entre outras coisas, a garota dizia que não podia mais aguentar assistir ao sacrifício dele sem poder fazer nada e pedia para que o rapaz vivesse a própria vida e se agarrasse em todas as chances de viver... Então, viva um pouco antes de decidir qualquer coisa. Tenho certeza que aqueles que você perdeu não gostariam de te ver desistindo agora e também, o inferno pode esperar mais pouco.

No restante do caminho Gabriel permaneceu em silêncio enquanto o servo ainda não estava convencido se deveria realmente continuar vivo.
Para ele não restava mais nada, mas depois de divagar sobre a situação, seguir o conselho do vampiro não custaria nada, pelo menos até visitar o túmulo de seus familiares mais uma vez.

Ambos chegaram à mansão uma hora antes do nascer do sol e Alphonse prontamente abriu a porta, tendo no olhar a reprovação do estado das roupas rasgadas e sujas de sangue seco.

     — Espero que a missão tenha sido um sucesso.

Este comentou antes de liberar a passagem.

     — Como sempre é...

Gabriel respondeu enquanto entrava, mas logo parou ao avistar uma nova figura sentada numa das poltronas.
Raviel entrou logo em seguida e ouviu o barulho da porta ser fechada quando avistou uma mulher de cabelos loiros e olhos verdes que apesar da expressão neutra tinha um ar misterioso. Esta mulher de roupas negras ajustadas ao comprido corpo estava na companhia de Loudan e Mihina.

     — O que você descobriu Gabriel?
Loudan questionou assim que olhou para o rapaz com a tensão visível em seu rosto.

     — Nós acabamos com os caçadores, mas entre eles tinha um lobo e pelo que pude entender das lembranças deles, os lobisomens estão se organizando para algo maior.

Assumindo uma postura mais séria, Gabriel respondeu seu mestre e observou que a nova mulher ficou nervosa e apertou com força o braço da poltrona. Raviel que assistia tudo em silêncio notou que garras cresciam das unhas dela e cortaram o estofado.

     — Gabriel e Luana, me acompanhem até meu escritório. O restante está dispensado.

Loudan quebrou a tensão que havia se instalado no local ao se levantar e sair, sendo seguido pelos dois que convocara. O mais jovem ficou sem entender o que realmente estava acontecendo, mas não se importava a ponto de ficar com raiva, já que em sua mente a mulher era apenas mais uma vampira.

Servo de SangueWhere stories live. Discover now