Servo de Sangue

Parte VIII - Neve Vermelha

Você tem que sentir coragem
Aceitar a possessão
Se fosse mais fácil despedaçar tudo o que mais importava
Porém não é, pois é sua obsessão

- Cut The Cord - Shinedown

***

O ruído de ossos partindo podia ser ouvido por todos que ainda estavam vivos naquele cenário. Raviel sentia o sangue quente escorrer por grande parte do seu corpo, sujando a camisa social cinza.

O líquido vermelho coloria a neve que caia suavemente na noite. O cheiro metálico aumentava a medida que o lobo pressionava sua mandíbula em volta do ombro e lado esquerdo do tórax do servo.

O jovem teve um pequeno vislumbre do passado. A vida simples da fazenda, quando ainda tinha pessoas para chamar de família. Aquela sensação já era familiar, pouco antes de se tornar um monstro ele visualizou aquelas mesmas lembranças.

Por um momento ele cogitou seguir a correnteza calma que esvaía sua vida, até que o flash doloroso e lento da morte horrível delas passou, e como uma âncora que prende o navio em seu lugar, a raiva engatilhada por essa dor o prendeu nesse mundo, relembrando-o que sua vingança ainda não estava completa.

Os estalos chegaram aos ouvidos de Gabriel que correu até o lobo até que um grito poderoso e sombrio o impedir.

- NÃO!!!

O braço de Raviel se moveu suavemente enquanto a mão recebia o comando de segurar o cabo com firmeza e bruscamente o braço se esticou obrigando o lobo a recuar, quando a espada quase perfurou sua cabeça.

Agora livre da presença do lobo, o vampiro se colocou de pé enquanto o sangue parava de escorrer e as feridas começavam a cicatrizar.

- Ele é meu. Vou fazer ele queimar no inferno hoje!

Gabriel parou de se mover, sentindo a aura de ódio se espalhar pelo ambiente, um humano tremeria de medo ao sentir o clima que se instalara no local.

O caçador sentia seus instintos berrarem para que recuasse no exato momento que os olhos vermelhos frios, brilharam em sua direção, as pernas se moveram sozinhas buscando aumentar a distância.
Com tal cena a risada debochada do servo preencheu o silêncio.

- Então essa sua transformação é só para fugir novamente, seu covarde?

O lobo foi tomado por uma onda de fúria e deixou isso transparecer com um rosnado alto, demonstrando que não estava disposto a fugir do combate.

O sorriso do jovem permaneceu em seu rosto, principalmente pelo fato de suas palavras surtirem o efeito desejado em irritar o lobo.

O vampiro que observava de longe percebeu que o outro servo segurava com firmeza a espada de dois gumes e cabo simples revestido apenas por couro. Seu peito parou de se movimentar, demonstrando a falta de respiração e então o primeiro movimento aconteceu.

As pernas se moveram com passos firmes afundando na camada de neve e apenas um segundo depois o lobo também se movimentou avançando na direção do vampiro.

Quando a distância que os separava era aproximadamente três metros, o lobo saltou com a mandíbula aberta, com dentes expostos e prontos para agarrar e dilacerar sua presa, que flexiona a perna direita e saltou também, ele parecia ler os movimentos do caçador e com um movimento sutil e rápido da espada os dois voltaram ao chão invertendo as posições iniciais.